São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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Diversões eletrônicas

Três mostras de arte digital em São Paulo atraem público mais jovem

Interatividade seduz grande parte dos visitantes em exposições realizadas na galeria do Sesi, no Paço das Artes e no Itaú Cultural


Lalo de Almeida/ Folha Imagem
Maurício Liesen, 22, Katia Fonsaca, 22, e sua irmã Karina, 19, interagem com a obra "Thesystemis", de Zachary Lieberman, no File


ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Parado em frente a um telão, um grupo de pessoas se dobra de rir ao ver seus rostos projetados no corpo dos personagens de uma animação. Do outro lado da sala, uma moça dá piruetas em frente a uma parede branca, onde sua sombra se transforma numa planta. As duas cenas ocorreram num parque de diversões, certo?
Errado: elas aconteceram na última quinta, durante visita ao Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File), que ocupa a galeria do Sesi. Assim como outras mostras de arte digital em cartaz na cidade, o File tem recebido um público que se sente atraído, principalmente, pela possibilidade de participar da obra.
"Sempre vou a exposições no Masp, na Pinacoteca, mas é tudo muito parado. Depois de 20 minutos, estou enjoado. Aqui é mais dinâmico, poderia passar a tarde toda", contou Carlos Adan, 42, que se divertia com o amigo Marcelo Reis, 29, na instalação "Tantal". A obra do espanhol Marcel.lí Antúnez Roca é a tal que transfere a face das pessoas para a animação.
Outro hit do File é "Thesystemis/Drawn", do norte-americano Zachary Lieberman, que encanta os espectadores pela possibilidade de eles transformarem seus desenhos em formas animadas. "Aqui dá para interagir, tocar, construir a obra junto com o artista", descreveu a estudante Katia Fonsaca, 22, que gastou bons minutos criando animações nessa instalação.
Fonsaca veio da Paraíba com a irmã Karina Fonsaca, 19, e o amigo Maurício Liesen especialmente para a visita ao File. "A nossa geração vive muito isso: sair da contemplação para a participação", falou Liesen, 22.
Nem todas as 20 instalações do festival são tão sedutoras. Algumas, como "Heavy Industries", uma poesia digital da artista coreana Yang-Hae Chang (que também participa da Bienal de São Paulo deste ano), são mais reflexivas. Outras, como "Tecnocroma", da brasileira Zalinda Cartaxo, uma torre iluminada que muda de cor com a passagem do espectador, são sem graça.

Família
A possibilidade de interagir com os trabalhos, de criar a partir deles, altera um pouco o perfil do público que visita esses eventos, formado essencialmente por jovens estudantes, além de pais com crianças.
O Itaú Cultural, que abriga a bienal de arte e tecnologia "Emoção Art.ficial", já recebeu cerca de 34 mil visitantes desde 18/7. No mês de julho, a molecada lotou a exposição, por conta das férias escolares.
Como no File, a maior parte das obras expostas no Itaú são participativas. Entre elas, destacam-se peças como "Life Writer", parceria entre a belga Christa Sommerer e o francês Laurent Mignonneau. Eles criaram uma máquina de escrever que, em vez de letras, produz imagens luminosas.
"O público daqui é de jovens, que estão interessados na linguagem deles. Nas ferramentas desse tempo", afirma a curadora Daniela Bousso sobre o Paço das Artes, outra instituição que tem a tradição de promover mostras de arte digital.
Atualmente, o Paço mantém a "Geração Transterritorial", exibição que reúne criações de jovens artistas brasileiros e alemães, e é resultado de uma parceria com o centro alemão KHM - Academy of Media Arts.
As instalações foram feitas por artistas bastante jovens, de vinte e poucos anos, recém-formados no curso de Tecnologia e Mídias Digitais da PUC-SP.
Assim como as obras das duas exposições citadas, as do Paço apostam na interatividade, como "Veneza", de André Figueiredo, que convida o espectador a dar um passeio pela cidade italiana, por meio de um dispositivo acionado quando a pessoa coloca a mão na água ou sopra um cata-vento.
"O brasileiro é muito aficionado por tecnologia", comenta Bousso, que também é diretora do Paço. "Temos que promover arte e tecnologia porque faz parte dessa realidade."


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