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ARTES PLÁSTICAS
Elizabeth Jobim busca elaborar uma experiência presente sem se deixar levar pela figura reconhecível
Evolução das linhas questiona o palpável
TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA
O agigantamento da presença institucional nas artes
plásticas promoveu uma inversão
de prioridades no meio. Se antes
um curador de exposição, ao
agrupar trabalhos de diferentes
artistas, buscava organizar um
panorama de questões e desdobramentos que a arte de determinado conjunto propunha, hoje
sua figura se desmesurou, tornando-se ele proprietário do discurso
onde a arte deve se encaixar. A reflexão, muitas vezes, parece anteceder a produção, o que lhe dá papel de coadjuvante, a reboque.
No Brasil, tal deslocamento se
articula com uma forma pouco
produtiva de inserção no circuito
internacional: uma espécie de
submissão da produção a preceitos e questões distantes e pouco
relevantes à produção nacional.
Na realidade, tal preocupação
revela um desejo de atualização
que procura atingir as questões da
contemporaneidade não através
dos problemas do próprio trabalho, nem de uma tentativa de
adensamento da obra, mas pela
submissão a vogas internacionais.
O trabalho que Elizabeth Jobim
mostra no Centro Universitário
Maria Antônia também busca
constituir uma experiência contemporânea, mas aqui isso tem
sentido forte. A obra, pelo adensamento de suas questões, tenta
elaborar uma experiência presente. O painel de papéis pintados e
montados na parede, de certo
modo, constitui uma radicalização de questões com que a artista
lida ao menos há 10 anos.
É possível que esse trabalho não
supere nem em qualidade nem
em complexidade os quadros que
ela exibiu em 2000, no Gabinete
de Arte Raquel Arnaud. No entanto, sem dúvida, o novo trabalho representa uma tentativa de
pensar com mais força as possibilidades abertas pelo anterior. E,
nisso, aponta novos problemas.
Nos trabalhos de 2000, a pincelada mais grossa e colorida tentava manter a fluência da linha delgada dos quadros anteriores -a
diferença é que a linha passa a pesar. Se na obra anterior a forma
parece procurar um lugar onde o
contorno do sólido não impeça a
fluência brincalhona da linha
(aliás, aparecendo como uma peripécia dela), depois o gesto passa
a parecer excessivo.
O movimento do pincel não se
identifica mais com o contorno
lânguido. Os traços tentam preservar uma continuidade linear
que aproxima os volumes e lhes
dá um corpo único, retirando a
memória de seu referente, lhes
dando outro estatuto. A pincelada
é pesada, diluída e encharcada; ao
tentar conformar os sólidos escorre, se abranda e perde o caminho. Mas um gesto vigoroso os recupera para o desenho, dando a
feição meio entumecida e desabante aos objetos.
Como se a descrição de um objeto tivesse que incorporar o que
ele tem de não evidente e fugidio
para lhe constituir sentido. A pintura incorpora as intempéries e a
impossibilidade de o traço se tornar coisa para construir poeticamente um modo da vida, permeada por imagens distantes, se tornar palpável.
No trabalho exposto na Maria
Antônia há a dúvida desta palpabilidade. A artista se esforça para
atribuir uma certa realidade às
coisas, mas que escape a toda evidência que possa reduzi-la a uma
imagem reconhecível. Para isso, a
artista incorpora o invisível. A superfície aparece em pedaços. A
continuidade entre as formas ainda é modestamente narrada, mas
de forma não-linear.
Os contornos delimitam pequenas áreas recortadas que se juntam para dar inteireza aos fragmentos. As formas parecem passar umas por detrás das outras, e,
mesmo, por detrás do papel. Continuam após momentos de interrupção, depois de passarem por
folhas todas em branco.
Elizabeth Jobim tenta amarrá-los, sem lhes retirar o que têm de
particular. Como se reunidos, eles
pudessem, mesmo em adversidade, designar um outro espaço, incorporando todas as resistências e
dificuldades para a constituição
forte de um sentido, que esteja
além da mineralidade do referente e da generalidade do nome.
Amplitude
De fato, o trabalho é difícil de ser
visto como uno. É amplo, recortado e repleto de intervalos, se articulando também entre os espectadores. Esses, vendo-se permeados pelo trabalho, podem aprender a retirar daquelas pedras um
modo de dispor do mundo mais
amplo que tenta dar conta mesmo dos desmentidos e acasos que
fazem da vida algo muito diferente dum amontoado de certezas.
Elizabeth Jobim
Onde: Centro Universitário Maria
Antônia (r. Maria Antônia, 294, 2º andar, tel. 0/xx/11/3237-1815)
Quando: de seg. a sex., das 12h às 21h;
sáb. e dom., das 9h às 21h; até amanhã
Quanto: entrada franca
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