São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

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Argentinos apresentam tango com atitude punk

Pela primeira vez no Brasil, Orquestra Típica Fernández Fierro toca de sexta a domingo, no auditório Ibirapuera

Grupo diz que, entre as sonoridades do tango, escolheu a orquestra por ela ser a mais próxima de uma banda de rock atual

Divulgação
Integrantes da Orquestra Típica Fernández Fierro, que usam visual atípico para o tradicional tango


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quem os vê com os cabelos compridos, dreadlocks, piercings e atitude de roqueiros, custa a acreditar que eles possam tocar tango tradicional. Esse visual descolado ajudou a Orquestra Típica Fernández Fierro a chamar atenção na cena "tanguera" de Buenos Aires, Argentina, mas foi a musicalidade da banda que fez dela uma atração cultuada.
Pela primeira no Brasil, a orquestra portenha vai se apresentar de sexta a domingo, no auditório Ibirapuera. A abertura dos shows ficará por conta da Orquestra Popular de Câmara, que retorna aos palcos após um ano sabático. O pianista gaúcho Arthur de Faria, expert em ritmos sulistas e platinos, será o mestre de cerimônias.
Idealizador do encontro das duas orquestras, o produtor e pianista paulista Benjamim Taubkin conta que se surpreendeu ao ouvir pela primeira vez os tangos da Fierro, ao vivo, na capital argentina.
"A atitude deles é de grupo pop, mas, quando o show começou, fiquei impressionado. A música da orquestra me encantou porque tem frescor, irreverência e, ao mesmo tempo, muita qualidade", avaliza o pianista da Orquestra Popular de Câmara.
Charly Pacini, violista da Fierro, comenta que, entre as diversas sonoridades do tango, escolheram a orquestral por ser ela a que mais se aproxima de uma banda de rock. "Numa orquestra você têm muitos matizes para trabalhar, muito mais groove", justifica.
Apesar de seus 12 integrantes terem crescido ouvindo rock, ou até de, paralelamente, também tocarem em bandas desse gênero, a orquestra não assume o rótulo de "tango punk" com o qual alguns fãs se referem a ela.
"Não nos apresentamos assim", rebate o violinista Pablo Jivotovschii. "Somos uma orquestra de tango que não se rege pelo que impõe o sistema, que se veste de maneira pouco formal, que tem um certo humor negro, anarquismo no palco e violência no som. Não fazemos tango para agradar nossas mães. Isso é ser punk? Então somos punk", ironiza.

Modernização
Ao contrário de outras bandas de tango atuais, que vêem na eletrificação um caminho para modernizá-lo, os integrantes da Fierro acreditam que, para soar contemporâneos, não precisam deixar a formação acústica das orquestras tradicionais do gênero -no caso, quatro bandoneons, três violinos, viola, violoncelo, contrabaixo, piano e um cantor.
"Modernizar o tango não passa por tocá-lo com um computador, mas sim por transmitir sensações, por falar do que estamos vivendo", afirma Pacini. "Se você só pensa em modernizar, na certa o resultado será um experimento de laboratório ou uma música forçada.
Preferimos buscar isso aos poucos, com sinceridade e evitando os clichês do gênero que tanto nos assustavam quando éramos garotos", completa Jivotovschii.
Essa reverência frente à tradição do tango é evidente no repertório da Fierro. "Mucha Mierda" (2006), seu terceiro álbum, inclui compositores clássicos do gênero, como Enrique Discépolo ("Canción Desesperada") e Osvaldo Pugliese ("Recuerdo"), mas também há espaço para o contemporâneo Astor Piazzolla ("Buenos Aires Hora Zero").
Batalhador por uma aproximação maior entre músicos da América Latina, Taubkin acha que projetos desse tipo são essenciais para alcançar essa integração. "Você sente o desejo de que ela exista, mas tem que haver um esforço para isso", diz, referindo-se à sua atual experiência com o grupo América Contemporânea, formado por músicos sul-americanos de sete países. Seu primeiro álbum, já lançado aqui, também está saindo nos EUA e na Europa.

ORQUESTRA TÍPICA FERNÁNDEZ FIERRO
Quando:
sex., às 21h; sáb. e dom., às 20h30
Onde: auditório Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nš, portão 2, parque Ibirapuera, tel. 6846-6000)
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)


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