São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2009

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Crítica/"As Testemunhas"

Em filme sobre a Aids, Téchiné sabe valorizar emoções dos personagens

Divulgação
Johan Libéreau e Sami Bouajila em cena de "As Testemunhas"

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

A personagem de Emmanuelle Béart tecla com fúria sua máquina de escrever, com a música acompanhando seu ritmo, na abertura de "As Testemunhas". Em uma só imagem, há um bocado de informações, a começar pelo fato de que ela é escritora (e, como nos conta em off a história do filme, talvez a tenha aproveitado para um livro).
Como não usa computador, estamos na era anterior aos processadores de texto. E, por fim, seus modos intensos caracterizam tanto Sarah, a escritora, quanto o tom do que acompanharemos: a ciranda de alegria e dor de um grupo de amigos em Paris, do verão de 1984 até o de 1985, sob o signo da propagação da Aids.
Em duas grandes partes e um epílogo, conhecemos Sarah e o marido policial (Sami Bouajila) -que acabam de ter o primeiro filho-, seu amigo médico (Michel Blanc) e um jovem do interior recém-instalado na cidade (Johan Libéreau), cuja irmã (Julie Depardieu, filha de Gérard) estuda canto.
A passagem dos "bons tempos" vividos por eles para um estado de "guerra" (contra a Aids) lembra, ao reconstituir a escalada da doença na Europa, o que fizeram nos EUA longas como "Meu Querido Companheiro" (1990) e "Filadélfia" (1993), além do telefilme "E a Vida Continua" (1993).
Exibido na 31ª Mostra Internacional de São Paulo, em 2007, "As Testemunhas" se diferencia por uma abordagem que valoriza a montanha russa emocional dos personagens -impactada pela Aids, mas não determinada por ela. A doença passa por eles como outras tormentas o fariam, e costumam fazê-lo no universo do diretor e roteirista André Téchiné ("Os Ladrões", "Alice e Martin").
Ex-crítico da revista "Cahiers du Cinèma", ele atingiu o ponto alto da carreira com "Rosas Selvagens" (1994), sobre outra ciranda entre amigos, ambientada no início dos anos 60 na França, e que obteve o César de melhor filme, direção e roteiro. Sua produção dos anos 2000, no entanto, tem circulado no Brasil quase só em festivais. "Testemunhas" mostra o que perdemos com isso.


Avaliação: bom


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