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"ENCONTRO DE AMOR"
Filme requenta sonho americano
Divulgação
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Cena do filme "Encontro de Amor", do diretor Wayne Wang, que tem a atriz Jennifer Lopez, como Marisa Ventura, no elenco (à esq.) |
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Jennifer Lopez é Marisa Ventura, uma mãe solteira, dedicada e afetuosa, e uma proletária
disciplinada. Ventura trabalha
como camareira no hotel de luxo
em que se hospeda o personagem
de Ralph Fiennes, Chris Marshall.
Deputado republicano que pleiteia uma vaga no Senado, Marshall é um playboy descendente da
elite política americana, isto é, um
presidenciável em potencial.
"Encontro de Amor" é um filme
retrô do gênero "boy meets girl",
à velha moda da Hollywood clássica. Lopez é a nova Sabrina (a
personagem de Audrey Hepburn
no clássico, de mesmo nome, de
Billy Wilder), a borralheira que vive sua noite de conto de fadas
com o príncipe (des)encantado e
depois dá o perdido.
E para provar que o que se encena aqui não é senão a tradição
hollywoodiana (isto é, um modelo vazio), tudo começa com uma
"mascarada", com Ventura travestindo-se de grã-fina e tornando-se visível, enfim, ao playboy.
Como nem os atores, nem o diretor Wayne Wang parecem levar
a empreitada muito a sério, o que
resta é apenas uma versão requentada, às pressas, em microondas, do sonho americano.
Nesse sentido, a promoção que
a esforçada Ventura recebe em
seu trabalho, de camareira a gerente de hotel, chega a ser mais inverossímil que seu romance de alcova com o futuro senador. É como se os roteiristas do filme quisessem tornar factível, de um jeito
ou de outro, o sonho de ascensão
social da protagonista.
Já o filho desta, um garoto que
vive às voltas com um trabalho escolar sobre Richard Nixon (outro
republicano loroteiro), é do tipo
que sonha em chegar à presidência. A função desse personagem
parece ser a de reavivar o ideal democrático americano.
"Encontro de Amor" pretende
vender aos chicanos (representados por Lopez), a mão-de-obra
barata da América, a ilusão de que
um dia poderão ascender ao andar de cima e coabitá-lo com a elite "wasp" (branca, anglo-saxã e
protestante), representada, no filme, pelo personagem de Fiennes.
Tudo se passa, por aqui, como
se não existisse, na América, um
abismo (cada vez maior) entre ricos e pobres, entre a classe dirigente e a trabalhadora. Hollywood está, definitivamente, de
volta ao cinema-ópio. Em tempos
de guerra ou de recessão, a alienação entra em alta no mercado.
Mas foi-se o tempo em que os
encantos inebriantes dos musicais e contos de fadas hollywoodianos se confundiam com o sonho americano. Decretar a doença e morte do "american way" pode até ter se tornado uma moda
entre os jovens cineastas americanos de hoje, mas nada parece reforçar mais uma tal convicção do
que a hipocrisia retrô de filmes
como "Encontro de Amor".
Encontro de Amor
Maid in Manhattan
Produção: EUA, 2002
Direção: Wayne Wang
Com: Jennifer Lopez, Ralph Fiennes
Quando: em cartaz nos cines Center
Iguatemi, Marabá e circuito
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