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São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2003

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"ENCONTRO DE AMOR"

Filme requenta sonho americano

Divulgação
Cena do filme "Encontro de Amor", do diretor Wayne Wang, que tem a atriz Jennifer Lopez, como Marisa Ventura, no elenco (à esq.)


TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

Jennifer Lopez é Marisa Ventura, uma mãe solteira, dedicada e afetuosa, e uma proletária disciplinada. Ventura trabalha como camareira no hotel de luxo em que se hospeda o personagem de Ralph Fiennes, Chris Marshall. Deputado republicano que pleiteia uma vaga no Senado, Marshall é um playboy descendente da elite política americana, isto é, um presidenciável em potencial.
"Encontro de Amor" é um filme retrô do gênero "boy meets girl", à velha moda da Hollywood clássica. Lopez é a nova Sabrina (a personagem de Audrey Hepburn no clássico, de mesmo nome, de Billy Wilder), a borralheira que vive sua noite de conto de fadas com o príncipe (des)encantado e depois dá o perdido.
E para provar que o que se encena aqui não é senão a tradição hollywoodiana (isto é, um modelo vazio), tudo começa com uma "mascarada", com Ventura travestindo-se de grã-fina e tornando-se visível, enfim, ao playboy.
Como nem os atores, nem o diretor Wayne Wang parecem levar a empreitada muito a sério, o que resta é apenas uma versão requentada, às pressas, em microondas, do sonho americano.
Nesse sentido, a promoção que a esforçada Ventura recebe em seu trabalho, de camareira a gerente de hotel, chega a ser mais inverossímil que seu romance de alcova com o futuro senador. É como se os roteiristas do filme quisessem tornar factível, de um jeito ou de outro, o sonho de ascensão social da protagonista.
Já o filho desta, um garoto que vive às voltas com um trabalho escolar sobre Richard Nixon (outro republicano loroteiro), é do tipo que sonha em chegar à presidência. A função desse personagem parece ser a de reavivar o ideal democrático americano.
"Encontro de Amor" pretende vender aos chicanos (representados por Lopez), a mão-de-obra barata da América, a ilusão de que um dia poderão ascender ao andar de cima e coabitá-lo com a elite "wasp" (branca, anglo-saxã e protestante), representada, no filme, pelo personagem de Fiennes.
Tudo se passa, por aqui, como se não existisse, na América, um abismo (cada vez maior) entre ricos e pobres, entre a classe dirigente e a trabalhadora. Hollywood está, definitivamente, de volta ao cinema-ópio. Em tempos de guerra ou de recessão, a alienação entra em alta no mercado.
Mas foi-se o tempo em que os encantos inebriantes dos musicais e contos de fadas hollywoodianos se confundiam com o sonho americano. Decretar a doença e morte do "american way" pode até ter se tornado uma moda entre os jovens cineastas americanos de hoje, mas nada parece reforçar mais uma tal convicção do que a hipocrisia retrô de filmes como "Encontro de Amor".


Encontro de Amor
Maid in Manhattan
 
Produção: EUA, 2002
Direção: Wayne Wang
Com: Jennifer Lopez, Ralph Fiennes
Quando: em cartaz nos cines Center Iguatemi, Marabá e circuito



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