São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2008

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Crítica/cinema/"Apenas uma Vez"

Eixo da história, música é trunfo e camisa-de-força

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Aleluia: não é Nova York, Los Angeles, Paris ou Londres o cenário de "Apenas uma Vez". O diretor e roteirista irlandês John Carney ("À Beira da Loucura") ambienta a história em Dublin, tratada com um sentimento carinhoso que ressalta suas diferenças em relação às megalópoles impessoais habitualmente vistas no cinema.
Nessa produção independente, feita em suporte digital -em apenas três semanas- e orçada em meros 100 mil (cerca de R$ 260 mil), a cidade tem status de personagem ao permitir em suas ruas o encontro e a criação de cumplicidade entre um músico amador (Glen Hansard) e uma imigrante tcheca (Markéta Irglová).
Ele está em casa. Durante o dia, ajuda o pai em uma loja de conserto de aspiradores. Depois do expediente, ganha alguns trocados interpretando canções românticas em um calçadão do centro. Ela está bem longe de casa e do marido, obrigada a pegar trabalhos avulsos para manter a mãe e a filha pequena em um país estranho.
Na lógica implacável do capitalismo, ambos são "perdedores" que dividem dramas e sonhos por meio da música. Carney ergue a história em torno de canções, ao mesmo tempo trunfo (trilha sonora popular e Oscar pelo tema principal, "Falling Slowly") e camisa-de-força (por limitar o desenvolvimento dos personagens).
Tamanha ênfase, ainda que sintonizada com o que move esse romance peculiar, faz com que "Apenas uma Vez" exija mais disposição (e atenção) dos ouvidos do que dos olhos.


APENAS UMA VEZ
Produção:
Irlanda, 2006
Direção: John Carney
Com: Glen Hansard, Markéta Irglová e Hugh Walsh
Onde: cine Bombril, cine UOL Lumière, Reserva Cultural e circuito
Avaliação: regular


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