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Crítica/cinema/"Apenas uma Vez"
Eixo da história, música é trunfo e camisa-de-força
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Aleluia: não é Nova York,
Los Angeles, Paris ou
Londres o cenário de
"Apenas uma Vez". O diretor e
roteirista irlandês John Carney
("À Beira da Loucura") ambienta a história em Dublin,
tratada com um sentimento carinhoso que ressalta suas diferenças em relação às megalópoles impessoais habitualmente vistas no cinema.
Nessa produção independente, feita em suporte digital
-em apenas três semanas- e
orçada em meros 100 mil
(cerca de R$ 260 mil), a cidade
tem status de personagem ao
permitir em suas ruas o encontro e a criação de cumplicidade
entre um músico amador (Glen
Hansard) e uma imigrante
tcheca (Markéta Irglová).
Ele está em casa. Durante o
dia, ajuda o pai em uma loja de
conserto de aspiradores. Depois do expediente, ganha alguns trocados interpretando
canções românticas em um calçadão do centro. Ela está bem
longe de casa e do marido, obrigada a pegar trabalhos avulsos
para manter a mãe e a filha pequena em um país estranho.
Na lógica implacável do capitalismo, ambos são "perdedores" que dividem dramas e sonhos por meio da música. Carney ergue a história em torno
de canções, ao mesmo tempo
trunfo (trilha sonora popular e
Oscar pelo tema principal, "Falling Slowly") e camisa-de-força (por limitar o desenvolvimento dos personagens).
Tamanha ênfase, ainda que
sintonizada com o que move
esse romance peculiar, faz com
que "Apenas uma Vez" exija
mais disposição (e atenção) dos
ouvidos do que dos olhos.
APENAS UMA VEZ
Produção: Irlanda, 2006
Direção: John Carney
Com: Glen Hansard, Markéta Irglová e Hugh Walsh
Onde: cine Bombril, cine UOL Lumière, Reserva Cultural e circuito
Avaliação: regular
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