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ERUDITO
Ópera apresentada em SP pela última vez em 63 terá quatro récitas
Após 40 anos, Verdi volta a fazer rir, com "Falstaff"
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
É até banalizante lembrar que
Giuseppe Verdi (1813-1901) foi a
grande referência musical e romântica da Itália no século 19. Ou
então mencionar os vagões-cisternas de lágrimas sinceramente
vertidas com o desfecho de seus
dramas e tragédias.
Mas eis que em 1893, passados
13 dias de seu 80º aniversário,
Verdi estreava no Scala de Milão o
último de seus 26 trabalhos para o
mundo lírico, e que seria, paradoxalmente, uma deliciosa comédia.
"Falstaff", com libreto de Arrigo
Boito, baseou-se em duas conhecidas peças de William Shakespeare, "As Alegres Comadres de
Windsor" e "Henrique 4º".
A ópera foi pela última vez encenada em São Paulo em 1963, lá
se vão 40 anos. Há sete anos, em
razão da crise financeira da prefeitura, foi executada em versão
de concerto, sem cenários ou figurinos, mas com a regência de
Isaac Karabtchevsky.
Ela volta hoje à noite ao Teatro
Municipal, com direção musical
de Ira Levin e direção cênica de
José Possi Neto. A temporada terá
quatro récitas.
Sir John Falstaff, o personagem-título, é um nobre falido e absolutamente acrítico com relação à
própria decadência. Além disso,
ele é feio, velho e gordo.
Mas não se torna um estereótipo de chanchada operística porque sua origem shakespeariana o
enriquece com sutis ambiguidades. Falstaff é também ingênuo,
crédulo quanto à consistência real
de seus sonhos, avesso ao fatalismo segundo o qual a aventura e o
amor seriam coisas reservadas
aos mais jovens e mais belos.
"Tudo na vida é burla", diz ele
numa das passagens mais conhecidas. "Todos os homens riem
dos demais mortais, mas ri melhor quem ri a risada final."
A ação deveria, em princípio, se
passar entre o final do século 14 e
o comecinho do século 15. Mas o
diretor José Possi a transplantou
para fins do século 19.
Foi o período em que a própria
ópera foi escrita. "Acredito que
Verdi e Boito prenunciam com
ela um cinismo e uma amargura
jocosa que caracterizariam em seguida o século 20", diz Possi.
A nova montagem paulistana
não cai na tentação das abstrações. Como o público praticamente desconhece a história, é
preciso assumir cada ingrediente
da narrativa de forma explícita,
didática. E para tanto os cantores
escolhidos formam, pelo desempenho anterior, um elenco de
também bons atores.
O papel de Falstaff é cantado pelo barítono norte-americano Frederick Burchinal, que esteve em
São Paulo em 1997, como Scarpia,
numa "Tosca", de Pucini. É um
cantor de primeiríssima linha,
com três aparições na atual temporada do Met de Nova York. Os
demais intérpretes são brasileiros.
Alícia, cortejada pelo bufão, será a soprano Eyko Senda. Seu marido ciumento, Ford, será cantado
pelo barítono Manuel Álvares.
Nannetta, a filha do casal, o será
pela soprano Rosana Lamosa, e
Fenton, o amante dela, pelo tenor
Fernando Portari.
Estarão ainda no elenco o tenor
Mauro Wrona (Dr. Caius), o baixo Sávio Sperandio (Pistola) e as
meios-sopranos Luciana Bueno
(Meg Page) e Regina Elena Mesquita (Mrs. Quickily).
FALSTAFF. Quando: hoje, sexta e terça
(27), às 20h30; domingo, às 17h. Onde:
Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/nº, centro, tel. 222-8698).
Quanto: de R$ 15 a R$ 100. Vendas por
telefone: 6846-6000.
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