São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

"Arte Aventura" reúne as pedras da produção atual da artista e uma breve retrospectiva de sua obra

Amelia Toledo amadurece conservadora

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Arte Aventura" é mostra grutesca. Cristais e rocalhas conformam a produção atual de Amelia Toledo, exibida na galeria Nara Roesler, junto a uma breve retrospectiva de sua obra.
Durante a década de 50, a artista formou-se em escultura, pintura, gravura e joalheria. Mas, a partir dos anos 60, alinhou-se à Nova Objetividade Brasileira na crítica aos formatos tradicionais do objeto de arte.
"Glu Glu" (1968) testemunha aquele período. Uma garrafa de vidro com três compartimentos esféricos interligados contém água e detergente. Ao virar o recipiente, o visitante vê o líquido espumante correr entre as cavidades, fazendo vez por outra um barulho similar ao título onomatopéico. "Mundo de Espelhos" (1966/2004) é a peça mais antiga do conjunto. Evidencia a permanência da prática construtiva no experimentalismo plástico: quadrados de inox fendidos encaixam-se qual jogo de armar, refletindo-se entre si ao infinito. A "Medusa" (1969) dos cabelos de mangueira plástica cria unidades cromáticas modulares pela intercalação de água e óleo coloridos.
A memória da ditadura ecoa na exposição. "As Paredes Têm Ouvidos" (1975) é grupo de 11 moldes de orelha em resina translúcida colados nas paredes, em várias alturas. O múltiplo repete-se em todas as salas.
Entretanto a produção recente retorna a formatos tradicionais. As pinturas abstratas sobre tela de aniagem tendem a uma cor dominante, seja o branco ou o laranja. Na série "Impulsos" (2004), diversas pedras são incrustadas em base de concreto, qual esculturas sobre pedestal, alternando superfícies polidas e brutas, verdes e rosas. As impressões digitais, como "Natureza e Artifício" (2004), criam padrões geométricos com imagens de diferentes rochas.
Por outro lado, formas orgânicas são entremescladas às pedras. O "Poço dos Ouriços" (2004) registra em poliéster a carapaça pontilhada do animal marinho, criando convexidades transparentes apoiadas sobre fundo de areia branca. Também no "Caleidoscópio" (1992), placas sinuosas de aço reluzente fazem um biombo de espelhos curvos, deformando variadamente a imagem do espectador.
O grupo de obras selecionadas mostra uma trajetória que tende a um maior conservadorismo à medida que amadurece.


Amelia Toledo
   
Onde: galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, Jardim Europa, tel. 3063-2344) Quando: seg. a sex.: 10h às 19h; sáb.: 11h às 15h; até 3/7 Quanto: entrada franca



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