São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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Individuais de Leonilson e Edith Derdyk discutem espaço e forma

Maria Antonia exibe ainda Alexis Iglesias, Sofia Borges e Fernando Lindote

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Edith Derdyk estava cansada de carregar o mar. Foram duas toneladas, 13 mil folhas de papel, que a artista arrastou até o segundo andar do Maria Antonia -elas formam uma onda branca imensa que esbarra numa chapa de aço de 200 kg, escorada nas duas colunas que dividem a sala ao meio.
"Eu quis uma situação de desmedida, algo que buscasse um espaço que não acaba", conta a artista, fixando os olhos azuis na montanha de folhas da instalação "Se o Mar Inteiro Sob o Leito de um Rio".
É uma das cinco individuais que o Centro Universitário Maria Antonia abriu ontem, dividindo seu espaço entre mostras paralelas de Leonilson, o cubano radicado no Brasil Alexis Iglesias, Fernando Lindote e a jovem Sofia Borges.
"Essa brancura, esse vazio dá uma idéia de imensidão", descreve Derdyk, que aqui parece esparramar pelo chão a instalação "Onda Seca", já montada na Pinacoteca. "A gente se sente sozinho diante disso tudo."
É o mesmo sentimento que aparece nos 30 desenhos de Leonilson (1957-1993), que ocupam a sala ao lado. No lu- gar dos bordados que marcaram a trajetória do artista, estão expostas folhas brancas com pequenos desenhos perdidos no espaço.
"Oceano, Aceita-me?" é a pergunta que ele faz na obra que mostra um rio minúsculo desaguando no mar, como que se estendesse para dentro da própria solidão -e diluísse no próprio sofrimento- a onda desmedida de Derdyk.
Tal carência, às vezes latente, às vezes exacerbada, perpassa toda a obra do artista, vitimado pela Aids em 1993. "Da Qualidade de Ser Forte", que fez dois anos antes de morrer, parece antecipar sua partida: sobre as ondas de um oceano diminuto, um barco flutua à deriva.
"É a vontade de lançar as coisas ao atrito, lançá-las à própria morte", resume o curador Carlos Eduardo Riccioppo. Na obra do cubano Alexis Iglesias, que ocupa outra sala no segundo andar, é o suporte e sua dimensão física que parecem invadir o sujeito. Ele desenha caixas dentro de salas vazias na série "Para Ver a Ilha", mas dobras e rasgos na folha de papel acabam determinando o rumo das linhas que contornam os objetos. "Sou um cubano no Brasil, então essas caixas recolheram minha cultura para trazê-la para cá", diz Iglesias.

Vibrações distorcidas
No andar de baixo, o atrito está no tempo. Sofia Borges se espreme entre possibilidades analógicas e digitais para criar nove fotografias. O aparato tecnológico, softwares e lentes, é empregado para anular a própria precisão: no lugar da nitidez, o desfoco; no lugar da luz calculada, sombras e cores em vibrações distorcidas.
"Misturo os tempos de exposição dos objetos, e isso vai reforçando esse limbo entre as imagens", diz Borges. "Eu gosto dessa esquizofrenia." A própria artista está nas cenas que retrata. Embora não haja linha narrativa, parece haver uma trama absurda, que sublinha o prosaico: são objetos e cenários domésticos que, nas imagens, ganham uma energia transbordante, exacerbada pelo jogo entre tons quentes e frios, clareza e ambigüidade.
Do lado de fora, numa espécie de ante-sala dessa alcova, Fernando Lindote também joga com os contornos, fazendo brigar orgânico e maquínico. Com fita isolante, o artista desenha no chão, teto e paredes formas geométricas que se transformam no que parecem ser órgãos e fluidos do corpo.
"São coisas que escorrem e se transformam noutra coisa", diz Lindote, numa frase que consegue retomar o oceano incerto de Derdyk e Leonilson.


LEONILSON, EDITH DERDYK, ALEXIS IGLESIAS, SOFIA BORGES E FERNANDO LINDOTE
Quando:
de ter. a sex., das 12h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 18h; até 24/8
Onde: Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel. 3255-7182)
Quanto: entrada franca



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