São Paulo, Sábado, 21 de Agosto de 1999
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MÚSICA ERUDITA
Com menos dinheiro e menor duração, evento que reúne artistas contemporâneos aposta na vanguarda
Festival Música Nova começa reduzido


IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

Menos tempo, concertos e dinheiro para a música erudita contemporânea. O Festival Música Nova, que vai de hoje a dia 29 nas cidades de Santos, São Paulo e Ribeirão Preto, chega à 35ª edição com proporções reduzidas em relação aos anos anteriores.
"A gente deveria ter R$ 200 mil para fazer um evento destes, mas estamos trabalhando com apenas R$ 70 mil -valor financiado, em partes iguais, pela Prefeitura de Santos e pelo Itaú Cultural", afirma Rubens Ricciardi, que divide a direção artística e coordenação do Música Nova com o compositor Gilberto Mendes, que criou o mais tradicional festival de música contemporânea da América Latina, em Santos, no ano de 1962.
De acordo com Ricciardi, o encolhimento do orçamento está relacionado à disparada na cotação do dólar com relação ao real. "Ficou muito complicado trazer atrações internacionais neste ano", diz. "Além disso, com 49 concertos, o festival de 98 foi muito difícil de produzir."
Resultado: o Música Nova chega a 99 ocupando a metade dos 17 dias de duração que teve no ano passado -e algumas ausências sentidas, como a do Grupo Novo Horizonte, que sempre participou com brilho do festival e está comemorando seus dez anos.
"Admiro o Novo Horizonte, e fui obrigado a excluí-lo contra a minha vontade", afirma Ricciardi. "Tivemos uma série de prejuízos, uma quantia elevada em direitos autorais a pagar ao Ecad e patrocínio menor do que no ano passado. Como o grupo é grande, tive de optar entre um concerto com eles ou várias apresentações com formações menores."
Apostou-se em nomes como Caio Pagano (piano), Duo Carrasqueira, Terão Chebl (piano) e o quinteto de clarinetas Sujeito a Guincho. A participação estrangeira ficou reduzida quase que exclusivamente a músicos belgas: o Spectra Ensemble faz a estréia mundial da peça "A Truta e o Peixe-Boi", de Willy Corrêa de Oliveira, enquanto o maestro Ronald Zollman rege a Osesp na recém-inaugurada Sala São Paulo.
Além disso, a pianista Tonie-Marie Montgomery, reitora da Universidade do Arizona (EUA), dá palestra e concerto sobre a criação musical erudita de compositores negros em seu país.
A contrapartida positiva do empobrecimento financeiro é o radicalismo estético: a 35ª edição do Música Nova abre mão das concessões no repertório, que vinham sendo a marca dos anos anteriores, e volta a apostar no viés vanguardista que caracterizou o festival nos anos 60, promovendo uma série de estréias mundiais de obras de compositores brasileiros, bem como estréias brasileiras de peças de autores estrangeiros.
Esta marca está presente no concerto do Grupo de Percussão do Instituto de Artes da Unesp, que, além de realizar a primeira audição de "No Silêncio das Noites Estreladas", do mineiro Harry Crowl, traz ao Brasil obras de compositores mexicanos pouco difundidos por aqui, como Federico Ibarra e Mario Lavista.
O concerto de música eletroacústica que abre o Música Nova, hoje, no Itaú Cultural, é formado exclusivamente por estréias -paulistanas, brasileiras ou mundiais (leia texto ao lado).
Além disso, o festival tomou a iniciativa de encomendar a três compositoras -Silvia Berg, Silvia de Lucca e Marisa Resende- obras para serem interpretadas no Música Nova pelo Quinteto D'Elas (grupo cujas integrantes são todas do sexo feminino).
O aperto nas contas não impede Ricciardi de traçar planos grandiosos para o Música Nova do ano que vem. "No ano 2000, queremos fazer o Festival do Expressionismo, com homenagens a Nijinski e aos compositores da Segunda Escola de Viena, como Schoenberg".


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