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MÚSICA ERUDITA
Com menos dinheiro e menor duração, evento que reúne artistas contemporâneos aposta na vanguarda
Festival Música Nova começa reduzido
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
Menos tempo, concertos e dinheiro para a música erudita contemporânea. O Festival Música
Nova, que vai de hoje a dia 29 nas
cidades de Santos, São Paulo e Ribeirão Preto, chega à 35ª edição
com proporções reduzidas em relação aos anos anteriores.
"A gente deveria ter R$ 200 mil
para fazer um evento destes, mas
estamos trabalhando com apenas
R$ 70 mil -valor financiado, em
partes iguais, pela Prefeitura de
Santos e pelo Itaú Cultural", afirma Rubens Ricciardi, que divide a
direção artística e coordenação
do Música Nova com o compositor Gilberto Mendes, que criou o
mais tradicional festival de música contemporânea da América
Latina, em Santos, no ano de 1962.
De acordo com Ricciardi, o encolhimento do orçamento está relacionado à disparada na cotação
do dólar com relação ao real. "Ficou muito complicado trazer
atrações internacionais neste
ano", diz. "Além disso, com 49
concertos, o festival de 98 foi muito difícil de produzir."
Resultado: o Música Nova chega a 99 ocupando a metade dos 17
dias de duração que teve no ano
passado -e algumas ausências
sentidas, como a do Grupo Novo
Horizonte, que sempre participou com brilho do festival e está
comemorando seus dez anos.
"Admiro o Novo Horizonte, e
fui obrigado a excluí-lo contra a
minha vontade", afirma Ricciardi. "Tivemos uma série de prejuízos, uma quantia elevada em direitos autorais a pagar ao Ecad e
patrocínio menor do que no ano
passado. Como o grupo é grande,
tive de optar entre um concerto
com eles ou várias apresentações
com formações menores."
Apostou-se em nomes como
Caio Pagano (piano), Duo Carrasqueira, Terão Chebl (piano) e o
quinteto de clarinetas Sujeito a
Guincho. A participação estrangeira ficou reduzida quase que exclusivamente a músicos belgas: o
Spectra Ensemble faz a estréia
mundial da peça "A Truta e o Peixe-Boi", de Willy Corrêa de Oliveira, enquanto o maestro Ronald
Zollman rege a Osesp na recém-inaugurada Sala São Paulo.
Além disso, a pianista Tonie-Marie Montgomery, reitora da
Universidade do Arizona (EUA),
dá palestra e concerto sobre a
criação musical erudita de compositores negros em seu país.
A contrapartida positiva do empobrecimento financeiro é o radicalismo estético: a 35ª edição do
Música Nova abre mão das concessões no repertório, que vinham sendo a marca dos anos anteriores, e volta a apostar no viés
vanguardista que caracterizou o
festival nos anos 60, promovendo
uma série de estréias mundiais de
obras de compositores brasileiros, bem como estréias brasileiras
de peças de autores estrangeiros.
Esta marca está presente no
concerto do Grupo de Percussão
do Instituto de Artes da Unesp,
que, além de realizar a primeira
audição de "No Silêncio das Noites Estreladas", do mineiro Harry
Crowl, traz ao Brasil obras de
compositores mexicanos pouco
difundidos por aqui, como Federico Ibarra e Mario Lavista.
O concerto de música eletroacústica que abre o Música Nova,
hoje, no Itaú Cultural, é formado
exclusivamente por estréias
-paulistanas, brasileiras ou
mundiais (leia texto ao lado).
Além disso, o festival tomou a
iniciativa de encomendar a três
compositoras -Silvia Berg, Silvia
de Lucca e Marisa Resende-
obras para serem interpretadas
no Música Nova pelo Quinteto
D'Elas (grupo cujas integrantes
são todas do sexo feminino).
O aperto nas contas não impede
Ricciardi de traçar planos grandiosos para o Música Nova do
ano que vem. "No ano 2000, queremos fazer o Festival do Expressionismo, com homenagens a Nijinski e aos compositores da Segunda Escola de Viena, como
Schoenberg".
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