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São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2003

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Em série do MAM, Buñuel e Cocteau mostram suas versões de contos de fadas

Beleza européia

Divulgação
Cena de "A Bela e a Fera", do francês Jean Cocteau, que inaugura hoje a série do Cinemam


INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Existe a atraente "A Bela da Tarde", provavelmente o melhor filme de Luis Buñuel (1900-83), marcando encontro com "A Bela e a Fera" de Jean Cocteau (1889-1963). Um encontro provocante, que se enriqueceria, na verdade, com "A Bela Intrigante", de Jacques Rivette.
Até há pouco tempo, o Cinemam, que sedia este Cinemam Belas, era uma bela droga: havia um abre e fecha da porta do começo até o final da sessão. Será que mudou? Vale arriscar, porque a programação é normalmente boa. Hoje é mais do que boa.
"A Bela e a Fera", de 1946, e "A Bela da Tarde", de 1967, são de certa forma dois filmes bem parecidos. O primeiro, um conto de fadas; o segundo, um conto de fadas de pernas para o ar.
Em "A Bela e a Fera", o clássico encontro entre a suave garota e o ser monstruoso é marcado pelo lirismo. A ênfase está nos olhos de Jean Marais, que buscam exprimir sentimentos que são o oposto de sua aparência física.
O pudor e a delicadeza da mise-en-scène é que criam o ambiente de sensualidade (mas há também a fotografia de Henri Alekan) que domina o filme. Ali se narra a história da Bela que se oferece em sacrifício à Fera, no lugar de seu pai (que deveria ser morto por motivo fútil). A Fera, no entanto, apaixona-se pela elegante garota (Josette Day), que, no entanto, já está noiva de um príncipe.
O fato de Jean Marais fazer, ao mesmo tempo, o príncipe e o monstro, cria uma estranha situação, pois, se Bela não sabe, sabemos nós que eles são a mesma pessoa, os olhos são os mesmos. O mesmo é o outro, em suma.
É bem outro o andamento de "A Bela da Tarde", embora Catherine Deneuve tenha um quê de Bela, de princesa de conto de fadas. Seu príncipe encantado (Jean Sorel) já era. É num bordel que ela vai satisfazer suas fantasias. Uma só fera não lhe basta, quer a companhia de várias.
Em Cocteau há recurso farto à fantasia. Mas, se ali onde o desejo se insinua, no filme de Buñuel ele explode. Basta olhar, no caso, o rosto gélido de Séverine/Catherine. Loira gélida, hitchcockiana, pondo às claras aquilo que o mestre inglês apenas insinuava.
É como se, para Buñuel, o surrealista por excelência, o casamento não fosse o fim da história, mas o fim do desejo. Daí Séverine ser provavelmente a mais completa encarnação do desejo que alguém já filmou até hoje.


A Bela da Tarde
Belle de Jour
    
Produção: França/Itália, 1967
Direção: Luis Buñuel
Com: Catherine Deneuve, Jean Sorel
Onde: no MAM (parque Ibirapuera, s/nš, portão 3, tel. 5549-9688, ramal 1145): dias 27/9 (14h), 28/9 (16h), 4/10 (16h), 5/10 (14h), 11/10 (14h) e 12/10 (16h); na PUC - auditório Banespa Biblioteca Nadir Kfouri (r. Monte Alegre, 984, tel. 3670-8267): dias 30/9 (12h e 17h), 7/10 (17h) e 14/10 (14h)
Quanto: entrada franca

A Bela e a Fera
La Belle et la Bête
   
Produção: França, 1946
Direção: Jean Cocteau
Com: Jean Marais, Josette Day
Onde: no MAM: hoje (14h, 16h), dias 27/9 (16h), 28/9 (14h), 4/10 (14), 5/10 (16h), 11/10 (16h) e 12/10 (14h); na PUC: dias 23/9 (12h, 17h), 7/10 (12h) e 8/10 (17h)
Quanto: entrada franca



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