São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2006

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Crítica/dança/"Dínamo"

Deborah Colker desafia a gravidade, sobe paredes e renova seu repertório

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Subindo mais uma vez pelas paredes, Deborah Colker desafia a gravidade e o tempo com seu novo espetáculo, "Dínamo" -uma transformação de "Maracanã", encomendado pela Fifa para a Copa do Mundo, acompanhada de "Velox" (1995). Em ambos, é na parede que se constrói a topografia dos movimentos. Os cenários, de Gringo Cardia, também são fundamentais na construção das duas peças.
Se em "Velox" a parede tem pequenas concavidades em que se apóiam os bailarinos, em "Dínamo", o corpo, suspenso por cabos, pode explorar a inversão da gravidade, deslizando numa parede lisa. "Dínamo" leva o meio-de-campo para o "ar" e o "corner" para o "chão".
Vale lembrar os sentidos da palavra "dínamo": máquina rotativa que transforma energia mecânica em elétrica; aquilo que impulsiona. Todos servem de mote para a dança de Colker, que une acrobacia, dança clássica e gestos cotidianos, música pop, eletrônica e clássica, em busca de uma energia atlética.
Estão em cena dribles, volteios, barreiras, bolas e outras marcas do futebol. Com bailarinos cada vez mais técnicos, a movimentação ganha liberdade na exploração de níveis e dinâmicas. Vale ressaltar a entrada da bailarina de meião vermelho, cruzando o campo de dançarinos de preto. Um solo maleável e espiralar, em contraponto à movimentação estanque e direta do conjunto.
Há uma mudança na movimentação de Colker, que, em alguns momentos, livre de uma narrativa direta, ganha mais coerência e força. Os gestos do chão por vezes são ecoados na parede, criando um sentido inesperado. Mas a repetição excessiva de certos movimentos, ou de seqüências deles, esgota, em alguma medida, esse novo sentido. Interseções nem sempre garantem multiplicidade.
A música, uma grande colagem -de Sakamoto e Steve Reich a Kraftwerk, Coldcut e um "Noturno" tocado por Glenn Gould, sob a inspiração de músicos da nova geração do Rio, como Berna Ceppas e Kassin- é das fragilidades da peça.
Contagens de marcação de dança, ritmos do funk, estridências variadas contrapostas ao clássico nem sempre contribuem para a cena. Se a coreógrafa se vale de uma composição em mosaicos sobrepostos, o desequilíbrio da ligação entre dança e música leva a construção para um lugar instável.
A soma total é positiva. Por reunir as duas peças num espetáculo, a companhia já cria um círculo interessante, uma quadratura da bola capaz de unir a idéia do circo e da dança, num território sempre renovado.


DÍNAMO    
Quando:
de qua. a sáb., às 21h; dom., às 18h. Até 1º/10
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 3288-0136)
Quanto: R$ 30 e R$ 60


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