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Crítica/dança/"Dínamo"
Deborah Colker desafia a gravidade, sobe paredes e renova seu repertório
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Subindo mais uma vez pelas paredes, Deborah
Colker desafia a gravidade e o tempo com seu novo espetáculo, "Dínamo" -uma
transformação de "Maracanã",
encomendado pela Fifa para a
Copa do Mundo, acompanhada
de "Velox" (1995). Em ambos, é
na parede que se constrói a topografia dos movimentos. Os
cenários, de Gringo Cardia,
também são fundamentais na
construção das duas peças.
Se em "Velox" a parede tem
pequenas concavidades em que
se apóiam os bailarinos, em
"Dínamo", o corpo, suspenso
por cabos, pode explorar a inversão da gravidade, deslizando
numa parede lisa. "Dínamo" leva o meio-de-campo para o "ar"
e o "corner" para o "chão".
Vale lembrar os sentidos da
palavra "dínamo": máquina rotativa que transforma energia
mecânica em elétrica; aquilo
que impulsiona. Todos servem
de mote para a dança de Colker,
que une acrobacia, dança clássica e gestos cotidianos, música
pop, eletrônica e clássica, em
busca de uma energia atlética.
Estão em cena dribles, volteios, barreiras, bolas e outras
marcas do futebol. Com bailarinos cada vez mais técnicos, a
movimentação ganha liberdade na exploração de níveis e dinâmicas. Vale ressaltar a entrada da bailarina de meião vermelho, cruzando o campo de
dançarinos de preto. Um solo
maleável e espiralar, em contraponto à movimentação estanque e direta do conjunto.
Há uma mudança na movimentação de Colker, que, em
alguns momentos, livre de uma
narrativa direta, ganha mais
coerência e força. Os gestos do
chão por vezes são ecoados na
parede, criando um sentido
inesperado. Mas a repetição excessiva de certos movimentos,
ou de seqüências deles, esgota,
em alguma medida, esse novo
sentido. Interseções nem sempre garantem multiplicidade.
A música, uma grande colagem -de Sakamoto e Steve
Reich a Kraftwerk, Coldcut e
um "Noturno" tocado por
Glenn Gould, sob a inspiração
de músicos da nova geração do
Rio, como Berna Ceppas e Kassin- é das fragilidades da peça.
Contagens de marcação de
dança, ritmos do funk, estridências variadas contrapostas
ao clássico nem sempre contribuem para a cena. Se a coreógrafa se vale de uma composição em mosaicos sobrepostos,
o desequilíbrio da ligação entre
dança e música leva a construção para um lugar instável.
A soma total é positiva. Por
reunir as duas peças num espetáculo, a companhia já cria um
círculo interessante, uma quadratura da bola capaz de unir a
idéia do circo e da dança, num
território sempre renovado.
DÍNAMO
Quando: de qua. a sáb., às 21h; dom.,
às 18h. Até 1º/10
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui
Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 3288-0136)
Quanto: R$ 30 e R$ 60
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