São Paulo, segunda-feira, 21 de setembro de 2009

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Dor da perda guia cineasta japonesa

Festival Indie leva ao Cinesesc 13 filmes de Naomi Kawase, diretora que retrata relações familiares e natureza selvagem

Com o longa "A Floresta dos Lamentos", que tem exibição amanhã, Naomi recebeu o Grande Prêmio do Festival de Cannes em 2007

Divulgação
Kanako Masuda e Shigeki no premiado "A Floresta dos Lamentos" (2007); personagens se conhecem em casa de repouso

BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Para fãs do cinema japonês, é tradição lamentar a escassez dos filmes do país exibidos aqui e lembrar que o bairro da Liberdade, em São Paulo, já abrigou salas de exibição próprias dos principais estúdios, nos anos 50 e 60. Hoje, tal produção é alternativa mesmo dentro do circuito dos filme de arte. A retrospectiva com 13 filmes da cineasta Naomi Kawase, 40, no festival Indie, em cartaz no Cinesesc, deixa claro como é errônea a impressão de que nada de relevante é produzido atualmente no Japão. Naomi já começa chamando a atenção pelo fato de ser uma mulher cineasta num país que ainda mantém ranços machistas. Há sensibilidade no seu olhar, mas longe de clichês dos "filmes de mulherzinha". Ela está mais interessada em buscar representações da ausência. Em seu primeiro filme, o documentário "Abraçando" (1992), que passa hoje, às 20h10, Naomi, então com 23 anos, tenta encontrar o pai pela primeira vez. Abandonada pelos pais quando estes se separaram, a cineasta foi adotada ainda bebê por uma tia. Família é assunto recorrente na sua obra. "Isso acontece porque a família é o tema mais próximo e diminuto para descrever a relação entre os seres humanos. E ela também carrega muitos dos problemas da sociedade", afirma Naomi em entrevista por e-mail à Folha. Ela nega, no entanto, qualquer filiação com Yasujiro Ozu (1903-1963), o mais japonês dos cineastas e que melhor retratou famílias. "Algumas pessoas de fora do Japão encontram essa similaridade, mas é apenas porque, acredito, aquelas casas em estilo japonês que aparecem em nossos filmes são visualmente as mesmas." A saga de autoconhecimento continuou em "Katatsumori" (1994), que passa hoje após "Abraçando", e "Olhando o Paraíso" (1995) (na quinta, às 16h30), filmes em que retrata sua mãe adotiva. Mas foi em 2007 que Naomi teve reconhecimento internacional. Com "A Floresta dos Lamentos", levou o Grande Prêmio do Festival de Cannes. No Brasil, o longa teve sessões concorridas no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo e, pronto, a filmografia de Naomi logo se tornou objeto de culto. "A Floresta dos Lamentos" é centrado em tema caro aos japoneses, a morte. Acompanhamos uma jovem que perdeu recentemente o filho e um senhor meio biruta que, mesmo após 33 anos, não se conforma com a morte da mulher. Eles irão se conhecer numa casa de repouso em região rural. Com exibição amanhã, às 20h, "A Floresta..." tem já no título outro símbolo preferido pela cineasta. Por que a natureza é tão importante para ela? "A natureza não usa palavras, mas nos inspira medo. Não podemos fazer nada, exceto aceitá-la: a luz do sol, a neve que cai e por aí vai. Ela está lá, apenas existindo junto de nós e às vezes contra nós. Com a sua presença divina, a natureza desempenha um grande papel para que nós, criaturas frágeis e ignorantes, observemos."


INDIE 2009

Quando: seg. a qui., a partir das 14h40; até quinta, dia 24
Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075, tel. 3087-0500); programação completa e classificação em www.indiefestival.com.br; grátis


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