São Paulo, segunda-feira, 21 de setembro de 2009
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Dor da perda guia cineasta japonesa
Festival Indie leva ao Cinesesc 13 filmes de Naomi Kawase, diretora que retrata relações familiares e natureza selvagem
BRUNO YUTAKA SAITO EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Para fãs do cinema japonês, é
tradição lamentar a escassez
dos filmes do país exibidos aqui
e lembrar que o bairro da Liberdade, em São Paulo, já abrigou salas de exibição próprias
dos principais estúdios, nos
anos 50 e 60. Hoje, tal produção é alternativa mesmo dentro
do circuito dos filme de arte.
A retrospectiva com 13 filmes
da cineasta Naomi Kawase, 40,
no festival Indie, em cartaz no
Cinesesc, deixa claro como é
errônea a impressão de que nada de relevante é produzido
atualmente no Japão.
Naomi já começa chamando
a atenção pelo fato de ser uma
mulher cineasta num país que
ainda mantém ranços machistas. Há sensibilidade no seu
olhar, mas longe de clichês dos
"filmes de mulherzinha". Ela
está mais interessada em buscar representações da ausência.
Em seu primeiro filme, o documentário "Abraçando"
(1992), que passa hoje, às
20h10, Naomi, então com 23
anos, tenta encontrar o pai pela
primeira vez. Abandonada pelos pais quando estes se separaram, a cineasta foi adotada ainda bebê por uma tia. Família é
assunto recorrente na sua obra.
"Isso acontece porque a família é o tema mais próximo e
diminuto para descrever a relação entre os seres humanos. E
ela também carrega muitos dos
problemas da sociedade", afirma Naomi em entrevista por e-mail à Folha.
Ela nega, no entanto, qualquer filiação com Yasujiro Ozu
(1903-1963), o mais japonês
dos cineastas e que melhor retratou famílias. "Algumas pessoas de fora do Japão encontram essa similaridade, mas é
apenas porque, acredito, aquelas casas em estilo japonês que
aparecem em nossos filmes são
visualmente as mesmas."
A saga de autoconhecimento
continuou em "Katatsumori"
(1994), que passa hoje após
"Abraçando", e "Olhando o Paraíso" (1995) (na quinta, às
16h30), filmes em que retrata
sua mãe adotiva.
Mas foi em 2007 que Naomi
teve reconhecimento internacional. Com "A Floresta dos
Lamentos", levou o Grande
Prêmio do Festival de Cannes.
No Brasil, o longa teve sessões
concorridas no Festival do Rio
e na Mostra de São Paulo e,
pronto, a filmografia de Naomi
logo se tornou objeto de culto.
"A Floresta dos Lamentos" é
centrado em tema caro aos japoneses, a morte. Acompanhamos uma jovem que perdeu recentemente o filho e um senhor meio biruta que, mesmo
após 33 anos, não se conforma
com a morte da mulher. Eles
irão se conhecer numa casa de
repouso em região rural.
Com exibição amanhã, às
20h, "A Floresta..." tem já no título outro símbolo preferido
pela cineasta. Por que a natureza é tão importante para ela?
"A natureza não usa palavras, mas nos inspira medo.
Não podemos fazer nada, exceto aceitá-la: a luz do sol, a neve
que cai e por aí vai. Ela está lá,
apenas existindo junto de nós e
às vezes contra nós. Com a sua
presença divina, a natureza desempenha um grande papel para que nós, criaturas frágeis e
ignorantes, observemos." INDIE 2009 Quando: seg. a qui., a partir das 14h40; até quinta, dia 24 Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075, tel. 3087-0500); programação completa e classificação em www.indiefestival.com.br; grátis Próximo Texto: Frase Índice |
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