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Márcia Milhazes volta com mosaico de "Tempo de Verão"
Valsas de Lamartine Babo e Francisco Mignone e cenografia de Beatriz Milhazes emolduram o premiado espetáculo da coreógrafa, no Teatro Alfa
RAQUEL COZER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Tempo de Verão", espetáculo da coreógrafa Márcia Milhazes que volta a ser apresentado
hoje e amanhã no Teatro Alfa,
após estréia premiada em
2004, é um mosaico cujos encaixes externam precisão a despeito de cada peça ter sido pensada de forma independente.
A começar pela inspiração,
desenlace da convergência de
duas idéias distintas: o interesse por valsas do cancioneiro nacional e uma série de anotações
pessoais. Ao perscrutar as peças musicais, Márcia se deu
conta de que, como seus rascunhos, elas remetiam a vidas solitárias e melancólicas, universos distintos e encontros.
Assim, versões instrumentais de valsas como "Sonhei que
Tu Estavas Tão
Linda", de Lamartine Babo, e "Valsa-Choro nš 10",
de Francisco Mignone, coexistem
com as três "almas" imaginadas
por Márcia.
"São duas mulheres, uma que
nunca sai de seu
mundo e outra
que brinca entre o
real e o imaginário o tempo todo; e um homem,
que é um observador", diz. Os
três interpretam solos, duetos e
trios sem que ninguém nunca
saia do palco. "São camadas de
gestuais que coloco em cena."
Coreografia e trilha também
derivaram de pesquisas separadas. "Não preciso da música no
momento em que construo os
gestos", diz Márcia. Dona de
uma minuciosa atenção aos detalhes, a coreógrafa busca "frases de movimentos que criem
humanidade".
Em família
Por fim, coreografia e cenografia nasceram em berços distintos -embora da mesma família. A espécie de lustre de flores, espirais e bolas que dá ao
cenário um tom de céu paradisíaco é uma das exceções que a
artista plástica Beatriz Milhazes, 45, abre
para sua irmã mais
nova. Márcia, 44, é a
única beneficiária dos
dotes cenográficos de
Beatriz, que faz todos
os seus cenários -e os
de mais ninguém.
A criação familiar
preza pela liberdade
artística. "A Bia jamais vê meus ensaios.
Nós conversamos, e
então ela cria. Uma
artista interagir com a
obra de outra é algo
generoso."
Os trabalhos se encontram
na questão do circular -característica presente tanto na obra
de Beatriz quanto nas frases coreográficas de "Tempo de Verão". "Houve uma harmonia.
Você viu aquele lustre, né? Ele
poderia roubar a cena inteira!
Mas conseguimos um equilíbrio", avalia Márcia.
Está certo que tal simetria
precisou sofrer adaptações para algumas apresentações. A
obra de Beatriz tomba cinco
metros dentro de cena, e alguns
teatros não têm pé-direito suficiente. Houve ocasiões, diz
Márcia, em que foi possível encurtar o lustre sem interferir na
qualidade artística.
Em outras, os bailarinos precisaram dar uma de malabaristas para desviar da obra. "O Al
[Crisppinn, que se apresenta
com Ana Amélia Vianna e Pim
Boonprakob] tem 1,83 m, então, imagina. Teve uma vez em
que o cenário quase virou um
móbile. Os bailarinos estavam
achatados no palco." A boa notícia é que o Teatro Alfa tem um
pé-direito de 21 m.
TEMPO DE VERÃO
Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 18h
Onde: Teatro Alfa (r. Bento Branco
de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000)
Quanto: de R$ 30 a R$ 60
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