São Paulo, sábado, 21 de outubro de 2006

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Márcia Milhazes volta com mosaico de "Tempo de Verão"

Valsas de Lamartine Babo e Francisco Mignone e cenografia de Beatriz Milhazes emolduram o premiado espetáculo da coreógrafa, no Teatro Alfa

RAQUEL COZER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Tempo de Verão", espetáculo da coreógrafa Márcia Milhazes que volta a ser apresentado hoje e amanhã no Teatro Alfa, após estréia premiada em 2004, é um mosaico cujos encaixes externam precisão a despeito de cada peça ter sido pensada de forma independente.
A começar pela inspiração, desenlace da convergência de duas idéias distintas: o interesse por valsas do cancioneiro nacional e uma série de anotações pessoais. Ao perscrutar as peças musicais, Márcia se deu conta de que, como seus rascunhos, elas remetiam a vidas solitárias e melancólicas, universos distintos e encontros.
Assim, versões instrumentais de valsas como "Sonhei que Tu Estavas Tão Linda", de Lamartine Babo, e "Valsa-Choro nš 10", de Francisco Mignone, coexistem com as três "almas" imaginadas por Márcia.
"São duas mulheres, uma que nunca sai de seu mundo e outra que brinca entre o real e o imaginário o tempo todo; e um homem, que é um observador", diz. Os três interpretam solos, duetos e trios sem que ninguém nunca saia do palco. "São camadas de gestuais que coloco em cena."
Coreografia e trilha também derivaram de pesquisas separadas. "Não preciso da música no momento em que construo os gestos", diz Márcia. Dona de uma minuciosa atenção aos detalhes, a coreógrafa busca "frases de movimentos que criem humanidade".

Em família
Por fim, coreografia e cenografia nasceram em berços distintos -embora da mesma família. A espécie de lustre de flores, espirais e bolas que dá ao cenário um tom de céu paradisíaco é uma das exceções que a artista plástica Beatriz Milhazes, 45, abre para sua irmã mais nova. Márcia, 44, é a única beneficiária dos dotes cenográficos de Beatriz, que faz todos os seus cenários -e os de mais ninguém.
A criação familiar preza pela liberdade artística. "A Bia jamais vê meus ensaios. Nós conversamos, e então ela cria. Uma artista interagir com a obra de outra é algo generoso."
Os trabalhos se encontram na questão do circular -característica presente tanto na obra de Beatriz quanto nas frases coreográficas de "Tempo de Verão". "Houve uma harmonia.
Você viu aquele lustre, né? Ele poderia roubar a cena inteira! Mas conseguimos um equilíbrio", avalia Márcia. Está certo que tal simetria precisou sofrer adaptações para algumas apresentações. A obra de Beatriz tomba cinco metros dentro de cena, e alguns teatros não têm pé-direito suficiente. Houve ocasiões, diz Márcia, em que foi possível encurtar o lustre sem interferir na qualidade artística.
Em outras, os bailarinos precisaram dar uma de malabaristas para desviar da obra. "O Al [Crisppinn, que se apresenta com Ana Amélia Vianna e Pim Boonprakob] tem 1,83 m, então, imagina. Teve uma vez em que o cenário quase virou um móbile. Os bailarinos estavam achatados no palco." A boa notícia é que o Teatro Alfa tem um pé-direito de 21 m.


TEMPO DE VERÃO
Quando:
hoje, às 21h; amanhã, às 18h
Onde: Teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000)
Quanto: de R$ 30 a R$ 60


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