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CRÍTICA COMÉDIA
Peça oscila entre o patético e a sobriedade dramática
Montagem combina humor com uma sutil exploração metalinguística
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Quando o cômico se estranha e mira o sublime. "Mão e
Pescoço", estreia do jovem
dramaturgo e roteirista Elzemann Neves como encenador, propõe-se a ser uma "comédia sombria", mas se revela, afinal, um drama com pretensões mais altas.
Este é o terceiro texto para
teatro de Neves e já denota
um autor empenhado em
afirmar um estilo.
Sem armar uma trama fechada, ele trabalha uma situação dramática que confina três personagens arquetípicos no espaço cênico.
Leonarda é uma mulher
com vocação para amar todos os homens que encontrar
e não ser feliz com nenhum.
Visita uma amiga cartomante e logo se vê ameaçada.
O novo cliente, "o perigoso
falsificador de emoções",
aparece para consultar a adivinha. Essas referências são
os únicos contornos que demarcam a ação transcorrida.
No mais, o que sustenta o
fio narrativo são as falas dessas criaturas e sua presença
física em cena.
Quase sempre as interpretações sinalizam uma atitude
cômica, que beira o caricato,
mas nunca descambam de
vez na comédia, guardando
sobriedade dramática.
Essa oscilação de registros
mantém o espetáculo numa
suspensão interessante e é
suficiente para levá-lo a bom
termo. Contudo, o aproveitamento das tensões geradas é
desigual. Quem melhor encarna o espírito do texto e da
encenação é Germano Melo,
sustentando um discurso ao
mesmo tempo franco e cínico
do personagem masculino.
Gilda Nomacce tem bons
momentos na apresentação
da histeria crônica de Leonarda, com gritos repentinos
e uma linguagem corporal de
contorcionista.
Mageca Angelucci, como a
leitora de cartas que projeta
ter sido abduzida por extraterrestres, é quem trabalha
mais enfaticamente a máscara facial do patético. Por isso
mesmo, valoriza menos a
ambiguidade que o texto e a
encenação nunca suprimem.
A sequência de temas que
se repetem espiralados no
discurso das personagens
-a inconsistência de um sorriso, as características genéticas fatais- culmina numa
brincadeira para distrair que
abre a ficção a referentes passados: fato ou versão? É o
que cada um dos personagens pergunta aos outros depois de narrar-lhes supostos
acontecimentos vividos.
Se, por vezes, parece que o
dramaturgo não sabe como
terminar o jogo proposto, por
outras, até pelo que imprime
na cena com sua direção, ele
combina o humor mais banal
com uma sutil exploração
metalinguística da própria
representação oferecida.
É o bastante para sugerir
uma promissora expectativa
de voos futuros.
MÃO E PESCOÇO
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às
21h, e dom., às 19h; até 19/12
ONDE teatro Augusta (r. Augusta,
943, tel. 3151-4141)
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
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