ISRAEL DO VALE
DA REPORTAGEM LOCAL

O samba rural paulista pede de volta seu assento no panteão carnavalesco a partir de hoje, no Sesc Ipiranga. Manifestação de base instrumental percussiva, com letra originalmente improvisada (hoje, não mais) e refrão repetido pelo coro, o samba de bumbo, como também é chamado, foi um dos recortes pioneiros do gênero a embalar os festejos de Carnaval no Estado de São Paulo, no início do século passado. Duelava nos cordões da capital, à época, com o choro e a marcha-rancho.
"O que domina é o ritmo, o peso, a bulha violenta da percussão, as melodias primárias e uma brutalidade insensível", descreve Mario de Andrade no ensaio "Samba Rural Paulista", em que narra seu contato com um grupo do bairro da Liberdade, que conhecera em Pirapora do Bom Jesus, e outro de Sorocaba, com que travara contato no Brás, no início dos anos 30.
"Pirapora era a capital do samba de bumbo e o Brás tinha o melhor Carnaval de São Paulo daqueles tempos", diz o antropólogo e historiador Marcelo Manzatti, 32, curador do projeto do Sesc.
"Bambas do Samba - Sambas de Bumbo" resgata amostragem dos grupos do gênero que sobreviveram no Estado. Traz os quatro principais agrupamentos em atividade. "Fora esses, há apenas outros dois conhecidos, ambos em Piracicaba, mas em estado bem precário", diz Manzatti.
O evento não se restringe ao samba de bumbo. Irmana, como diz Manzatti, "manifestações aparentadas" como umbigada, zé-pereira e caiapó. A programação prevê exposições e oficinas.