|
Próximo Texto | Índice
CINEMA
Evento no Centro Cultural Banco do Brasil exibe filmes e sedia debates sobre os 20 anos da empresa cinematográfica
Mostra discute o legado da Embrafilme
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante as décadas de 1970 e
1980, praticamente toda a produção do cinema brasileiro passou
pela Embrafilme, a empresa de
economia mista que comandava a
distribuição e financiava boa parte dos títulos nacionais.
"Não era monopolista por razões de Estado, como a Petrobras,
por exemplo. Mas acabou se tornando de fato", afirma Carlos Augusto Calil, que hoje dirige o Centro Cultural São Paulo e trabalhou
como diretor na Empresa Brasileira de Filmes S.A. de 1979 a 86.
É por isso que quase tudo o que
foi feito (de bom e de ruim) no cinema brasileiro, entre o final de
1969 e o começo de 1990, quando
a empresa foi extinta, teve o selo
da Embrafilme.
Em mostra que começa hoje, o
Centro Cultural Banco do Brasil
de SP revê o legado e alguns dos
marcos da produção do período.
São 31 filmes (21 longas, três
médias e sete curtas), escolhidos
pelos curadores Francisco Cesar
Filho e Reinaldo Cardenuto Filho.
A programação (veja ao lado)
inclui ainda quatro debates com
participação de três ex-diretores:
Calil, o cineasta Roberto Farias e
Gustavo Dahl, atual diretor-presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema).
Entre os temas, estão a história
da empresa e as relações entre a
Embrafilme e a atual política audiovisual do país.
Adaptação literária
A Embrafilme surgiu como braço do Instituto Nacional do Cinema (INC). Setenta por cento de
suas ações eram do governo e o
restante de outras entidades e sócios minoritários, entre eles o produtor Luiz Carlos Barreto.
Logo após sua criação, em 1970,
ela se tornou responsável também
pelo fomento e, apenas em 1973,
passaria à distribuição.
Na mesma época, houve uma
tentativa do regime militar de
amenizar o conteúdo político dos
filmes. "O governo definiu que
adaptação literária seria "melhor",
porque achava que assim correria
menos risco de crítica. Mas "São
Bernardo" foi muito incômodo
mesmo sendo baseado em Graciliano Ramos", comenta Calil.
Quando Farias assumiu o comando da empresa, em 1974, começou um novo ciclo. A Embrafilme teve seus poderes ampliados
e entrou para a produção.
"A atividade cinematográfica é
de alto risco. Está nos manuais. A
Embrafilme assumia o risco sob
forma de associação na co-produção", conta Dahl.
Laranja
Nos anos seguintes, a empresa
capitalizou grandes sucessos como "A Dama do Lotação", que é
exibido na mostra no dia 4.
"O diretor [Neville d'Almeida]
era ligado ao cinema marginal,
mas fez um best-seller. Isso tinha
a ver com o fenômeno da Sônia
Braga, porque o filme veio logo
após "Gabriela'", explica Calil.
Segundo ele, outro campeão de
bilheteria, "Pixote, a Lei do Mais
Fraco", que abre a programação
da mostra hoje, às 15h, teve uma
boa carreira graças à distribuidora.
"O filme chegou à Embrafilme
com o título "O Mundo É Redondo como uma Laranja" e mudou
de nome por sugestão da Embrafilme", conta Calil.
O filme de Hector Babenco foi o
primeiro a ser disputado em uma
espécie de leilão pelos exibidores
por ser altamente competitivo.
Outro caso curioso é o documentário "Cabra Marcado para
Morrer". O diretor Eduardo Coutinho estava na mira do SNI (Serviço Nacional de Informações) e
recebeu dinheiro indiretamente
da Embrafilme.
Calil lembra: "A empresa comprou o direito da obra de Vladimir Carvalho para que ele pudesse repassar o dinheiro ao Coutinho, que era seu amigo".
Já "Pra Frente, Brasil", filme dirigido por Roberto Farias em 82,
derrubou Celso Amorim, então
presidente da empresa.
"Na época, a tortura ainda não
era um assunto suficientemente
sedimentado. Havia uma perspectiva de que seria possível reverter a abertura", diz.
Próximo Texto: O que pode ser aproveitado da experiência da Embrafilme hoje? Índice
|