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São Paulo, sábado, 22 de março de 2003

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"O Chapéu", de Rota, traz gargalhadas ao Municipal

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Reputada como uma das óperas mais hilariantes já escritas, estréia hoje no Teatro Municipal, em temporada de apenas cinco récitas, "O Chapéu de Palha de Florença", do compositor italiano Nino Rota (1911-1979).
A Orquestra Experimental de Repertório estará sob a regência do maestro Jamil Maluf.
A direção cênica é de Marcelo Marchioro, e no elenco, no papel de Fadinard, a primeira aparição em São Paulo do tenor carioca Luciano Botelho, uma das boas surpresas entre as vozes recentemente descobertas.
A ópera é baseada em peça do autor francês Eugene Labiche (1815-1888), que, com ela, reformulou em 1851 a linguagem da comédia: o entrelaçamento de mal-entendidos e a sucessão de surpresas passou a ser designada como o gênero do vaudeville.
Nino Rota é um nome familiar para quem gosta de cinema. Foram dele as trilhas sonoras notabilizadas nos filmes de Federico Fellini (1920-93).
"O Chapéu de Palha de Florença", com sua primeira versão esboçada nos anos 30, foi uma das dez óperas que ele escreveu e a mais próxima das formas rocambolescas de encadeamento narrativo e musical, já presentes em Giacomo Rossini.
A montagem do Municipal é a mesma que em 1993 reinaugurou em São Paulo o teatro Paulo Eiró. Os cenários foram refeitos, e o elenco, todo ele brasileiro, foi parcialmente renovado.
Nele estão Regina Elena Mesquita, Edna D"Oliveira e Gabriela Pace, entre as vozes femininas, e entre as masculinas Pepes do Vale, Sandro Christopher, Sebastião Teixeira e Rubens Medina.
A história se passa em Paris, em 1850. É o dia do casamento do burguês Fadinard com Elena, filha de um camponês abastado. Ao atravessar o Bois de Boulogne, Fadinard enfrenta um contratempo: seu cavalo come o chapéu de palha colocado sobre um arbusto por Anaide, bela mulher de poucas virtudes, em colóquio nas imediações com seu amante.
Sem o chapéu, ela não voltaria para casa, onde o marido ciumento pressentiria o adultério.
Anaide, então, exige que o dono do cavalo comilão lhe compre um chapéu igualzinho.
Com isso tem início a maratona extenuante de situações em que a procura do chapéu acaba por envolver os noivos e os demais convidados do casamento.

Espetáculo sem caricaturas
"O Chapéu de Palha de Florença" atropela muitas das idéias caricatas tecidas em torno do gênero operístico. Trata-se de um espetáculo desprovido de dramalhões e tristezas.
Não há o suplício condimentado pelo amor. Nem tampouco árias e cenas compridas em excesso, em que compositores sacrificavam o andamento da narrativa em nome da beleza musical a ser longamente demonstrada.
Estamos, ao contrário, no plano efêmero das gargalhadas, do jocoso, do picante.
Em termos apenas teatrais, a peça de Labiche já seria deliciosa. A música de Rota a faz aparatosa. Um espetáculo que tem tudo para dar certo.


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