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"O Chapéu", de Rota, traz gargalhadas ao Municipal
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Reputada como uma das óperas
mais hilariantes já escritas, estréia
hoje no Teatro Municipal, em
temporada de apenas cinco récitas, "O Chapéu de Palha de Florença", do compositor italiano
Nino Rota (1911-1979).
A Orquestra Experimental de
Repertório estará sob a regência
do maestro Jamil Maluf.
A direção cênica é de Marcelo
Marchioro, e no elenco, no papel
de Fadinard, a primeira aparição
em São Paulo do tenor carioca Luciano Botelho, uma das boas surpresas entre as vozes recentemente descobertas.
A ópera é baseada em peça do
autor francês Eugene Labiche
(1815-1888), que, com ela, reformulou em 1851 a linguagem da
comédia: o entrelaçamento de
mal-entendidos e a sucessão de
surpresas passou a ser designada
como o gênero do vaudeville.
Nino Rota é um nome familiar
para quem gosta de cinema. Foram dele as trilhas sonoras notabilizadas nos filmes de Federico
Fellini (1920-93).
"O Chapéu de Palha de Florença", com sua primeira versão esboçada nos anos 30, foi uma das
dez óperas que ele escreveu e a
mais próxima das formas rocambolescas de encadeamento narrativo e musical, já presentes em
Giacomo Rossini.
A montagem do Municipal é a
mesma que em 1993 reinaugurou
em São Paulo o teatro Paulo Eiró.
Os cenários foram refeitos, e o
elenco, todo ele brasileiro, foi parcialmente renovado.
Nele estão Regina Elena Mesquita, Edna D"Oliveira e Gabriela
Pace, entre as vozes femininas, e
entre as masculinas Pepes do Vale, Sandro Christopher, Sebastião
Teixeira e Rubens Medina.
A história se passa em Paris, em
1850. É o dia do casamento do
burguês Fadinard com Elena, filha de um camponês abastado.
Ao atravessar o Bois de Boulogne,
Fadinard enfrenta um contratempo: seu cavalo come o chapéu de
palha colocado sobre um arbusto
por Anaide, bela mulher de poucas virtudes, em colóquio nas
imediações com seu amante.
Sem o chapéu, ela não voltaria
para casa, onde o marido ciumento pressentiria o adultério.
Anaide, então, exige que o dono
do cavalo comilão lhe compre um
chapéu igualzinho.
Com isso tem início a maratona
extenuante de situações em que a
procura do chapéu acaba por envolver os noivos e os demais convidados do casamento.
Espetáculo sem caricaturas
"O Chapéu de Palha de Florença" atropela muitas das idéias caricatas tecidas em torno do gênero operístico. Trata-se de um espetáculo desprovido de dramalhões e tristezas.
Não há o suplício condimentado pelo amor. Nem tampouco
árias e cenas compridas em excesso, em que compositores sacrificavam o andamento da narrativa
em nome da beleza musical a ser
longamente demonstrada.
Estamos, ao contrário, no plano
efêmero das gargalhadas, do jocoso, do picante.
Em termos apenas teatrais, a peça de Labiche já seria deliciosa. A
música de Rota a faz aparatosa.
Um espetáculo que tem tudo para
dar certo.
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