São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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Strindberg subverte o voyeur em "Credores"

DA REPORTAGEM LOCAL

Em "Credores", peça da primeira fase realista de sua dramaturgia, que depois enveredou por caminhos simbolistas, o sueco August Strindberg (1849-1912) instaurava um contrato seminal entre observador e observado, a condição voyeur do espectador no teatro, de preferência não-passivo, com extensão para o discurso amoroso, conforme a máscara dos próprios personagens.
Um pintor conversa com um homem que conheceu num balneário de verão, enquanto sua mulher vai ao centro da cidade. Este homem, que na verdade é o ex-marido da mulher, o enreda a uma trama de apostas em que a conduta da mulher é colocada à prova.
Para que esse jogo se dê, um e outro revezam a condição de observador distante daquele que dialoga com a mulher, uma escritora que, ao final, vai dissimular a arquitetura que é feita desse triângulo.
Até então inédita, a montagem de "Credores" estreou no Rio em 2003 e ganha temporada em São Paulo a partir de hoje, no teatro Sesc Anchieta.
Segundo o diretor e idealizador do projeto, Antonio Gilberto, 47, trata-se de oportunidade para o espectador familiarizado descobrir outra face da dramaturgia de Strindberg, mais conhecido por montagens de peças como "Senhorita Júlia", "A Mais Forte" e "O Sonho".
"Credores" se passa em três momentos. No primeiro, o pintor Adolf (Marcos Winter) conversa com o professor Gustav (Emílio de Mello). No segundo, Adolf testa sua mulher, a escritora Tekla (Alesasndra Negrini). Por fim, no terceiro momento, Gustav e Tekla se reencontram e vem à tona o plano.
"É como um filme de Hitchcock, o público é informado sobre a trama e vai acompanhando os passos dos personagens como se observasse a tudo de outra janela. O efeito dramatúrgico é incrível", diz Gilberto.
É um jogo que inclui alucinação, fascínio, fetiche, sedução. A comicidade da primeira parte evolui para o desfecho mais trágico da segunda, quando a mulher toma rédeas da situação.
"A vida dos personagens muda 180 graus em cerca de 90 minutos, graças à unidade de tempo de Strindberg", diz Gilberto.


CREDORES. Texto: August Strindberg. Tradução: Marcos Ribas de Faria. Direção: Antonio Gilberto. Com Alessandra Negrini, Emílio de Mello e Marcos Winter. Onde: teatro do Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, tel. 3256-2281). Quando: estréia hoje, para convidados; a temporada abre amanhã; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h. Até 30 de maio. Quanto: R$ 20.


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