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Strindberg subverte o voyeur em "Credores"
DA REPORTAGEM LOCAL
Em "Credores", peça da primeira fase realista de sua dramaturgia, que depois enveredou por caminhos simbolistas, o sueco August Strindberg (1849-1912) instaurava um contrato seminal entre observador e observado, a
condição voyeur do espectador
no teatro, de preferência não-passivo, com extensão para o discurso amoroso, conforme a máscara
dos próprios personagens.
Um pintor conversa com um
homem que conheceu num balneário de verão, enquanto sua
mulher vai ao centro da cidade.
Este homem, que na verdade é o
ex-marido da mulher, o enreda a
uma trama de apostas em que a
conduta da mulher é colocada à
prova.
Para que esse jogo se dê, um e
outro revezam a condição de observador distante daquele que
dialoga com a mulher, uma escritora que, ao final, vai dissimular a
arquitetura que é feita desse triângulo.
Até então inédita, a montagem
de "Credores" estreou no Rio em
2003 e ganha temporada em São
Paulo a partir de hoje, no teatro
Sesc Anchieta.
Segundo o diretor e idealizador
do projeto, Antonio Gilberto, 47,
trata-se de oportunidade para o
espectador familiarizado descobrir outra face da dramaturgia de
Strindberg, mais conhecido por
montagens de peças como "Senhorita Júlia", "A Mais Forte" e
"O Sonho".
"Credores" se passa em três momentos. No primeiro, o pintor
Adolf (Marcos Winter) conversa
com o professor Gustav (Emílio
de Mello). No segundo, Adolf testa sua mulher, a escritora Tekla
(Alesasndra Negrini). Por fim, no
terceiro momento, Gustav e Tekla
se reencontram e vem à tona o
plano.
"É como um filme de Hitchcock, o público é informado sobre
a trama e vai acompanhando os
passos dos personagens como se
observasse a tudo de outra janela.
O efeito dramatúrgico é incrível",
diz Gilberto.
É um jogo que inclui alucinação,
fascínio, fetiche, sedução. A comicidade da primeira parte evolui
para o desfecho mais trágico da
segunda, quando a mulher toma
rédeas da situação.
"A vida dos personagens muda
180 graus em cerca de 90 minutos,
graças à unidade de tempo de
Strindberg", diz Gilberto.
CREDORES. Texto: August Strindberg.
Tradução: Marcos Ribas de Faria. Direção:
Antonio Gilberto. Com Alessandra
Negrini, Emílio de Mello e Marcos Winter.
Onde: teatro do Sesc Anchieta (r. Dr. Vila
Nova, 245, Vila Buarque, tel. 3256-2281).
Quando: estréia hoje, para convidados; a
temporada abre amanhã; sex. e sáb., às
21h; dom., às 19h. Até 30 de maio.
Quanto: R$ 20.
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