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TEATRO
Encenação, que integra o 6º Cultura Inglesa Festival, tem como elenco brancos e aborígenes contando histórias
Australianos "unidos" trazem peça a SP
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO
Aborígenes e brancos. Árvores
pandano (comuns no norte australiano) e uma moderna antena
parabólica. Elementos díspares,
que entraram muitas vezes em
contradição durante a história da
Austrália, são referências -não
apenas cênicas e de elenco- de
"Crying Baby", que estréia hoje
em São Paulo.
O espetáculo da Marrugeku
Company faz quatro apresentações na cidade, integrando a programação teatral do 6º Cultura Inglesa Festival.
Com cerca de 20 artistas em cena, "Crying Baby" (algo como
"bebê chorão") narra a história de
uma criança abandonada no deserto pela tribo em que nasceu e
de seus posteriores contatos com
os colonizadores brancos.
Contado por Thompson Yulidjirri, um ativo artista aborígene,
traduzido para o inglês pelo diretor musical Matthew Fargher e,
enfim, vertido para o português
por Alexandre Roit, o relato, palavra pura, à la contador de histórias, é encenado e ilustrado com
danças da etnia Kunwinjku, música -gravada e acompanhada
por instrumentos ao vivo- e filmes. Não faltarão ainda acrobacias, malabarismos e pernas-de-pau, técnicas do circo.
Há, intercalada à história do pequeno índio órfão, outras narrativas. A intenção do espetáculo é fazer uma leitura contemporânea
das ancestrais fábulas aborígenes
e, sem perder as raízes, atualizá-las ao mosaico cultural em que se
constitui hoje a Austrália.
Toda essa festa acontece, é claro,
sem prejuízo da consciência do
passado pós-colonial traumático.
E de seus prolongamentos no presente. "O trauma ainda existe em
forma de racismo, há ainda muitos aborígenes vivendo em más
condições. O que podemos fazer é
contar histórias para ajudar as
pessoas a terem uma visão mais
aberta", diz Matthew Fargher,
responsável pela parte musical da
encenação, que tem como diretora Rachael Swain.
Já ficou consagrada a comparação que se faz entre Brasil e Austrália. Tanto pela extensão pouco
comum dos territórios como pelos passados semelhantes. "Vocês
têm uma história parecida, há
muitas ligações", declara Fargher
a respeito das complexas relações
entre colonizador e colonizado.
O espaço escolhido para a celebração foram os jardins do Museu da Casa Brasileira, antigo Solar Prado, onde morou um dos
prefeitos da cidade nos anos 30,
Fábio Prado. Ao ar livre, a montagem abriga a platéia numa arquibancada em semicírculo.
Criada em 1994, a Marrugeku
Company teve como primeiro
trabalho "Mimi", encenado em
96. Desde então, a companhia
tem procurado desenvolver uma
linha de atuação capaz de abarcar
múltiplas faces da identidade cultural da Austrália. "Crying Baby"
tem também atores de teatro físico da Stalker Theatre Company.
Durante o espetáculo, é projetado um filme do diretor de cinema
aborígene Warwick Thornton.
CRYING BABY - espetáculo multimídia
australiano.
História: Thompson
Yulidjirri.
Direção: Rachael Swain.
Com: Marrugeku Company.
Onde: Museu da Casa Brasileira (av. Brig. Faria Lima,
2.705, Jardim Europa, tel. 3032-3727).
Quando: de hoje a sexta-feira, às 20h30; sábado, às 21h. Únicas apresentações.
Quanto: de R$ 10 a R$ 30. 90 minutos.
Patrocinador: Cultura Inglesa.
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