São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Escultor mineiro divide exposição na galeria Marília Razuk com mais cinco artistas do mesmo Estado

Amilcar ecoa sua obra em nova geração

Divulgação
"Sem título", obra do escultor mineiro Amilcar de Castro que está em exposição com mais cinco artistas na galeria Marília Razuk


TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA

A última exposição de Amilcar de Castro, na galeria Marília Razuk, articula a produção recente do escultor mineiro com o trabalho de artistas mais jovens atuantes na cena contemporânea de Belo Horizonte. Descartada qualquer referência a uma escola local, fica difícil reduzir a exposição a uma linha reta que sai do escultor octogenário em direção aos outros criadores.
Os trabalhos repercutem uns nos outros. Preservam a singularidade de cada, mas criando ecos, onde é possível visualizarmos, dentre diferentes escolhas formais, a conversa percebemos dum meio vivo.
A partir dos anos 90, Amilcar de Castro renovou, mais uma vez, sua escultura. As chapas de ferro que eram fendidas e abertas apresentam-se inteiras sem nenhuma interrupção em sua superfície. A realização trabalha com chapas irregulares previamente cortadas em faces irregulares e distintas. Dobradas, com vigor, estas faces se constituem como corpos distintos, que se equilibram em um apoio mútuo.
Renato Madureira, em sua melhor escultura, não tem nada de acanhamento. As folhas de aço acumuladas, apesar de mostrarem maleabilidade, fazem volume e impressionam pela multiplicidade de direções. Esta aparente falta de desenvoltura aqui se revela como qualidade.
Uma é sobreposta em cima da outra, se ondula numa marcha objetiva, que entretanto não homogeneiza a posição de cada chapa. Aqui, os elementos da peça, querem ser forma, mas sem abdicar de suas peculiaridades estruturais. O que poderia ser um descompasso rítmico na peça acaba a enriquecendo. Descoordenadas, as chapas se adensam. Não se curvam às necessidades de um movimento unidirecional, mas explodem em múltiplas virtualidades, como se a complexidade do gesto, sobre cada chapa, devesse ser explorada. De certo modo acerta contra certa voga "do projeto" na arte contemporânea.
Sobretudo em alguns trabalhos em mídia eletrônica onde as diretrizes da arte parecem vir em primeiro lugar. As bras são manifestos banhadas de intenção que parecem coordenar o uso de todos os elementos na comprovação de alguma tese. Retirando da arte o que ela tem de problemática, a convertendo em uma falsa transparência, evidente e reversível.
Isaura Pena também tenta fugir desta transparência pelo acúmulo. Em seu desenho negro de traços espessos se multiplicam por trás de um núcleo pintado. O trabalho não acontece no espaço comum, como nos anteriormente comentados.
Por vias inteiramente distintas José Bento e Roberto Bethônico procuram intensificar a realidade pelo mesmo desmentido do olhar. Como um quebra-cabeça, Bento usa uma estrutura de madeira, que redesenharia um tronco. No entanto a espessura das faixas faz escapar a imagem. A peça se torna coisa. E mesmo que o excesso de entalhe por vezes incomode, é interessante como o artista consegue desmentir uma figuração o tempo todo.
Em Bethônico tal movimento se dá pela relação entre a transparência e a opacidade dos objetos. Por fim as coisas acabam se confundindo, somos postos diante de um mundo cheio de camadas, mas sobre o qual o homem pode agir com alguma efetividade.


Amilcar de Castro e cinco artistas mineiros    
Quando: de seg. a sex.: das 10h30 às 19h. sáb.: das 11h às 14h. Até 3/8.
Quanto: grátis
Onde: galeria Marília Razuk (av. Nove de Julho, 5.719, loja 2, Jardim Paulista, tel. 3079-0853)




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