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TEATRO
Texto estreado em 1933 é a segunda obra do autor a ser apresentada no projeto Memória da Comédia Brasileira
Tapa lê "Amor" de Oduvaldo Vianna pai
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO
1933. Enquanto Oswald de Andrade (1890-1954) mourejava na
feitura de "O Rei da Vela" -despejado em livro quatro anos depois, no palco apenas em 67-,
uma peça estreava na cidade.
Obra de um "cético sorridente",
nos dizeres de certa crítica da época. Em setembro daquele ano, era
anunciada no jornal "Folha da
Manhã" como "formidável sátira
social em três atos e 35 quadros".
Falava-se de "Amor", de Oduvaldo Vianna (1892-1973). Criada
especialmente para Dulcina de
Moraes e Manoel Durães, estrelas
do tempo, a peça recebe leitura dirigida por Eduardo Tolentino e levada por seu grupo, o Tapa.
É o segundo texto do dramaturgo (depois de "Manhãs de Sol")
mostrado no projeto Memória da
Comédia Brasileira, que tem lugar
no teatro Arthur Azevedo, na
Mooca, região leste.
Vianna, aliás, nasceu no Brás.
Rose Abdallah, 39, coordenadora
da iniciativa, afirma que o fato influenciou na escolha. "A gente está do ladinho do bairro dele."
Acrescenta: "Oduvaldo Vianna
foi um pioneiro. Antes dele, os
diálogos eram ditos ainda com o
português de Portugal. Ele buscou a prosódia brasileira".
E, por falar em linguagem,
"Amor" era alcunhada de "comédia-filme" por seus contemporâneos. A ação verte a história de
um casal cuja mulher é marcadamente ciumenta. Divide-se em
cinco planos. Conta-se a história
em flashback. Seria a antecipação,
em uma década, dos procedimentos renovadores da montagem de
cenas do rodriguiano "Vestido de
Noiva"?
Para Eduardo Tolentino, 47,
nem tanto. "Não chega a tanto. De
jeito nenhum. A questão do Nelson é mais funda, até temática. É
uma virada de outra ordem.
"Amor" tem laivos de "modernices". "Vestido de Noiva" pode ser
feito em qualquer lugar, em qualquer época", diz ele, que dirigiu o
texto e o levou à Polônia em 2000.
Parece se distanciar um pouco
do juízo de José Renato, 76, diretor da Casa da Comédia, um dos
núcleos que organizam o ciclo.
"Todo o mundo venera Nelson
Rodrigues como o grande criador
do teatro brasileiro moderno. Porém, dez anos antes, Oduvaldo escreveu essa peça, que tem tudo a
ver com a técnica de teatro moderno. Antecipou. Claro que o
Nelson tem toda a importância.
Não estou contestando nada, mas
a técnica já não era novidade."
Tolentino não de todo discorda.
"As pessoas tentam ver influências internacionais em Nelson,
mas acho que a primeira fonte em
que ele bebeu foi Oduvaldo Vianna pai", diz. "Apesar de ser uma
dramaturgia muito naïf, muito
ingênua", emenda o diretor, que
promete uma leitura dramática
simples. "A gente quer ler bem."
Enfim, Memória da Comédia
Brasileira é fruto de parceria entre
a Casa da Comédia, a Prefeitura
de São Paulo e a biblioteca Jenny
Klabin Segall, do museu Lasar Segall. Visa abordar uma produção
hoje menos conhecida, surgida na
primeira metade do século 20.
Antes de Oduvaldo Vianna, pai
de Vianninha (1936-1974), Pedro
Bloch, beirando os 90 anos, autor
de "As Mãos de Eurídice", teve
textos seus lidos. O próximo artista recobrado pela posteridade é
Joracy Camargo (1898-1973), criador da comédia "Deus lhe Pague".
AMOR.
Texto: Oduvaldo Vianna.
Direção: Eduardo Tolentino.
Com: grupo Tapa.
Onde: teatro Arthur Azevedo (av. Paes de
Barros, 955, tel. 6605-8007).
Quando: hoje, às 20h. Entrada franca.
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