São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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TEATRO

Texto estreado em 1933 é a segunda obra do autor a ser apresentada no projeto Memória da Comédia Brasileira

Tapa lê "Amor" de Oduvaldo Vianna pai

PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

1933. Enquanto Oswald de Andrade (1890-1954) mourejava na feitura de "O Rei da Vela" -despejado em livro quatro anos depois, no palco apenas em 67-, uma peça estreava na cidade. Obra de um "cético sorridente", nos dizeres de certa crítica da época. Em setembro daquele ano, era anunciada no jornal "Folha da Manhã" como "formidável sátira social em três atos e 35 quadros".
Falava-se de "Amor", de Oduvaldo Vianna (1892-1973). Criada especialmente para Dulcina de Moraes e Manoel Durães, estrelas do tempo, a peça recebe leitura dirigida por Eduardo Tolentino e levada por seu grupo, o Tapa.
É o segundo texto do dramaturgo (depois de "Manhãs de Sol") mostrado no projeto Memória da Comédia Brasileira, que tem lugar no teatro Arthur Azevedo, na Mooca, região leste.
Vianna, aliás, nasceu no Brás. Rose Abdallah, 39, coordenadora da iniciativa, afirma que o fato influenciou na escolha. "A gente está do ladinho do bairro dele." Acrescenta: "Oduvaldo Vianna foi um pioneiro. Antes dele, os diálogos eram ditos ainda com o português de Portugal. Ele buscou a prosódia brasileira".
E, por falar em linguagem, "Amor" era alcunhada de "comédia-filme" por seus contemporâneos. A ação verte a história de um casal cuja mulher é marcadamente ciumenta. Divide-se em cinco planos. Conta-se a história em flashback. Seria a antecipação, em uma década, dos procedimentos renovadores da montagem de cenas do rodriguiano "Vestido de Noiva"?
Para Eduardo Tolentino, 47, nem tanto. "Não chega a tanto. De jeito nenhum. A questão do Nelson é mais funda, até temática. É uma virada de outra ordem. "Amor" tem laivos de "modernices". "Vestido de Noiva" pode ser feito em qualquer lugar, em qualquer época", diz ele, que dirigiu o texto e o levou à Polônia em 2000.
Parece se distanciar um pouco do juízo de José Renato, 76, diretor da Casa da Comédia, um dos núcleos que organizam o ciclo.
"Todo o mundo venera Nelson Rodrigues como o grande criador do teatro brasileiro moderno. Porém, dez anos antes, Oduvaldo escreveu essa peça, que tem tudo a ver com a técnica de teatro moderno. Antecipou. Claro que o Nelson tem toda a importância. Não estou contestando nada, mas a técnica já não era novidade."
Tolentino não de todo discorda. "As pessoas tentam ver influências internacionais em Nelson, mas acho que a primeira fonte em que ele bebeu foi Oduvaldo Vianna pai", diz. "Apesar de ser uma dramaturgia muito naïf, muito ingênua", emenda o diretor, que promete uma leitura dramática simples. "A gente quer ler bem."
Enfim, Memória da Comédia Brasileira é fruto de parceria entre a Casa da Comédia, a Prefeitura de São Paulo e a biblioteca Jenny Klabin Segall, do museu Lasar Segall. Visa abordar uma produção hoje menos conhecida, surgida na primeira metade do século 20.
Antes de Oduvaldo Vianna, pai de Vianninha (1936-1974), Pedro Bloch, beirando os 90 anos, autor de "As Mãos de Eurídice", teve textos seus lidos. O próximo artista recobrado pela posteridade é Joracy Camargo (1898-1973), criador da comédia "Deus lhe Pague".


AMOR.
Texto: Oduvaldo Vianna.
Direção: Eduardo Tolentino.
Com: grupo Tapa.
Onde: teatro Arthur Azevedo (av. Paes de Barros, 955, tel. 6605-8007).
Quando: hoje, às 20h. Entrada franca.



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