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"Não há mais poetas como John Ford no cinema atual"
Peter Bogdanovich fala sobre Ford e documentário que dedicou ao cineasta
"Directed by John Ford", com depoimentos de John Wayne e Scorsese, integra a mostra que começa hoje no CCBB
DE SÃO PAULO
Quando Peter Bogdanovich, 71, decidiu ser cineasta,
ouviu do pai apenas um conselho: "Procure os grandes e
aprenda tudo com eles".
Ele levou as palavras ao pé
da letra. Não contente em ver
e rever muitos filmes, bateu à
porta de todos os grandes cineastas do período, munido
de um gravador e de muita
curiosidade.
Por sorte dele, era o início
dos anos 1960 e seus professores foram nomes como
John Ford (1894-1973), Alfred
Hitchcock (1899-1980) e Howard Hawks (1896-1977).
Um dos resultados dessa
empreitada, "Directed by
John Ford", iniciado em 1971
e só concluído em 2006, está
na mostra do CCBB dedicada
a Ford, que começa hoje.
O documentário de Bogdanovich tem depoimentos de
colaboradores de Ford, como
John Wayne, e de diretores
fãs de seu trabalho, como
Martin Scorsese.
Um dos grandes nomes da
história do cinema, Ford fez
clássicos como "No Tempo
das Diligências" (1939) e
"Rastros de Ódio" (1956).
Bogdanovich provou-se
bom aluno. Lançou em 1971
"A Última Sessão de Cinema", indicado a oito Oscars.
Em entrevista à Folha, falou sobre o legado de Ford.
Folha- Quando o sr. conheceu
John Ford?
Peter Bogdanovich - Conheci Ford em 1963, quando
acompanhei por três semanas a filmagem de "Crepúsculo de uma Raça". Nós nos
demos muito bem. Ele só reclamava que eu era muito curioso. "Jesus Cristo", dizia
ele, "de onde você tira tantas
perguntas?" (risos).
O que aprendeu com ele?
Muita coisa. Aprendi que o
diretor deve ter completo
controle do set e do filme. Ele
tinha 69 anos, mas ainda era
muito forte, muito vigoroso.
Qual o legado de Ford?
Provavelmente ele foi o
grande diretor americano.
Ford foi um intérprete dos
costumes dos EUA e deixou
algumas das imagens mais
deslumbrantes do cinema.
Tinha um extraordinário
senso de composição. Ele tinha um olhar de pintor, um
olhar extremamente poético.
O sr. já disse que a idade de
ouro do cinema terminou
com "O Homem que Matou o
Facínora" (1962). Por quê?
O sistema ruiu naquele
ano. Os estúdios entraram
em crise. Desde então, não
surgiram mais muito filmes
como "O Homem...".
Mas o sr. mesmo fez bons filmes depois disso.
Obrigado. Surgiram bons
cineastas nos anos 1960, como John Cassavetes (1929-1969), mas, no geral, o cinema não tem mais o vigor do
passado. Não há mais poetas
como John Ford. Não sei nos
outros países, mas, nos EUA
o cinema está em declínio.
(MARCO RODRIGO ALMEIDA)
DIRECTED BY JOHN FORD
DIREÇÃO Peter Bogdanovich
PRODUÇÃO EUA, 1971/2006
QUANDO 26/9, às 19h30, e 16/
10, às 12h
ONDE CCBB (leia ao lado)
CLASSIFICAÇÃO livre
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