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DANÇA
Sankai Juko leva butô à pisicina de ovos
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
O grupo Sankai Juku, que representa a segunda geração da dança
butô no Japão, estréia hoje, no
teatro Sérgio Cardoso, o espetáculo "Unetsu", produzido pela
companhia em 1986.
Essa é a segunda temporada que
o Sankai Juku realiza no Brasil,
onde se apresentou em 1988, no
Carlton Dance Festival. Fundado
em 1975 pelo coreógrafo Ushio
Amagatsu, o grupo radicou-se em
Paris em 1982. Desde então, é o
Théâtre de la Ville que patrocina
suas produções, a cada dois anos.
"O butô não estimula um ensino acadêmico ou a criação de uma
escola porque não é simplesmente
uma técnica. Para o bailarino, essa
dança significa enfocar seu próprio interior, e isso exige um tempo relativamente longo, que é diferente de pessoa para pessoa",
diz Amagatsu.
Segundo o coreógrafo, não existe no butô uma espiritualidade religiosa, tampouco influências do
budismo. "Durante o trabalho,
fala-se em concentração, e não em
meditação", esclarece.
Utilizando movimentos lentos,
profundamente interiorizados, a
dança do Sankai Juku também
possui grande plasticidade cênica.
Por essa razão, Amagatsu vem recebendo convites para dirigir óperas.
Água e areia
Em "Unetsu" -ou "Os Ovos
em Pé por Curiosidade"-, os
bailarinos dançam dentro de uma
piscina de dez centímetros de profundidade, em que repousam
ovos gigantes.
Quando quebrados, sugerem a
liberação da vida e o caminho em
direção à morte.
O ciclo de vida e morte ainda é
enfatizado pelos filetes de água e
areia que escorrem da abóbada do
palco.
"A água é o símbolo da liberdade, do nascimento, daquilo que
começa. A areia é a vida e, ao mesmo tempo, a morte", afirma
Amagatsu.
Hoje disposto a encontrar o que
há de comum entre as culturas
ocidental e oriental, Amagatsu
acrescenta: "Fisicamente sou um
asiático. Mas gostaria que meu
trabalho fosse observado sob outros aspectos. Não me considero
um representante da cultura japonesa nem pretendo apresentar um
trabalho japonês".
"A dança, em qualquer tradição
ou país, estabelece um diálogo entre o corpo e a gravidade. Para
mim, o movimento se resume a
duas forças essenciais, a tensão e o
relaxamento."
Sobre seu elenco, que reúne cinco bailarinos, incluindo ele mesmo, Amagatsu comenta: "Cada
intérprete tem uma trajetória particular. Mas, de maneira geral, a
maioria trabalha comigo há 12 ou
13 anos. O mais antigo está no
grupo há 22 anos. Entre nós não
existe uma relação de mestre e
discípulo. Todos fazem parte do
Sankai Juku, mas podem dançar
em outros grupos. Temos uma
consciência de companhia, mas,
ao mesmo tempo, cada um é senhor de si".
Espetáculo: Unetsu, com o grupo Sankai
Juku
Quando: de hoje a sábado, às 21h;
domingo, às 19h
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r.
Conselheiro Ramalho, 538; tel. 251-5122)
Quanto: R$ 35 (platéia) e R$ 25
(mezzanino). À venda na bilheteria e por
meio de Amex em Cartaz (tel.
011/263-0066)
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