São Paulo, quarta, 22 de outubro de 1997.



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DANÇA
Sankai Juko leva butô à pisicina de ovos

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

O grupo Sankai Juku, que representa a segunda geração da dança butô no Japão, estréia hoje, no teatro Sérgio Cardoso, o espetáculo "Unetsu", produzido pela companhia em 1986. Essa é a segunda temporada que o Sankai Juku realiza no Brasil, onde se apresentou em 1988, no Carlton Dance Festival. Fundado em 1975 pelo coreógrafo Ushio Amagatsu, o grupo radicou-se em Paris em 1982. Desde então, é o Théâtre de la Ville que patrocina suas produções, a cada dois anos. "O butô não estimula um ensino acadêmico ou a criação de uma escola porque não é simplesmente uma técnica. Para o bailarino, essa dança significa enfocar seu próprio interior, e isso exige um tempo relativamente longo, que é diferente de pessoa para pessoa", diz Amagatsu. Segundo o coreógrafo, não existe no butô uma espiritualidade religiosa, tampouco influências do budismo. "Durante o trabalho, fala-se em concentração, e não em meditação", esclarece. Utilizando movimentos lentos, profundamente interiorizados, a dança do Sankai Juku também possui grande plasticidade cênica. Por essa razão, Amagatsu vem recebendo convites para dirigir óperas.
Água e areia
Em "Unetsu" -ou "Os Ovos em Pé por Curiosidade"-, os bailarinos dançam dentro de uma piscina de dez centímetros de profundidade, em que repousam ovos gigantes.
Quando quebrados, sugerem a liberação da vida e o caminho em direção à morte.
O ciclo de vida e morte ainda é enfatizado pelos filetes de água e areia que escorrem da abóbada do palco.
"A água é o símbolo da liberdade, do nascimento, daquilo que começa. A areia é a vida e, ao mesmo tempo, a morte", afirma Amagatsu.
Hoje disposto a encontrar o que há de comum entre as culturas ocidental e oriental, Amagatsu acrescenta: "Fisicamente sou um asiático. Mas gostaria que meu trabalho fosse observado sob outros aspectos. Não me considero um representante da cultura japonesa nem pretendo apresentar um trabalho japonês".
"A dança, em qualquer tradição ou país, estabelece um diálogo entre o corpo e a gravidade. Para mim, o movimento se resume a duas forças essenciais, a tensão e o relaxamento."
Sobre seu elenco, que reúne cinco bailarinos, incluindo ele mesmo, Amagatsu comenta: "Cada intérprete tem uma trajetória particular. Mas, de maneira geral, a maioria trabalha comigo há 12 ou 13 anos. O mais antigo está no grupo há 22 anos. Entre nós não existe uma relação de mestre e discípulo. Todos fazem parte do Sankai Juku, mas podem dançar em outros grupos. Temos uma consciência de companhia, mas, ao mesmo tempo, cada um é senhor de si".

Espetáculo: Unetsu, com o grupo Sankai Juku Quando: de hoje a sábado, às 21h; domingo, às 19h Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Conselheiro Ramalho, 538; tel. 251-5122) Quanto: R$ 35 (platéia) e R$ 25 (mezzanino). À venda na bilheteria e por meio de Amex em Cartaz (tel. 011/263-0066)


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