São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007

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Coletiva discute instabilidade da vida moderna

"Por um Fio" reúne, no Paço das Artes, vídeos e instalações de 14 artistas que criticam a velocidade do mundo atual

Na mostra estão Vik Muniz, Caetano Dias, Ernesto Neto e os premiados do Videobrasil Maurício Dias e Walter Riedweg, entre outros

Divulgação
Obra sem título de Rodrigo Matheus usa aquecedor encontrado em ateliê


SILAS MARTÍ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Doze cadeiras se equilibram sobre objetos de vidro e cristal. Parecem flutuar no espaço, prestes a despencar. A delicadeza instável da obra de Nino Cais resume a proposta de "Por um Fio", coletiva aberta hoje pelo Paço das Artes.
Com a idéia de que a modernidade fez do mundo uma batalha entre lentidão e rapidez, 14 artistas exploram a sensação de equilíbrio precário em vídeos e instalações -metáforas visuais que se sustentam por um fio. Maurício Dias e Walter Riedweg dão carga política à idéia.
Os artistas recém-premiados no 16º Videobrasil apresentam "Primeira Leitura", vídeo em que um transformista negro e sem dentes lê o preâmbulo da Constituição em voz alta.
"O trabalho mostra uma coisa que está em inércia, em estado de incubação. Como cidadãos, estamos aquém da Constituição", afirma Dias. Um plano fechado da boca maquiada e banguela do personagem resume com acidez a imagem de um país injusto e desequilibrado. Na mesma veia política, Caetano Dias suspende a realidade para jogar luz sobre a exclusão.
No vídeo "O Mundo de Janiele", uma menina brinca com um bambolê num dia de sol na periferia. Em câmera lenta, a paisagem da favela aparece rodopiando junto com ela, num estado onírico que camufla a miséria por instantes sublimes.

Máquinas e surtos
As máquinas que enforcam com seus fios elétricos um cotidiano surreal são tema das quatro fotomontagens de Rodrigo Matheus. Nas imagens impressas em grande formato, aquecedores e circuladores parecem controlar naturezas artificiais. "Fiz uma colagem de materiais comuns e ordinários que eu tinha no meu ateliê. O trabalho fica no limite entre a representação e o real", diz Matheus.
A realidade de um artista às voltas com a cobrança de um mercado global vira ficção num auto-retrato em vídeo de Ernesto Neto, que surta em cena. Ele ironiza opiniões dos críticos, exigências das galerias e a lógica do circuito artístico.
Se a estética aqui fica para um segundo plano, há uma contundência que dá conta do recado -até mesmo para os críticos, que podem desacelerar.
A instabilidade aparece também em duas obras de Vik Muniz, expostas lado a lado. O artista, que foi tema de uma grande individual no Paço neste ano, recria com barbantes e alfinetes as vistas do cárcere feitas pelo gravurista italiano Giovanni Piranesi. É a arquitetura literalmente por um fio.
Refletindo sobre a lógica dos espaços, Márcia Xavier lança um olhar aéreo sobre a cidade: três luminosos com fotos de rotatórias no trânsito ficam dentro de tubos espelhados, que fazem girar e pulsar um quadro estático. São focos de luz que escapam à inércia da cidade.

POR UM FIO
Quando:
abertura hoje, às 19h; de ter. a sex., das 11h30 às 19h; sáb. e dom., das 12h30 às 17h30; até 30/ 11
Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, Cidade Universitária, tel. 3814-4832)
Quanto: entrada franca


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