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FLORES DE XANGAI
Filme vale o esforço
AMIR LABAKI
de Nova York
Estabeleça-se de pronto:
"Flores de Xangai" não é um
filme fácil. Nada de trama ligeira, estrelas para imediata identificação, truques dramáticos
conhecidos. Ainda assim, jamais foi tão direto e elegante o
cinema de Hou Hsiao-hsien
(lê-se rou tiao tien), de Taiwan.
Hsiao-hsien, ainda no final
da década passada, adiantou a
nova onda asiática, que revelou
de Chen Kaige a Wong Kar-wai. Seu compassado épico familiar, "Cidade da Tristeza", levou o Leão de Ouro de Veneza-89. Outro mergulho na história
da China deste século, "O Mestre de Marionetes", conquistou
o Prêmio do Júri de Cannes-93.
São filmes lentos, exigentes,
minimalistas. As cenas se alongam, os cortes se retardam, o
diálogo cumpre papel essencial. Nessas primeiras obras, a
câmera permanecia estática.
Hsiao-hsien foi liberando-a aos
poucos para bailar em torno
dos personagens. Nasceram alguns dos mais elaborados planos-sequências do cinema contemporâneo.
Martin Scorsese disse que foi
"cativado pela utilização do ritmo no cinema de Taiwan, sobretudo no de Hsiao-hsien".
Mas, na presidência do júri de
Cannes deste ano, Scorsese
perdeu a chance de pagar tributo ao mestre. "Flores" saiu de
mãos abanando.
Em "Flores de Xangai" contam-se exatos 42 planos para
duas horas e quatro minutos de
projeção. Um filme normal tem
cerca de dez vezes mais planos.
Hsiao-hsien reeduca os sentimentos com sua precisão.
Sem nem sequer uma cena de
sexo, "Flores" reconstitui o cotidiano das prostitutas de luxo
na Xangai do final do século 19.
Hsiao-hsien estuda as relações
de comércio e de poder envolvendo a exploração feminina.
Garotas de 8 ou 9 anos eram
adquiridas por bordéis e domadas para servir aos ricos fregueses. Se revelavam talento,
podiam tirar a sorte grande de
um abastado cliente exclusivo.
O filme retrata três variações
desse mesmo drama. Um homem casa com uma prostituta
para desamparo de outra. Uma
cortesã luta para comprar seu
próprio "passe". Outra busca o
casamento, indignada com o
papel subalterno que lhe tem
sido reservado.
É manter os sentidos atentos
e usufruir de uma das mais
complexas reconstituições da
China há cem anos. Quem perder merece ver "Armageddon".
²
Quando: hoje, às 14h30, no Unibanco
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