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CINEMA
Novo filme de Samuel L. Jackson explora cartilha para público viciado em sangue
Cartel da violência perpetua subgênero
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Califórnia, anos 70: com
um baseado tamanho família na boca e um diploma de farmacologia largado no banco de
trás, Elmo McElroy (Samuel L.
Jackson), afro-hippie deslumbrado, dá uma de "easy rider" e
acaba parado pela polícia.
"Regras são coisas arbitrárias
feitas para pessoas que acreditam em conto de fadas como Papai Noel", diz ele ao guarda. Depois de tomar o baseado de
McElroy, dar uma tragada e jogá-lo fora, o guarda sentencia:
"Os anos 60 acabaram, cara!",
dando um tom de gag publicitária ao prólogo.
Trinta anos depois: tornado
gênio da química a serviço de
um grande cartel de drogas,
McElroy não parece disposto a
repetir os vacilos da juventude.
Ganhou o ar de infalibilidade e
altivez típicas dos personagem
interpretados por Jackson. Em
"Baladas, Rachas e um Louco de
Kilt", serve para Jackson provar
que pode manter sua faustosa
máscara mesmo paramentado o
filme (quase) inteiro com uma
saia escocesa (kilt) e com um saco de tacos de golfe nas costas.
Tendo inventado uma nova e
poderosa droga e implodido o
seu cartel americano, McElroy se
manda para a Inglaterra, decidido a vender o seu produto por
não menos que US$ 20 milhões.
"Baladas" não demora a se revelar um daqueles insuportáveis
subprodutos tarantinescos. Samuel "Pulp Fiction" Jackson é
recebido, em solo inglês, por Robert "Trainspotting" Carlyle:
juntos, seus personagens catalisam mais um daqueles típicos
curtos-circuitos entre gangues
dos filmes de Guy Ritchie, o discípulo (inglês) de Tarantino.
Esta não é a primeira nem a última co-produção internacional
que explora o (sub)gênero. Co-produções assim agem, mais ou
menos, como os grandes cartéis
de droga: escolhem homens de
confiança em cada país, dão-lhes
relativa liberdade para agir, exploram algumas características e
tendências locais e comercializam produtos de má qualidade
para um público já inteiramente
viciado em chacinas e torturas.
Para atender a tal demanda, foi
escalado para a direção de "Baladas" o chinês Ronny Yu, formado na escola dos filmes de ação
de Hong Kong e pós-graduado,
em solo americano, no gênero
de filme de horror. Em "Baladas", Yu não reedita apenas o
curto-circuito entre gangues dos
filmes de Ritchie, mas também
seus insultos e preconceitos.
Isso porque o público-alvo
continua o mesmo. Não por acaso a ação culmina em um estádio
de futebol, nos bastidores de um
clássico: o público ideal de filmes
desse gênero são os hooligans,
viciados em violência.
Baladas, Rachas e um Louco de
Kilt
The 51st State
Produção: EUA/Canadá/Reino Unido,
2002
Direção: Ronny Yu
Com: Samuel L. Jackson, Robert Carlyle
Quando: desde a última sex., nos cines
West Plaza, Butantã e circuito
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