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São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

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CINEMA

Novo filme de Samuel L. Jackson explora cartilha para público viciado em sangue

Cartel da violência perpetua subgênero

TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

Califórnia, anos 70: com um baseado tamanho família na boca e um diploma de farmacologia largado no banco de trás, Elmo McElroy (Samuel L. Jackson), afro-hippie deslumbrado, dá uma de "easy rider" e acaba parado pela polícia.
"Regras são coisas arbitrárias feitas para pessoas que acreditam em conto de fadas como Papai Noel", diz ele ao guarda. Depois de tomar o baseado de McElroy, dar uma tragada e jogá-lo fora, o guarda sentencia: "Os anos 60 acabaram, cara!", dando um tom de gag publicitária ao prólogo.
Trinta anos depois: tornado gênio da química a serviço de um grande cartel de drogas, McElroy não parece disposto a repetir os vacilos da juventude. Ganhou o ar de infalibilidade e altivez típicas dos personagem interpretados por Jackson. Em "Baladas, Rachas e um Louco de Kilt", serve para Jackson provar que pode manter sua faustosa máscara mesmo paramentado o filme (quase) inteiro com uma saia escocesa (kilt) e com um saco de tacos de golfe nas costas.
Tendo inventado uma nova e poderosa droga e implodido o seu cartel americano, McElroy se manda para a Inglaterra, decidido a vender o seu produto por não menos que US$ 20 milhões.
"Baladas" não demora a se revelar um daqueles insuportáveis subprodutos tarantinescos. Samuel "Pulp Fiction" Jackson é recebido, em solo inglês, por Robert "Trainspotting" Carlyle: juntos, seus personagens catalisam mais um daqueles típicos curtos-circuitos entre gangues dos filmes de Guy Ritchie, o discípulo (inglês) de Tarantino.
Esta não é a primeira nem a última co-produção internacional que explora o (sub)gênero. Co-produções assim agem, mais ou menos, como os grandes cartéis de droga: escolhem homens de confiança em cada país, dão-lhes relativa liberdade para agir, exploram algumas características e tendências locais e comercializam produtos de má qualidade para um público já inteiramente viciado em chacinas e torturas.
Para atender a tal demanda, foi escalado para a direção de "Baladas" o chinês Ronny Yu, formado na escola dos filmes de ação de Hong Kong e pós-graduado, em solo americano, no gênero de filme de horror. Em "Baladas", Yu não reedita apenas o curto-circuito entre gangues dos filmes de Ritchie, mas também seus insultos e preconceitos.
Isso porque o público-alvo continua o mesmo. Não por acaso a ação culmina em um estádio de futebol, nos bastidores de um clássico: o público ideal de filmes desse gênero são os hooligans, viciados em violência.


Baladas, Rachas e um Louco de Kilt
The 51st State  
Produção: EUA/Canadá/Reino Unido, 2002
Direção: Ronny Yu
Com: Samuel L. Jackson, Robert Carlyle Quando: desde a última sex., nos cines West Plaza, Butantã e circuito




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