São Paulo, segunda-feira, 23 de março de 2009

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"Arquitetura é a arte de construir uma cidade"

Responsável pelo projeto do marco zero em Nova York, Daniel Libeskind vem a SP

Arquiteto norte-americano, que dá palestra e lança livro amanhã, fala de uma "nova era" para as construções e diz que acabou o modernismo

Divulgação
Daniel Libeskind visita a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre


SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Da janela de sua casa e de seu escritório, o arquiteto Daniel Libeskind vê o canteiro de obras no marco zero do 11 de Setembro, o vazio imenso deixado pelas Torres Gêmeas em Nova York. É dele o projeto de reconstrução do terreno, que terá uma nova torre, mais alta que o famoso Empire State, prédios corporativos e um memorial para as mais de 3.000 vítimas do ataque terrorista.
Por acaso, era 11 de setembro de 2001 a data marcada para a inauguração de seu primeiro projeto, o Museu Judaico em Berlim. Filho de judeus poloneses sobreviventes do Holocausto, ele se mudou com a família aos 13 anos para Nova York e ainda lembra a manhã em que, do navio, enxergou a estátua da Liberdade em frente ao "skyline" que hoje ajuda a construir.
"A história nunca termina", diz Libeskind, 62, que amanhã lança um livro e dá uma palestra em São Paulo. E a dele parece estar ligada aos projetos que faz: "Mais do que prédios, comunicam algo no plano visual, estão conectados à história".
Como se tentasse acelerar a evolução dos estilos, Libeskind rejeita as formas modernistas que ainda pautam muitos arquitetos e privilegia a construção de torres megalomaníacas, deixando para trás um gênero "que achava que os humanos eram repetitivos demais, faziam sempre a mesma coisa".
No lugar das plantas abertas e a fusão de áreas internas e externas, fórmulas do modernismo, Libeskind ganhou fama construindo cidades verticais, torres de apartamentos autossuficientes -as menores com 70 andares-, para "proporcionar modos de vida dramáticos".
"O modernismo está sendo transformado. Foi um estilo do século 20, e agora estamos no século 21", diz Libeskind à Folha. "Estamos numa nova era. Faz cem anos que surgiu o modernismo, não podemos ficar presos a essa ideia que surgiu nos anos 20. A arquitetura não é estática, também não é só estilo. Deve ser uma resposta prática a problemas do entorno."
Descartando o adjetivo blockbuster, que costuma acompanhar suas obras, Libeskind diz que gosta de criar estruturas "práticas" e que quer "borrar a linha entre arquitetura e planejamento urbano".
"Não é a altura do prédio que determina os resultados, é a dimensão das possibilidades que esse edifício apresenta para a cidade", resume Libeskind. "A cidade é mais do que só um prédio. Eu trabalho em planos de grande escala, mas também em projetos pontuais, para reavivar alguns aspectos do lugar."
É o que tentou fazer com o Denver Art Museum, megacomplexo cultural que transformou a pacata capital do Colorado em polo das artes visuais. Nos arredores, Libeskind também projetou conjuntos residenciais que, ele diz, deram vida àquela parte da cidade.
"Não tem só a ver com prédios blockbuster. É uma contribuição que terá significado para as pessoas. Também não basta encher uma área de equipamentos culturais. Os ícones do século 21 têm de celebrar a vida em si", diz Libeskind. "Arquitetura é a arte cívica de construir uma cidade."


DANIEL LIBESKIND
Onde e quando: palestra amanhã, com senhas esgotadas, às 16h15, no Transamérica Expo Center (av. Dr. Mário Vilas Boas Rodrigues, 387, tel. 4613-2000); lançamento do livro "Counterpoint", às 18h30, na Livraria da Vila (al. Lorena, 1.731, tel. 3082-6013); grátis




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