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ARTE
Retrospectiva de Henry Moore na Pinacoteca, com obras feitas entre 1922 e 1985, leva visitante a passeio pelo modernismo
Exposição sintetiza dilemas da arte moderna
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Henry Moore sintetiza a arte
moderna. Suas obras reunidas na retrospectiva da Pinacoteca permitem acompanhar os passos que levam da vanguarda do
entre guerras aos últimos suspiros modernistas do início da globalização. A amplitude de técnicas e períodos exibidos, com
obras de 1922 a 1985, configura
mostra de fôlego internacional.
Moore (1898-1986) nasceu na
classe trabalhadora inglesa. Filho
de um mineiro de carvão, tomou
gosto pela arte por meio do estudo, no colégio. Após sofrer intoxicação pulmonar por armas químicas, lutando na Primeira Guerra, abraçou a escultura e o desenho para se tornar um dos mais
consagrados artistas do século 20.
O traço de retratista fora exímio
desde o começo, como revela
"Mary, a irmã do artista" (1926).
Mas a atração pela cultura material de sociedades alheias à repressora civilidade européia cedo mudaria o rumo de suas linhas.
Numa só vitrine, vemos a "Cabeça" (1923), de alabastro, a
"Máscara" (1927), de pedra verde,
e as "Duas Cabeças" (1924-25), de
pedra de Mansfield, cuja concisão
de formas e dureza de corte indicam a predileção por objetos tribais, bem como testemunham as
viagens a sítios de pintura rupestre. A ancestralidade da pedra
aparece repetidas vezes. Na série
de litogravuras "Stonehenge"
(1973), mostrando ângulos daquele local ritualístico, antevemos
o sentido da maquete "Labirinto
de Pedra: Projeto para Monumento na Colina" (1977).
A identificação com o surrealismo durante os anos 30 marcou a
trajetória posterior do artista. As
formas são assumidamente indeterminadas, mantendo associações orgânicas que sugerem seres
partidos.
No octógono do edifício da Luz,
a "Figura Reclinada Grande"
(1972-73) é composta de quatro
partes que se apóiam, mas não se
encaixam: é antes o peso que as
mantém unidas.
A admiração por Brancusi e Picasso sedimentaria a limpeza
construtiva conducente ao diálogo com a abstração. Na "Composição" (1931), de alabastro, um volume antropomórfico ganha índices femininos pela sugestão de
seios. Todavia o traço humano
pode ser reduzido até um mínimo
de dois orifícios, como na "Mãe e
Filho" (1936), em pedra de Ançã.
O ideal modernista da auto-evidência da obra de arte reverbera
em todo canto. Moore dirige-se
ao eterno, como na recorrente
composição da maternidade, um
eco de arquétipos icônicos a transitar pelos milênios. Excetua-se o
desenho "Perspectiva do Abrigo
do Metrô" (1941), em que a a cena
é situada nos bombardeios de
Londres, durante a Segunda
Guerra. Porém o conjunto não tematiza a história.
Rever a obra de Henry Moore é
indagar sobre os destinos da arte
moderna. A longa exploração da
potência das formas extraídas de
sólidos, seus cheios e vazios, conduz a um maneirismo de soluções
que se repetem para consolidar o
estilo próprio. Por outro lado, essa constância dá o tom heróico ao
conjunto da obra, como um ideal
independente dos reveses transcorridos. Ao comemorar cem
anos de existência, a Pinacoteca
do Estado escolheu ótimo espelho
para refletir.
Henry Moore - Uma Retrospectiva/Brasil 2005
Quando: ter. a dom., das 10h às 18h; até
12/6
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da
Luz, 2, centro, tel. 3229-9844)
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)
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