Com 70 pinturas do acervo permanente, exposição no museu propõe olhar sobre a vida humana a partir de paisagens naturais

Exposição traz obras de Monet, Van Gogh e William Turner, entre outros que retrataram campos abertos, florestas, mar e parques

Divulgação

"A Canoa sobre o Epté', de Monet, um dos destaques da mostra

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas mulheres passeiam de canoa sobre o leito turvo de um rio, mas estão no canto da tela, uma delas quase fora de cena.
No centro, só as pontas dos remos e o turbilhão colorido da água. A tela de Claude Monet, "A Canoa sobre o Epté" (1890), rompe com a perspectiva tradicional para mostrar um embate entre natureza e cultura.
Tirar o homem de cena para enquadrar sua própria natureza foi estratégia de artistas para revelar detalhes da vida humana com foco no entorno. São mestres como William Turner, John Constable e Frans Post, além de Matisse, Van Gogh, Picasso, Vlaminck e Vuillard, que terão 70 obras reunidas no Masp (Museu de Arte de São Paulo), a partir de hoje.
A mostra "A Natureza das Coisas" propõe um olhar sobre a vida humana mediado pelo horizonte explícito: o campo aberto, a floresta, o mar, parques e jardins, as cidades e as casas. "A paisagem é uma maneira de pensar o homem", diz o curador Teixeira Coelho. "E a natureza-morta é o que restou da paisagem depois que o homem foi retirado de campo."
A tradição iluminista, que afirma o domínio do homem sobre a natureza, surge clara nas telas em exposição -dos arroubos românticos das grandes paisagens desertas ao foco restrito nos objetos sobre a mesa. "É o fechamento brutal de horizontes e de perspectiva", resume Coelho. Se o início do percurso expõe "O Castelo de Caernarvon" (1830-35), clássico da pintura de paisagem inglesa de William Turner, a mostra termina com "A Princesa Bibesco", de Vuillard, retrato às avessas, que esconde a figura humana num mar de objetos. A paisagem urbana aparece depois, em telas de Guignard e Del Picchia, entre outros.