São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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"RUPTURA"

Montagem da mostra de 1952 revê proposta de renovação da arte através dos conceitos geométricos

Exposição discreta retorna às origens da abstração paulistana

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

A mostra sobre o grupo Ruptura é uma pérola. Remonta o cenário inaugural da abstração construtiva paulistana do pós-guerra, recuperando a discreta escala da época.
A curadoria repropõe o arranjo museológico da exposição original, que se encaixa adequadamente na modesta sala do Centro Universitário Maria Antonia.
A maioria das obras é do ano de 1952, exceto as de Féjer, da década de 70, e as de Haar, reproduzidas apenas em foto por estarem perdidas. Um painel com a imagem do evento comemorado completa a impressão de voltar àqueles tempos.
São Paulo vivia então o sonho de liderar a modernização do país. O Museu de Arte Moderna da cidade fora inaugurado havia quatro anos, em 1948, e acolheu sete artistas que propunham renovar a arte para salvá-la da ignorância.
Charroux, Cordeiro, de Barros, Féjer, Haar, Sacilotto e Wladyslaw assinaram em conjunto o manifesto que opunha a toda herança "naturalista" ou "hedonista" uma arte "deduzível de conceitos". O espectador que for celebrar o cinquentenário do movimento receberá logo à entrada uma cópia colorida do texto fundador, também em exibição.

Geometria
O sentido grupal aparece pela repetição do título "Ruptura": Geraldo de Barros usa-o uma vez e Waldemar Cordeiro, duas. Mas é o nome de outra obra deste último que dá a pista para o sentido filosófico do entrosamento entre os sete: "Idéia Visível". Numa linha abertamente neoplatônica, o esclarecimento através da arte confunde-se com a educação pela geometria.
Toda obra devia surgir de operações rigorosas sobre princípios claros: giros de linhas, figuras e sólidos, relações entre azul, amarelo, vermelho e preto. O diálogo com Mondrian e a Bauhaus é evidenciado por peças como a "Composição Ortogonal N. 2", do polonês Wladyslaw.
Entretanto os resultados obtidos atingem os ideais de modo irregular. A gestualidade da pincelada ainda é visível nos contornos das figuras de Charoux em "Abstrato Geométrico", tal como nas áreas de amarelo, azul e verde da "Articulação Complementária" de Sacilotto. Por contraste, obtém-se a completa impessoalidade do traço na "Composição Branca sobre Fundo Preto", de Charoux, nas duas "Funções Diagonais", de Geraldo de Barros, e nas quatro esculturas de acrílico de Féjer.
O projeto de modernidade arquitetado era indissociável da educação do público, pois a arte era proposta como um "meio de conhecimento acima da opinião".

Ruptura
   
Onde:Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, 2º andar, Vila Buarque, tel. 3255-5538)
Quando: de segunda a sexta, das 12h às 21h; sábado e domindo, das 9h às 21h; até 21/7
Quanto: entrada franca

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