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São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2003

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CRÍTICA

Popular e erudito se abraçam

DA REPORTAGEM LOCAL

O grande trunfo de "Hoje Lembrando", um dos mais elegantes trabalhos da vida da intérprete Inezita Barroso, é o tratamento sem preconceitos que ele dá ao ofício chamado música.
Inezita carrega o estigma de "caipira" e talvez por causa dele nunca tenha conseguido tanto reconhecimento quanto merecia e merece.
Algo próximo pode-se dizer sobre Théo de Barros, injustamente pouco celebrado fora do âmbito pop da parceria épica com Geraldo Vandré.
Pois o produtor Fernando Faro não promoveu apenas o encontro de duas pessoas ao confrontar a imensa sabedoria popular de Inezita com o violão e os arranjos modernos de Barros.
Há duas forças em contraste no duelo, e isso se demonstra quase como espanto em "Modinha", música de Heitor Villa-Lobos e poema de Manuel Bandeira.
O arranjo muito brasileiro, de franca apologia à música de Villa-Lobos, dança em harmonia e tensão com a voz trovejante, indomada, quase exagerada de Inezita.
O mais erudito e o dramaticamente popular se abraçam, se entrelaçam, dizem que se amam. A perfeição ronda os parceiros.
Não é só por causa daquela faixa. Villa-Lobos parece ser homenageado em "Bem Iguais" (de Paulo Vanzolini), em "Amo-te Muito", na caipira "Roda Carreta", na suicida "Ismália".
Inezita canta sobre tanta delicadeza feito dama antiga, de voz impostada, afoita até. É conflito, intriga os ouvidos.
Mas é também o reencontro de opostos que preconceitos demais sempre juraram inconciliáveis. Está transmitida a lição dos antigos professores.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Hoje Lembrando    
Artista: Inezita Barroso
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 28, em média


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