|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Popular e erudito se abraçam
DA REPORTAGEM LOCAL
O grande trunfo de "Hoje
Lembrando", um dos
mais elegantes trabalhos da vida da intérprete Inezita Barroso, é o tratamento sem preconceitos que ele dá ao ofício chamado música.
Inezita carrega o estigma de
"caipira" e talvez por causa dele
nunca tenha conseguido tanto
reconhecimento quanto merecia e merece.
Algo próximo pode-se dizer
sobre Théo de Barros, injustamente pouco celebrado fora do
âmbito pop da parceria épica
com Geraldo Vandré.
Pois o produtor Fernando
Faro não promoveu apenas o
encontro de duas pessoas ao
confrontar a imensa sabedoria
popular de Inezita com o violão
e os arranjos modernos de Barros.
Há duas forças em contraste
no duelo, e isso se demonstra
quase como espanto em "Modinha", música de Heitor Villa-Lobos e poema de Manuel Bandeira.
O arranjo muito brasileiro,
de franca apologia à música de
Villa-Lobos, dança em harmonia e tensão com a voz trovejante, indomada, quase exagerada de Inezita.
O mais erudito e o dramaticamente popular se abraçam,
se entrelaçam, dizem que se
amam. A perfeição ronda os
parceiros.
Não é só por causa daquela
faixa. Villa-Lobos parece ser
homenageado em "Bem
Iguais" (de Paulo Vanzolini),
em "Amo-te Muito", na caipira
"Roda Carreta", na suicida "Ismália".
Inezita canta sobre tanta delicadeza feito dama antiga, de
voz impostada, afoita até. É
conflito, intriga os ouvidos.
Mas é também o reencontro
de opostos que preconceitos
demais sempre juraram inconciliáveis. Está transmitida a lição dos antigos professores.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Hoje Lembrando
Artista: Inezita Barroso
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 28, em média
Texto Anterior: Música: Inezita Barroso extrapola o "caipira" Próximo Texto: Erudito: Europa Galante renova barroco Índice
|