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"O QUE DIZ MOLERO"
Atores realizam interpretação antológica de vários personagens, dirigidos por Aderbal Freire-Filho
Integração perfeita torna espetáculo imperdível
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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Cena de "O que Diz Molero", espetáculo sob direção de Aderbal Freire-Filho, com texto de Dinis Machado, em cartaz no Sesc Anchieta |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
O que faz de "O que Diz Molero" um espetáculo inesquecível não é apenas o cenário
monumental de José Manuel Castanheira, cujo sábio despojamento justifica o prestígio internacional, nem o revolucionário texto de
Dinis Machado, que com fôlego
vertiginoso, humor e poesia cria
uma espécie de odisséia feliniana
dos anônimos de uma aldeia portuguesa -ou seja, do mundo.
Não se faz imprescindível apenas pela consagração definitiva
do método do encenador-adaptador Aderbal Freire-Filho, o "romance-em-cena", que tem como
ponto de honra não modificar
uma vírgula do original, e revela
como resgatar a palavra no palco
sem abrir mão da teatralidade, façanha levada à perfeição pelos
atores-criadores.
A leitura ganha clareza ainda
maior com a luz de Maneco Quinderé, o figurino de Biza Vianna e a
trilha de Dudu Sandroni -mas
nenhum desses elementos, por si
só, bastaria.
O que faz "Molero" ser antológico é a perfeita integração de seus
criadores. Dos solenes fichários
de Castanheira saem os adereços
que vão compor as centenas de
personagens em que os seis atores
se multiplicam, e essa euforia de
cabaré brechtiano, que Aderbal
tão bem domina, é a perfeita tradução da fábula metalingüística
de Machado.
O que diz Machado, afinal, em
seu texto quebra-cabeça no qual o
narrador está ausente e o protagonista é anônimo, é sobre a importância de contar histórias, como
um fim em si para justificar a banalidade do mundo.
Antológicos
Como nos melhores espetáculos, é dos atores a responsabilidade maior. E eles não decepcionam
nunca.
Orã Figueiredo, por ser o Zuca
do grupo, o líder que dá o ritmo,
mereceu o Prêmio Shell, mas Augusto Madeira, com um tragicômico suicídio em cadeira de rodas, Cláudio Mendes, cuja opulência é inesperada matéria-prima de mulheres tocantemente
submissas, ao inverso de Raquel
Iantas, cuja falsa magreza resulta
às vezes em sensualidade rachmaninófica, junto a Gillray Coutinho, um Robin Williams brasileiro, e Chico Diaz, o atônito protagonista anônimo, são igualmente
antológicos.
A crítica raramente foi tão unânime e no Rio de Janeiro e em Curitiba consagrou o espetáculo por
reunir pesquisa e diversão, lirismo e humor. Falta alguma coisa?
Sim: falta o público, sem o qual
tudo é em vão.
Inexplicavelmente, anda vazio o
Sesc Consolação. Se o prestígio do
crítico ainda valer alguma coisa,
aposto todas as minhas estrelas
neste "O que Diz Molero".
O que Diz Molero
De: Dinis Machado
Direção: Aderbal Freire-Filho
Com: Augusto Madeira, Raquel Iantas,
Orã Figueiredo, Cláudio Mendes, Gillray
Coutinho, Chico Diaz
Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova,
245, região central, tel. 3234-3000)
Quando: sexta, às 21h; sábado, às 20h;
domingo, às 19h; até 1º/8
Quanto: R$ 20
Patrocínio: BrasilTelecom
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