São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

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Crítica/teatro/"O Eclipse"

Com carisma, Martini expõe sarcasmo de diva italiana

Protagonista da peça lembra a atriz Eleonora Duse, sob direção de Jô Soares

Leo Caobelli/Folha Imagem
Roney Facchini e Jandira Martini em cena do espetáculo "O Eclipse", em cartaz no Novotel Jaraguá, no centro de SP, até 26/10

SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Com um humor mais sutil do que o que costuma marcar sua parceria com Marcos Caruso, Jandira Martini faz uma delicada homenagem à atriz italiana Eleonora Duse (1858-1924). Partindo de uma sólida pesquisa, Martini imagina um provável encontro entre a diva do novo teatro realista, deslocada na provinciana São Paulo de 1907, e o empresário Francisco Serrador, que apresentava no mesmo hotel a novidade do cinematógrafo. Um bom mote para o conflito entre entretenimento e arte, que a autora desenvolve em uma narrativa linear, aproveitando para levantar temas polêmicos e atuais (o teatro deve ser caro, porque custa muito para quem o faz). O contraponto com o anônimo Pietro, um humilde compatriota, cozinheiro do hotel, que gastou seu salário para vê-la, traz à ribalta o teatro como encontro entre indivíduos, e não como exposição de celebridades, o que sempre é bom de se ouvir. Enquanto atriz, Martini empresta seu carisma ao sarcasmo amargo de Duse, já desencantada com a carreira, sabendo alternar grandiloqüência e tiradas mais prosaicas. Roney Facchini, como o simpático Pietro, faz um contraponto importante para a peça, enquanto Maurício Guilherme interpreta um Serrador sem muita profundidade, como que para ressaltar a trivialidade de seus propósitos. Há deficiências no espetáculo: o cenário que naufraga entre o realista e o simbólico, definindo mal um local de ação meio improvável (um saguão de hotel no qual um cozinheiro trabalha), e um figurino que veste a supersticiosa Duse de verde. A direção de Jô Soares brinca com as marcações hieráticas do teatrão, mas deixa os atores soltos demais em cena, andando a esmo, além de introduzir por meio de luz e trilha passagens de tempo desnecessárias, cacoete já presente em "Às Favas com os Escrúpulos". Curiosamente, a inovadora Duse acaba se impondo como a defensora do teatro tradicional, que resiste à triviliazação do sucesso fácil. Que contagie a platéia do teatro Jaraguá.

O ECLIPSE
Quando: sex., às 21h30; sáb., às 21h; e dom., às 19h; até 26/10
Onde: Jaraguá - Novotel Jaraguá (r. Martins Fontes, 71, tel. 3255-4380)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Quanto: R$ 60
Avaliação: bom



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