|
Próximo Texto | Índice
ARTES CÊNICAS
Companhia estréia espetáculo "Transex", ambientado na praça Roosevelt e que inaugura uma trilogia
Grupo Satyros encena o amor transexual
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma peça sobre travestis e transexuais que não é fixada em "travestismo", submundo da prostituição ou outros impulsos antropológicos ou sociais. "Transex"
fala de amor, sobretudo.
Em se tratando de nova montagem do grupo Os Satyros, que entra em cartaz amanhã, não se espera pílulas douradas. Ao contrário. O recorte para o sentimento
universal vem da própria intimidade que os artistas do grupo colhem da convivência com esses
personagens da vida real na praça
Roosevelt, onde plantou seu espaço em 2000.
Duas pessoas inspiraram o projeto dos Satyros: a cubana Phedra
D. Córdoba, 67 (que atua em "A
Filosofia na Alcova", em cartaz), e
a paulistana Savana Meirelles, 36
(que participou de peça do grupo
em 1992 e o reencontrou agora).
Em "Transex", elas são respectivamente as transexuais Phedra e
Bibi (interpretada por Meirelles),
amigas das protagonistas Tereza
(Ivam Cabra) e Marlene Glória
(Soraya Saide), que dividem apartamento na praça Roosevelt.
Tereza é apaixonada por um extraterrestre, que apareceu súbito
em sua vida, nu como veio ao
mundo, e desde então a mobiliza.
Marlene descrê da história da
amiga e tenta associá-la a uma
aparição de Exu, experiência pela
qual também já passou.
Mas nada a demove da paixão
pelo ser que só ela vê e com quem
diz transar.
Esse mote é real. Savana Meirelles apaixonou-se por um ET, em
2003. Sua história, claro, veio a
público com tintas sensacionalistas. Phedra de fato tentou convencê-la de que era Exu, mas de nada
adiantou.
Agora, em "Transex", elas contracenam com as personagens extraídas de suas próprias vidas, Tereza e Marlene. Tereza é nome
inspirado em santa Tereza d'Ávila
(1515-82), de quem a mãe da personagem lia os poemas. Ela chega
a citar uns versos:
"Para chegares a ser tudo, não
queiras ser coisa alguma... Para
chegares ao que és, hás de ir por
onde não és".
A esse exercício metateatral, o
diretor e autor Rodolfo García
Vázquez imbrica por composição
que inclui René, um transexual.
Antes, parênteses para a definição
que o grupo Os Satyros coloca
apropriadamente no material distribuído aos jornalistas:
"Transexual é, do ponto de vista
clínico, a pessoa que se sente psíquica e anatomicamente como
pertencente ao sexo oposto. Pode
ter diferentes orientações sexuais:
homossexual, bissexual ou heterossexual".
René (interpretado por Alberto
Guzik) é uma mulher que colocou
o pênis no lugar da vagina por
meio de uma operação. Como
professor de pintura de Tereza, se
apaixona por esta. Eis um dos fios
do novelo.
Na interpretação, o jogo teatral
leva os atores a mesclar registros
da comédia, drama, melodrama,
vaudeville, dublagem e farsa.
A história é ambientada em
1968, ano das revoltas estudantis
pelo mundo, mas também da
crença na força do amor e na liberação sexual.
As "meninas" de "Transex" conhecem o mundo e o amor "pelo
avesso". "Nasci no corpo errado",
diz Tereza. Alma feminina em
corpo masculino.
"Transex" abre uma trilogia que
inclui "A Vida na Praça Roosevelt", da alemã Dea Loher, cujo
grupo Thalia Theater, de Hamburgo, encenará no Sesc Anchieta
na próxima semana. A terceira
peça será "Há Vida na Praça Roosevelt", com textos curtos de Mário Bortolotto, Sérgio Roveri, Mário Viana, Jarbas Capusso Filho e
Ivam Cabral.
TRANSEX. Texto e direção: Rodolfo
García Vázquez. Com: Os Satyros
(Fabiano Machado, Tatiana Pacor,
Marcela Randolph, Laerte Késsimos e
outros). Cenário e figurinos: Fabiano
Machado. Onde: Espaço dos Satyros
(pça. Roosevelt, 214, tel. 3258-6345).
Quando: estréia amanhã, às 21h30; qui. a
sáb., às 21h30; dom., às 20h30; até 19/
12. Quanto: R$ 10 e R$ 5 (para todas as
pessoas que forem vestidas com trajes
do sexo oposto, transexuais, travestis e
drag queens).
Próximo Texto: Grupo ocupa clube de sadomasoquismo Índice
|