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DANÇA
"Tempo de Verão", de Marcia Milhazes, tem Lamartine Babo na trilha
Pureza da valsa inspira coreografia
KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO
Um homem acorda nos braços
de uma mulher desconhecida.
Beijam-se. Atrás deles, surge a figura de outra mulher. A cena inicia a nova coreografia da carioca
Marcia Milhazes, 43, "Tempo de
Verão", que tem estréia nacional
amanhã no teatro Sesc Anchieta.
Os três bailarinos dançam valsas adoradas por Milhazes, que se
embrenhou na pesquisa do ritmo
e acabou indo bem além do um,
dois, três... um, dois, três. "Descobri que os compositores não pensam apenas na questão rítmica.
Eles buscam inserir o que há de
mais puro e "naif" neles, o que dá
às valsas um caráter de pureza
atroz", diz Milhazes.
Entre as músicas que integram a
trilha de "Tempo de Verão", estão
obras de Francisco Mignone
(1897-1986), Lamartine Babo
(1904-1963) e Zequinha de Abreu
(1880-1935) entre outros.
Para Milhazes, os gestos e movimentos de suas criações têm "o
peso da palavra". "É como se estivesse escrevendo." O gestual se
transforma em frases que, juntas,
se transformam em parágrafos.
A bailarina conta que o trabalho
coreográfico é artesanal, baseado
também em suas escrituras antigas. Costuma "bordar" todos os
gestos com a colaboração dos intérpretes e aproveita para refletir
sobre a criatividade. "Não acredito em cliques ou em sacadas.
Considero um caminho curto.
Quando acontece é porque já há
uma bagagem e muito trabalho
por trás arquivado na memória
de quem cria."
O cenário do espetáculo, assim
como nas outras criações de Milhazes, é da irmã e artista plástica
Beatriz Milhazes. As duas trabalham em parceria sem que interfiram diretamente uma no trabalho da outra. "A Beatriz não assiste aos ensaios. Nós apenas conversamos muito sobre a obra", diz
a diretora, que afirma ser privilegiada com os cenários da irmã.
Uma espécie de candelabro feito
de madeira, plástico, borracha e
outros tipos de material compõem a cena.
A companhia Marcia Milhazes
Dança Contemporânea foi fundada em 1994. Desde então, a bailarina e diretora tem como um de
seus objetivos a valorização das
raízes brasileiras. "Adoro descobrir o que não sabemos sobre
nossas raízes."
"João e Maria", um dos espetáculos mais premiados da companhia, tinha a obra de Machado de
Assis como pano de fundo. Em
"Tempo de Verão" não há linearidade. Milhazes diz que muitas cenas se entrelaçam quase cinematograficamente. "São muitas as
informações dadas à platéia, mas
tento não deixá-las tão claras como nas referências que apareciam
em "João e Maria"."
O espetáculo funciona como
um salão de baile em que pessoas
diferentes aparecem no mesmo
espaço, da mesma forma, sem saber quem são.
TEMPO DE VERÃO. Estréia da nova
criação da Marcia Milhazes Dança
Contemporânea. Onde: teatro Sesc
Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000). Quando: amanhã e sáb., às 21h;
dom., às 19h. Quanto: de R$ 10 a R$ 20.
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