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Crítica/ "Goodbye Solo"
Filme evita respostas fáceis em drama sobre EUA multiétnico
Em "Goodbye Solo", aposentado contrata taxista para uma viagem sem volta
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Os efeitos de deslocamentos no mundo
contemporâneo e a
atual paisagem multiétnica dos
Estados Unidos já haviam ocupado o diretor e roteirista norte-americano de ascendência
iraniana Ramin Bahrani, 34,
em seus três primeiros longas,
que lhe valeram o status de revelação no cenário da produção
independente do país.
Em "Strangers" (2000), um
jovem norte-americano procura a cidade natal do pai, no Irã.
"Man Push Cart" (2005) acompanha uma noite da vida de um
ex-cantor paquistanês de sucesso que vende café nas ruas
de Nova York. "Chop Shop"
(2007), também ambientado
em Nova York, tem como protagonistas dois órfãos latinos.
Essas coordenadas reaparecem em "Goodbye Solo", que
promove aproximação insólita
entre dois personagens muito
distintos: Solo (Souleymane Sy
Savane), senegalês que trabalha como taxista em Winston-Salem, na Carolina do Norte,
mas sonha em entrar na aviação comercial, e William (Red
West), aposentado americano.
Na sequência de abertura, lá
estão os dois já discutindo, no
carro de Solo, em torno de circunstância que lembra "Gosto
de Cereja" (1997), do iraniano
Abbas Kiarostami. William
quer contratar o taxista, pagando muito bem, para uma viagem só de ida até uma montanha da região, famosa pelos fortes ventos.
Nada indica que o velho vá
até lá para acampar ou coisa parecida. Preocupado com o que
parece um suicídio anunciado,
Solo tenta compreender por
que o soturno William planeja
se despedir. No papel de "grilo
falante", resolve permanecer
por perto na crença de que há
jeito para tudo, inclusive para
quem desistiu de viver.
Figura edificante que personifica a solidariedade em tempos de "cada um com os seus
problemas", o taxista senegalês
impõe a "Goodbye Solo" um registro sentimental que poderia,
se desmedido, transformar a
história em veículo de respostas fáceis para tempos (e situações) difíceis.
O trunfo de Bahrani está em
resistir às tentações de explicar
William e, em consequência,
manter em zona cinzenta o que
cada espectador processará, como faz o próprio Solo, da forma
que lhe parecer mais razoável.
Avaliação: bom
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