São Paulo, quarta-feira, 23 de setembro de 2009

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Crítica/ "Goodbye Solo"

Filme evita respostas fáceis em drama sobre EUA multiétnico

Em "Goodbye Solo", aposentado contrata taxista para uma viagem sem volta

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Os efeitos de deslocamentos no mundo contemporâneo e a atual paisagem multiétnica dos Estados Unidos já haviam ocupado o diretor e roteirista norte-americano de ascendência iraniana Ramin Bahrani, 34, em seus três primeiros longas, que lhe valeram o status de revelação no cenário da produção independente do país.
Em "Strangers" (2000), um jovem norte-americano procura a cidade natal do pai, no Irã. "Man Push Cart" (2005) acompanha uma noite da vida de um ex-cantor paquistanês de sucesso que vende café nas ruas de Nova York. "Chop Shop" (2007), também ambientado em Nova York, tem como protagonistas dois órfãos latinos.
Essas coordenadas reaparecem em "Goodbye Solo", que promove aproximação insólita entre dois personagens muito distintos: Solo (Souleymane Sy Savane), senegalês que trabalha como taxista em Winston-Salem, na Carolina do Norte, mas sonha em entrar na aviação comercial, e William (Red West), aposentado americano.
Na sequência de abertura, lá estão os dois já discutindo, no carro de Solo, em torno de circunstância que lembra "Gosto de Cereja" (1997), do iraniano Abbas Kiarostami. William quer contratar o taxista, pagando muito bem, para uma viagem só de ida até uma montanha da região, famosa pelos fortes ventos.
Nada indica que o velho vá até lá para acampar ou coisa parecida. Preocupado com o que parece um suicídio anunciado, Solo tenta compreender por que o soturno William planeja se despedir. No papel de "grilo falante", resolve permanecer por perto na crença de que há jeito para tudo, inclusive para quem desistiu de viver.
Figura edificante que personifica a solidariedade em tempos de "cada um com os seus problemas", o taxista senegalês impõe a "Goodbye Solo" um registro sentimental que poderia, se desmedido, transformar a história em veículo de respostas fáceis para tempos (e situações) difíceis.
O trunfo de Bahrani está em resistir às tentações de explicar William e, em consequência, manter em zona cinzenta o que cada espectador processará, como faz o próprio Solo, da forma que lhe parecer mais razoável.


Avaliação: bom


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