KATIA CALSAVARA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Os passos da bailarina Renée Gumiel, 90, não são mais tão precisos, mas estão devidamente cravados na história da dança. Uma das responsáveis pela introdução do balé moderno no Brasil, Gumiel ganha hoje homenagem no Sesc Vila Mariana.
Seu corcundeado corpinho de pluma, que pesa pouco mais de 35 quilos, distribuídos em um metro e meio de altura, será coberto por um vestido preto nada básico, bordado com beija-flores, do estilista Ronaldo Fraga.
O evento, organizado por Inês Bogéa, crítica de dança da Folha, começa com leitura de textos sobre a carreira da bailarina nascida na França e que veio para o Brasil em 1957, quando fundou sua primeira escola de dança moderna.
Os bailarinos Ruth Rachou, Célia Gouvêa, Zélia Monteiro, Umberto Silva e Ju de Andrade improvisam e relembram momentos importantes da carreira de Gumiel, entre eles a fundação da Cia. de Dança Contemporânea Brasileira, em 1964, a participação na peça "Cacilda!", de José Celso Martinez Corrêa, e no filme "Ruído de Passos" (1995), em que ganhou prêmio de melhor atriz.
Quando fala em dança clássica, Gumiel brada: "O clássico ficou no século passado. Eu jamais coloquei meus pés em uma sapatilha de ponta. Sou totalmente contra. Minha dança é feita com os pés no chão. Para dançar é preciso sentir as vibrações da terra. E, como nosso corpo acorda diferente a cada dia, não há razão para repetir sempre os mesmos passos".
Ela, que sobreviveu a três cânceres, ainda dá aulas, apesar da artrose. "Para mim, esses 90 anos não significam nada. Minha relação com o trabalho é exatamente a mesma, continuo com muita força, criatividade e lucidez."