São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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MEMÓRIA

Ato inter-religioso no centro da cidade lembra os 30 anos do assassinato do jornalista; coral "abraça" a catedral

Canto e oração na Sé homenageiam Herzog

ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 30 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto nas dependências do DOI-Codi em outubro de 1975, pautaram neste ano o relançamento do livro "Dossiê Herzog - Prisão, Tortura e Morte no Brasil", de Fernando Pacheco Jordão, a estréia do documentário "Vlado -°30 Anos Depois", de João Batista de Andrade, e agora uma exposição e uma programação especial transmitida pela TV Cultura (leia texto à direita).
No entanto, não há nada mais representativo da dor gerado pelo episódio do que o ato multirreligioso que ocorre hoje, a partir das 15h, na Catedral da Sé, reunindo representantes de 20 credos.
Entre eles estão o arcebispo dom Paulo Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel, ambos participantes de um culto em memória do jornalista celebrado há 30 anos, seis dias após a morte de Herzog, também na Sé. A ocasião acabou se transformando numa das principais manifestações públicas contra a ditadura militar, rendendo imagens contundentes registradas no filme de João Batista de Andrade.
O ato inter-religioso deste domingo, cujo tema é "a paz e os direitos humanos", faz parte do evento "Vlado - 30 Anos de Vida Eterna", organizado pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, que desde o início do mês promove atividades culturais.
"A idéia é resgatar a memória para que esses gestos de repressão não aconteçam mais", afirma o padre José Bizon, 50, um dos organizadores do ato ecumênico.

Coral
Além de reunir muçulmanos, católicos, judeus, presbiterianos e budistas, entre outros, a cerimônia na Catedral da Sé será palco de outro grande encontro, protagonizado por cantores de corais do mundo todo, que acompanham a celebração sob a batuta do maestro Martinho Lutero.
Os participantes do Fórum Coral Mundial, que se reúnem pela primeira vez em São Paulo, abrem o evento às 15h, "abraçando" a catedral. Em seguida, os cerca de mil cantores esperados para o evento se posicionam nas laterais da igreja para interpretar um canto tradicional hebraico, em homenagem às origens judaicas de Herzog, além de uma canção do repertório dos índios da Amazônia e outra de origem africana.
"É uma música de uma tribo do Congo que nunca foi apresentada em São Paulo", conta Lutero, 52. O maestro, responsável pela criação do tradicional coral paulistano Luther King, que existe há 35 anos, é um dos articuladores do fórum internacional.
"É uma reunião de pessoas que cantam em coros no mundo todo, e não um encontro de corais", explica Lutero. A primeira apresentação do Fórum Coral Mundial foi em 1992, na Catedral de Milão, na Itália, em uma missa em memória da guerra na ex-Iugoslávia.
No Brasil, os cantores marcaram presença na abertura do Fórum Social Mundial de 2002, em Porto Alegre. "Esses encontros são possíveis graças à internet", diz Lutero. "No site, há acesso às inscrições e às partituras. Qualquer um pode se inscrever."
Essa amplitude torna a regência "complicadíssima". Segundo Lutero, são dez regentes atuando -um ao centro e os outros repetindo os movimentos.
"O cantor de coro é o personagem que, depois dos membros da igreja e de partidos políticos, é o mais organizado do mundo", acredita o maestro. Os participantes de corais que ainda não se inscreveram podem baixar as partituras no site www.forumcoral. org. Elas também serão distribuídas durante o ato.


Ato inter-religioso em memória do jornalista Vladimir Herzog
Quando: hoje, a partir das 15h
Onde: Catedral da Sé (pça. da Sé, s/nš, centro)
Quanto: entrada franca



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