São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 2006

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Crítica/artes visuais

Packer amplia discussão sobre corpo

Divulgação
Still da obra "Vídeo #03 - Polidirecional, trabalho apresentados na exposição "Polissemiose", individual de Amilcar Packer no Centro Cultural Banco do Brasil de SP


JULIANA MONACHESI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma visita ao CCBB de São Paulo é indissociável de um contato urbano intenso. A maior parte das instituições culturais da cidade é de fácil acesso ao público motorizado, enquanto o CCBB exige uma deriva pelas ruas Direita e 15 de Novembro, pelo Pátio do Colégio, o largo São Bento ou a praça da Sé, dependendo do percurso escolhido para chegar lá.
A exposição individual de Amilcar Packer em cartaz atualmente no CCBB estabelece uma ligação direta com seu entorno: esse corpo-a-corpo com a cidade que costuma ser evitado pelo espectador de arte (tomando por base a relação estacionamento no local / número de visitação do público especializado). Não é à toa que a galeria Casa Triângulo, desde que migrou do centro da cidade para o Itaim, teve um aumento de público -sem alterar o nível de excelência de sua programação.
"Polissemiose", a exposição de Packer no CCBB, propicia aos visitantes plena consciência do próprio corpo. O artista, conhecido por valer-se em seu trabalho da subversão dos usos tradicionais de roupas e móveis para evidenciar o quanto estes objetos são extensões do corpo, amplia na presente mostra o foco de sua pesquisa artística para integrar também o ambiente externo em seu léxico.
Estamos diante da recente produção de um artista que desenvolveu grande parte de sua obra construindo situações em ambientes fechados, nos quais protagonizava "performances privadas" registradas em vídeo.
O resultado eram fotografias de cenas específicas selecionadas no vídeo e fotografadas no monitor de TV, daí o aspecto propositalmente granulado e de cor artificial das imagens.
Uma foto com essas características pode ser vista na exposição: o artista está sentado em uma cadeira encaixada em cima de uma porta. Nos últimos anos, além das fotografias, Packer passou a exibir também os vídeos em que interagia com a arquitetura e os móveis de ambientes fechados.
Na exposição "Geração da Virada", que ocorreu no Instituto Tomie Ohtake até o mês passado, ele mostrou um vídeo em que percorre um círculo formado por cadeiras, mesas e sofás, nos quais ele se equilibra precariamente evitando cair. No CCBB, Packer (que é editor de fotografia do núcleo de revistas da Folha) apresenta um desdobramento deste trabalho, desta vez feito na rua.
Ele conta que levou cinco meses procurando um quarteirão que constituísse um circuito fechado. No bairro da Bela Vista, o artista percorre um quarteirão inteiro sem pisar no chão, equilibrando-se em muretas, pendurando-se nas grades que cercam os edifícios e assim por diante. Filmado em vídeo, o percurso foi transposto para fotografias dispostas ao longo do espaço circular do subsolo do CCBB.
O fato de o visitante optar por ver a seqüência de fotos da direita para a esquerda ou ao contrário determina a leitura que fará de toda a exposição, deparando-se primeiro com o vídeo de uma cadeira flutuando no ar filmada em queda livre ou com fotografias deste mesmo vídeo, por exemplo. Nessa obra, a cadeira é uma espécie de metonímia visual do corpo.
A montagem enfatiza a multiplicidade de sentidos da obra sugerida no título, "Polissemiose". A deriva pela cidade que antecede a deriva pela exposição amplifica a experiência das possibilidades desviantes do corpo que o artista explora com apaixonada energia.

POLISSEMIOSE     
Quando:
de ter. a sáb., das 10h às 21h; dom., das 10h às 20h; até 18/2
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651)
Quanto: entrada franca


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