São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2000 |
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CINEMA Para Paul Thomas Anderson, filme que dirigiu, em cartaz em SP, trata de pessoas presas ao passado Magnólia projeta "confusão da vida"
JESÚS RUIZ MANTILLA do "El País", em Berlim O jovem diretor Paul Thomas Anderson, 28, não conquistou este ano o reconhecimento da Academia de Hollywood por seu contundente filme "Magnólia", que estreou sexta-feira no Brasil. Mas recebeu o Urso de Ouro do Festival de Berlim por seu afresco de fracassados, personagens em busca do amor, moribundos, loucos, monstros e rãs da sociedade norte-americana. O terceiro filme de Anderson, que já fez sucesso Com "Boogie Nights", fez sua estréia na Europa no 50º Festival de Berlim, onde poucas pessoas não concordavam que o filme tivesse feito jus ao prêmio mais importante do festival. ""Magnólia" é baseado em personagens reais", conta Anderson. "Pessoas marcadas por seu passado." É o que deixa claro uma frase crucial do filme: "O passado saldou suas contas conosco, mas nós não o deixamos para trás". Assim, ao longo desse retrato cheio de esperança e tensão, vão passando um homem doente, à beira da morte por câncer (Jason Robards), casado com uma mulher que enlouquece durante sua odisséia em busca de remédios para aplacar sua dor (Julianne Moore); um professor sexual e fanfarrão com o qual Tom Cruise conseguiu o grande papel de sua vida; um policial desastrado que se apaixona por uma viciada em drogas e os bastidores de um programa de televisão com crianças superdotadas e pais abusivos. Todos enjaulados por Anderson numa prisão cinematográfica visceral, dentro da qual se esbarram, se relacionam, se misturam, se amam e se odeiam, mas são incapazes de apagar o passado. "A confusão e a mistura que retrato são como a própria vida", diz o diretor. "Adoro os atores. São eles quem realmente vemos na tela. Os atores são o mais importante num filme. Sempre trabalho com pessoas que me dão prazer. Julianne Moore é minha atriz favorita e sempre terá lugar nos meus filmes", afirma. "E, agora, sabe com quem eu gostaria de trabalhar? Harrison Ford. É um ator fantástico." Agora, Anderson está ansioso para dedicar sua atenção a outro roteiro. "Sempre filmo coisas que eu mesmo escrevo. Não gosto de arcar com a responsabilidade de deturpar o trabalho de outras pessoas", explica. Mas a estrutura peculiar em que constrói seus filmes não é produto de um plano previamente concebido. "Construo as histórias separadamente. Depois, o fato de se misturarem é algo que acontece por conta própria. Não é algo que eu planeje com antecedência." Anderson assume os riscos de colocar em prática suas idéias mais desvairadas, como a da chuva de rãs que cai ao final deste filme único, surpreendente e herdeiro do que existe de melhor no cinema independente norte-americano. "Coloquei a chuva de rãs porque não consegui pensar em outra coisa e decidi fazê-lo, apesar do risco de ser muito criticado, mas sem temer o ridículo. Se tivesse medo de cair no ridículo, não o teria feito." As rãs acabaram sendo muito elogiadas, mas a canção que é interpretada por todos os personagens do filme não agradou tanto."Isso me deixou chateado. Eu estava preparado para enfrentar outras críticas, mas não esperava que a canção fosse criticada. Foram muito injustos", diz. É que o cineasta apostara no sucesso da canção porque, para ele, ""Magnólia" é um filme muito musical". "As canções, compostas por Aymee Mann, vieram primeiro. Baseei-me nelas para criar o filme. Portanto, foi a música que ditou o filme." Anderson não nega as influências presentes em seus trabalhos. ""Vidas Cruzadas", de Robert Altman, está presente, é claro, e é um filme que mexeu muito comigo. Mas outros filmes com os quais me vincularam, como "Felicidade" ou "Beleza Americana", de Sam Mendes, não estão." Ele também se mantém a par do que acontece no cinema europeu -no caso, filmes como "La Promesa", o primeiro trabalho dos irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne. No ano passado, os irmãos venceram o Festival de Cannes com "Rosetta", que Paul Thomas Anderson diz ser o filme que mais o impressionou nos últimos tempos. Tradução Clara Allain Próximo Texto: Lançamento: "Viagem Incompleta" repensa os 500 anos Índice |
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