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ARTES VISUAIS
Pernambucano apresenta esculturas de aço "vestidas" de couro, concebidas em conjunto com artesãos
Silveira mostra obra de mutirão artístico
JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
As estruturas cobertas de lona e
dispostas em linha reta ao longo
da BR que liga Recife a Cachoeirinha chamaram a atenção do artista Marcelo Silveira em uma de
muitas viagens à cidade localizada
quase no sertão, distante 170 km
da capital pernambucana.
"Percebi que aquelas "casas" não
eram de fato casas. Você não vê
porta, não vê janela. Nem era propriamente uma rua, pertencente a
uma cidade, apesar de elas estarem enfileiradas, como que desfilando para a gente; na verdade
nós é que desfilávamos para elas."
A inspiração dos acampamentos de sem-terra não empresta conotação social ao trabalho que
Marcelo Silveira apresenta a partir de hoje na galeria Nara Roesler.
A visualidade das antimoradias o
mobilizou tanto quanto as capas
de eletrodomésticos que teimam
em esconder um design elaborado ao longo de anos.
O resultado são pequenas esculturas feitas de aço e "vestidas" de
couro, alinhadas, atravessando
toda a sala principal da galeria. A
novidade, na trajetória deste artista cuja coerente produção alia
sempre elementos artesanais à reflexão sobre os caminhos da escultura moderna, é que nenhuma
das peças foi feita por ele.
As "Roupas de Casa" foram
concebidas e projetadas em um
trabalho conjunto com artesãos
de Cachoeirinha, tradicional produtor de derivados de couro. Há
mais de dois anos, Silveira empreende uma itinerância de seu
ateliê pelo interior de Pernambuco, no projeto "Correcaminhos".
Iniciada na cidade de Garanhuns, em 2001, a experiência tem
por objetivo ampliar os interlocutores da obra. As peças produzidas em Cachoeirinha foram mostradas em exposição-relâmpago
na praça da cidade, por exemplo.
Em outras esculturas presentes
na exposição, como a "Casacoronha" -que permite ver a estrutura das demais- ou a "Casabernardo", evidencia-se a participação de amigos e parentes do artista. A casa em bronze foi reproduzida de um protótipo em papelão
construído por seu filho Bernardo
ao ver o pai trabalhando.
O desvendamento da estrutura
sob as "roupas" acontece também
na série de desenhos sobre espelhos. Aqui, em nova apropriação,
desta vez de um objeto do cotidiano, o artista acentua a relação de
escala que as casas de couro já
provocavam no espectador.
A junção entre materiais "discordantes", como couro e metal,
já habita a produção de Silveira há
algum tempo: "As peças foram se
tornando orgânicas na forma e
senti necessidade de usar matérias mais orgânicas também. Gosto do couro porque possui sua temporalidade, vai mudando de
cor, precisa de outros cuidados".
ROUPAS DE CASA. Onde: galeria Nara
Roesler (av. Europa, 655, tel. 3063-2344).
Quando: abertura hoje, das 20h às 23h;
de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das
11h às 15h; até 12/7. Quanto: entrada
franca.
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