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São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2003

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ARTES VISUAIS

Pernambucano apresenta esculturas de aço "vestidas" de couro, concebidas em conjunto com artesãos

Silveira mostra obra de mutirão artístico

JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

As estruturas cobertas de lona e dispostas em linha reta ao longo da BR que liga Recife a Cachoeirinha chamaram a atenção do artista Marcelo Silveira em uma de muitas viagens à cidade localizada quase no sertão, distante 170 km da capital pernambucana.
"Percebi que aquelas "casas" não eram de fato casas. Você não vê porta, não vê janela. Nem era propriamente uma rua, pertencente a uma cidade, apesar de elas estarem enfileiradas, como que desfilando para a gente; na verdade nós é que desfilávamos para elas."
A inspiração dos acampamentos de sem-terra não empresta conotação social ao trabalho que Marcelo Silveira apresenta a partir de hoje na galeria Nara Roesler. A visualidade das antimoradias o mobilizou tanto quanto as capas de eletrodomésticos que teimam em esconder um design elaborado ao longo de anos.
O resultado são pequenas esculturas feitas de aço e "vestidas" de couro, alinhadas, atravessando toda a sala principal da galeria. A novidade, na trajetória deste artista cuja coerente produção alia sempre elementos artesanais à reflexão sobre os caminhos da escultura moderna, é que nenhuma das peças foi feita por ele.
As "Roupas de Casa" foram concebidas e projetadas em um trabalho conjunto com artesãos de Cachoeirinha, tradicional produtor de derivados de couro. Há mais de dois anos, Silveira empreende uma itinerância de seu ateliê pelo interior de Pernambuco, no projeto "Correcaminhos".
Iniciada na cidade de Garanhuns, em 2001, a experiência tem por objetivo ampliar os interlocutores da obra. As peças produzidas em Cachoeirinha foram mostradas em exposição-relâmpago na praça da cidade, por exemplo.
Em outras esculturas presentes na exposição, como a "Casacoronha" -que permite ver a estrutura das demais- ou a "Casabernardo", evidencia-se a participação de amigos e parentes do artista. A casa em bronze foi reproduzida de um protótipo em papelão construído por seu filho Bernardo ao ver o pai trabalhando.
O desvendamento da estrutura sob as "roupas" acontece também na série de desenhos sobre espelhos. Aqui, em nova apropriação, desta vez de um objeto do cotidiano, o artista acentua a relação de escala que as casas de couro já provocavam no espectador.
A junção entre materiais "discordantes", como couro e metal, já habita a produção de Silveira há algum tempo: "As peças foram se tornando orgânicas na forma e senti necessidade de usar matérias mais orgânicas também. Gosto do couro porque possui sua temporalidade, vai mudando de cor, precisa de outros cuidados".


ROUPAS DE CASA. Onde: galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 3063-2344). Quando: abertura hoje, das 20h às 23h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 15h; até 12/7. Quanto: entrada franca.


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