São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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"O BEIJO NO ASFALTO"

Montagem de texto do dramaturgo está em cartaz na sala Repertório do TBC até 1º de setembro

Braz se arrisca ao rever Nelson Rodrigues

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Aos 90 anos, quem diria, Nelson Rodrigues virou Racine: um autor "clássico", acima do bem e do mal, patrimônio cultural da nação. Já não se vai mais à uma encenação de texto seu para se escandalizar ou para receber uma importante lição metafísica, mas sim checar se a nova versão ainda tem capacidade de surpreender, ao descobrir novas abordagens.
A atual montagem de "O Beijo no Asfalto", na versão de Marco Antonio Braz, escapa a essa falsa questão. Novidade a qualquer preço não é o ponto de partida do grupo que, há muitos anos montando exclusivamente textos de Nelson, já tem currículo suficiente para apresentar uma linguagem própria.
Para esse drama, um dos mais ágeis do autor, Braz criou uma dinâmica na qual os atores, sentados junto ao público em bancos que circundam o espaço cênico, intervêm sucessivamente nas cenas, como em uma luta de boxe. O estratagema contribui muito para ressaltar o que há de urgente na trama, do indivíduo caluniado pelos jornais sem tempo para se defender.
Mas acaba levando a uma agitação constante, que prejudica cenas mais intimistas. O ritmo de fala acaba se acelerando também, pausas são atropeladas e entonações estereotipadas escapam de vez em quando. A intensificação do drama acaba se dando no grito, e falta fôlego para a revelação final, como se toda a energia já se tivesse esgotado, nivelando o espetáculo em uma tensão máxima desde o início.
Esse reparo, no entanto, só é possível por um conhecimento prévio do texto, comparando-se a encenação proposta com uma encenação ideal, um procedimento questionável embora irresistível. O grupo de todo modo tem autonomia e precisão, confia no seu taco, por isso merece que se exija mais dele do que um arrojado ponto de partida para a releitura de um clássico.


O Beijo no Asfalto    
De: Nelson Rodrigues
Direção: Marco Antonio Braz
Com: Maurício Barros, Maurício Marques, Walter Portela, Virgínia Buckowski e outros
Onde: TBC - sala Repertório (r. Major Diogo, 315, Bela Vista, tel. 0/xx/11/3115-4622)
Quando: de qui. a sáb.: às 22h30; dom.: às 20h30; até 1º/9
Quanto: R$ 16




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