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"O BEIJO NO ASFALTO"
Montagem de texto do dramaturgo está em cartaz na sala Repertório do TBC até 1º de setembro
Braz se arrisca ao rever Nelson Rodrigues
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Aos 90 anos, quem diria, Nelson Rodrigues virou Racine:
um autor "clássico", acima do
bem e do mal, patrimônio cultural da nação. Já não se vai mais à
uma encenação de texto seu para
se escandalizar ou para receber
uma importante lição metafísica,
mas sim checar se a nova versão
ainda tem capacidade de surpreender, ao descobrir novas
abordagens.
A atual montagem de "O Beijo
no Asfalto", na versão de Marco
Antonio Braz, escapa a essa falsa
questão. Novidade a qualquer
preço não é o ponto de partida do
grupo que, há muitos anos montando exclusivamente textos de
Nelson, já tem currículo suficiente
para apresentar uma linguagem
própria.
Para esse drama, um dos mais
ágeis do autor, Braz criou uma dinâmica na qual os atores, sentados junto ao público em bancos
que circundam o espaço cênico,
intervêm sucessivamente nas cenas, como em uma luta de boxe. O
estratagema contribui muito para
ressaltar o que há de urgente na
trama, do indivíduo caluniado
pelos jornais sem tempo para se
defender.
Mas acaba levando a uma agitação constante, que prejudica cenas mais intimistas. O ritmo de fala acaba se acelerando também,
pausas são atropeladas e entonações estereotipadas escapam de
vez em quando. A intensificação
do drama acaba se dando no grito, e falta fôlego para a revelação
final, como se toda a energia já se
tivesse esgotado, nivelando o espetáculo em uma tensão máxima
desde o início.
Esse reparo, no entanto, só é
possível por um conhecimento
prévio do texto, comparando-se a
encenação proposta com uma encenação ideal, um procedimento
questionável embora irresistível.
O grupo de todo modo tem autonomia e precisão, confia no seu
taco, por isso merece que se exija
mais dele do que um arrojado
ponto de partida para a releitura
de um clássico.
O Beijo no Asfalto
De: Nelson Rodrigues
Direção: Marco Antonio Braz
Com: Maurício Barros, Maurício
Marques, Walter Portela, Virgínia
Buckowski e outros
Onde: TBC - sala Repertório (r. Major
Diogo, 315, Bela Vista, tel. 0/xx/11/3115-4622)
Quando: de qui. a sáb.: às 22h30; dom.:
às 20h30; até 1º/9
Quanto: R$ 16
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