São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Artista carioca radicado em São Paulo convida o Jongo Trio para tocar em seu segundo álbum, "Sambaland Club"

Simoninha faz "provocações mínimas"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Fazer "uma série de provocaçõezinhas mínimas" é a intenção de Wilson Simoninha em seu segundo álbum, "Sambaland Club". A mais presente delas, parece, diz respeito à interpretação.
"Hoje existe uma onda black no Brasil, que passa por fazer muitas firulas de voz e que tem a ver com o rhythm'n'blues americano. A essência da música não está nisso. Tudo o que é exagerado tende a atrapalhar", provoca, de leve.
Responde se estaria se referindo, por exemplo, à coqueluche de canto black "firulado" presente em programas televisivos como o de Raul Gil, "Fama" e "Popstars".
"Eu até indiquei alguns dos participantes do "Fama", como Andréa Marquee e a vencedora, Vanessa Jackson. Vanessa tem uma extensão vocal espetacular, tenho muito carinho por ela. Mas o que ela vai ser como artista vai estar na cabeça dela", sai pela tangente.
Enquanto procura cantar sem firulas, ele dá atenção a outro lado musical seu, que aparecia de raspão no disco de estréia, "Volume 2" (2000) -o de compositor. É autor solitário de seis temas do CD e faz parceria com Marcelo Yuka em "Essência" e com Bernardo Vilhena em "Rei de Maio".
"De um tempo para cá, tentei me organizar para tocar mais em casa, estudar diariamente ao piano e ao violão. Essa disciplina me fez automaticamente passar a compor mais. Mas me vejo como um compositor iniciante, me acho um compositor regular, sinceramente. Meu primeiro instrumento de fato é a voz", avalia.
Outra pequena provocação Simoninha localiza em chamar o histórico Jongo Trio (que acompanhava a dupla Elis Regina e Jair Rodrigues nos anos 60) para tocar com ele no medley de "Ela É Carioca" e "Samba do Carioca" (são as únicas regravações do disco, ao lado da de "Tributo a Martin Luther King", lançada em 67 por seu pai, Wilson Simonal).
"O óbvio seria eu fazer algo eletrônico. Alguém pode ouvir e dizer: "Pô, que antigo isso, por que o cara não fez um drum'n'bass?". É uma provocaçãozinha", explica.
"Acho aquela coisa samba-jazz algo muito moderno, mais que muita coisa com bateria eletrônica. A praia de bateria de Edison Machado e Milton Banana é algo que se perdeu no tempo, ninguém toca samba assim hoje. E é justamente o que faz os estrangeiros enlouquecerem", justifica.
Refere-se então à obsessão modernizadora (às vezes eletrônica) presente no novo disco de seu irmão mais novo, Max de Castro. "Conheço bem o Max, não levei um susto ao ouvir seu disco. Eu sabia que ele ia fazer algo diferente, porque é do temperamento dele. Gostei, mas estou escutando ainda. Preciso escutar muitas vezes um disco para entender."
Responde se existe algum nível de rivalidade musical entre os dois irmãos. "Sempre existe rivalidade entre as pessoas. Mas no nosso caso é mais de ouvir o trabalho do outro, ver que está ótimo e ter vontade de fazer também. É uma competição positiva."
Ainda no rol das provocações, cita o gospel "Quem Sou", uma de suas composições no disco: "Até cito Deus na letra, mas não é um sentido religioso. Tenho orgulho dessa música". Contrariando a fé incondicional em Deus dos gospels, ele prefere devolver livre-arbítrio ao homem: "Sou, sei que sou/ capaz de ser melhor".



Próximo Texto: Crítica: Repúdio às firulas diferencia novo álbum
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.