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MÚSICA
Artista carioca radicado em São Paulo convida o Jongo Trio para tocar em seu segundo álbum, "Sambaland Club"
Simoninha faz "provocações mínimas"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Fazer "uma série de provocaçõezinhas mínimas" é a intenção
de Wilson Simoninha em seu segundo álbum, "Sambaland Club".
A mais presente delas, parece, diz
respeito à interpretação.
"Hoje existe uma onda black no
Brasil, que passa por fazer muitas
firulas de voz e que tem a ver com
o rhythm'n'blues americano. A
essência da música não está nisso.
Tudo o que é exagerado tende a
atrapalhar", provoca, de leve.
Responde se estaria se referindo, por exemplo, à coqueluche de
canto black "firulado" presente
em programas televisivos como o
de Raul Gil, "Fama" e "Popstars".
"Eu até indiquei alguns dos participantes do "Fama", como Andréa Marquee e a vencedora, Vanessa Jackson. Vanessa tem uma
extensão vocal espetacular, tenho
muito carinho por ela. Mas o que
ela vai ser como artista vai estar na
cabeça dela", sai pela tangente.
Enquanto procura cantar sem
firulas, ele dá atenção a outro lado
musical seu, que aparecia de raspão no disco de estréia, "Volume
2" (2000) -o de compositor. É
autor solitário de seis temas do
CD e faz parceria com Marcelo
Yuka em "Essência" e com Bernardo Vilhena em "Rei de Maio".
"De um tempo para cá, tentei
me organizar para tocar mais em
casa, estudar diariamente ao piano e ao violão. Essa disciplina me
fez automaticamente passar a
compor mais. Mas me vejo como
um compositor iniciante, me
acho um compositor regular, sinceramente. Meu primeiro instrumento de fato é a voz", avalia.
Outra pequena provocação Simoninha localiza em chamar o
histórico Jongo Trio (que acompanhava a dupla Elis Regina e Jair
Rodrigues nos anos 60) para tocar
com ele no medley de "Ela É Carioca" e "Samba do Carioca" (são
as únicas regravações do disco, ao
lado da de "Tributo a Martin Luther King", lançada em 67 por seu
pai, Wilson Simonal).
"O óbvio seria eu fazer algo eletrônico. Alguém pode ouvir e dizer: "Pô, que antigo isso, por que o
cara não fez um drum'n'bass?". É
uma provocaçãozinha", explica.
"Acho aquela coisa samba-jazz
algo muito moderno, mais que
muita coisa com bateria eletrônica. A praia de bateria de Edison
Machado e Milton Banana é algo
que se perdeu no tempo, ninguém
toca samba assim hoje. E é justamente o que faz os estrangeiros
enlouquecerem", justifica.
Refere-se então à obsessão modernizadora (às vezes eletrônica)
presente no novo disco de seu irmão mais novo, Max de Castro.
"Conheço bem o Max, não levei
um susto ao ouvir seu disco. Eu
sabia que ele ia fazer algo diferente, porque é do temperamento dele. Gostei, mas estou escutando
ainda. Preciso escutar muitas vezes um disco para entender."
Responde se existe algum nível
de rivalidade musical entre os
dois irmãos. "Sempre existe rivalidade entre as pessoas. Mas no
nosso caso é mais de ouvir o trabalho do outro, ver que está ótimo
e ter vontade de fazer também. É
uma competição positiva."
Ainda no rol das provocações,
cita o gospel "Quem Sou", uma de
suas composições no disco: "Até
cito Deus na letra, mas não é um
sentido religioso. Tenho orgulho
dessa música". Contrariando a fé
incondicional em Deus dos gospels, ele prefere devolver livre-arbítrio ao homem: "Sou, sei que
sou/ capaz de ser melhor".
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