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BALLET DA ÓPERA NACIONAL DE PARIS
"Jóias" é jóia, muito, tudo, Odara, coisa rara, reflexo do esplendor
INÊS BOGÉA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Com a obra-prima do balé romântico "Giselle" e um clássico moderno de Balanchine,
"Jóias", o Ballet da Ópera Nacional de Paris chega novamente aos
palcos brasileiros. A estréia foi no
Rio; a companhia passa agora por
São Paulo e termina a temporada
em Brasília. Para quem gosta de
dança, é uma oportunidade rara
de ver uma das maiores companhias em atividade. Quem não
gosta de dança, está doente: da cabeça ou do pé.
O tríptico "Jóias" (1967), uma
homenagem de Balanchine
(1904-83) à França, aos Estados
Unidos e à Rússia, foi incorporado ao repertório da Ópera em
2000, com cenários e figurinos
novos de Christian Lacroix. Como de praxe, a música é tocada ao
vivo, regida pelo maestro da companhia. No Rio, a orquestra foi a
Sinfônica Brasileira, que se saiu
bem sob a regência de Paul Connelly.
Na primeira parte, "Esmeraldas", o palco se transforma em
calmaria, um mar de bailarinas de
tutu romântico dando vida às melodias de Fauré. Não é nada fácil
dançar no palco inclinado do Municipal do Rio, o que explica pequenos deslizes -que não chegaram a comprometer, mas não
permitiram que a dança chegasse
a seu máximo.
"Rubis", com música de Stravinski ("Capriccio"), é a própria
essência do estilo de Balanchine:
linhas quebradas, o centro do corpo deslocado, acentos sincopados, movimento veloz. Gestos interrompidos, congelando os movimentos. Uma dança sensual,
inspirada no jazz. A dificuldade
aqui é equilibrar a rapidez com a
precisão, dando espaço para a
projeção do quadril. Delphine
Moussin: ligeira, esperta, mas ainda não achou o "swing".
Já a última parte, "Diamantes",
sobre a "Sinfonia nš 3" de Tchaikovski, teve o brilho dos grandes
momentos da dança. Agnès Letestu desenhou divinamente as linhas estiradas do corpo. Suas pernas têm a dinâmica do mestre,
com braços que suavizam e dão
flexibilidade ao torso. E o "partner" Jean-Guillaume Bart foi seguro nos giros e nas variações. A
dança clássica, aqui, vê suas poses
alongadas pela dança russa, ao
mesmo tempo em que marcadas
pela lembrança dos clássicos de
Petipa ("O Lago dos Cisnes", "A
Bela Adormecida"). É uma dança
da memória da dança; e ficará para sempre na memória de quem
viu essa dupla dançar.
Da memória à coisa em si: "Giselle" é uma remontagem criada
em 1991, baseada no original de
1841, com cenários e figurinos reconstituídos dos croquis de Alexandre Benois, de 1924.
O segredo da coreografia está
no contraponto da primeira com
a segunda parte. A alegria ingênua do primeiro ato, com as danças camponesas, contrasta com as
noturnas, aéreas "Willis" no ato
dois. Sábado, em São Paulo, os solistas Nicolas le Riche e Laëtitia
Pujol foram a encarnação do espírito romântico, com a leveza de
uma dança matinal e solar -e o
peso e a grandeza de uma paixão
maior do que todas as noites do
mundo.
A dificuldade foi a orquestra, regida por Ermanno Florio -que
não teve culpa. Com só dois ensaios, ninguém tocaria bonito;
muito menos esse conjunto formado de última hora. É preciso
dizer com franqueza: não se pode
trazer uma companhia como o
Ballet da Ópera de Paris para dançar com uma orquestra de arremedo.
De qualquer modo, a dança teve
grandes inspirações. O Ballet da
Ópera segue sendo, com justiça,
uma referência do balé clássico.
Não só nas tabelas, não só nos livros, mas no coração da dança
dentro de nós.
Ballet da Ópera Nacional de
Paris
Programa: Jóias
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/n, região central, tel. 222-8698)
Quanto: de R$ 50 a R$ 300
A crítica Inês Bogéa viajou a convite da
produção
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