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"VITOR OU VITÓRIA"
Marília Pêra carrega a tarefa de dar cores pessoais ao personagem que Julie Andrews fez nas telas
Montagem fica devendo quanto à perfomance do elenco central
KIL ABREU
CRÍTICO DA FOLHA
"Vitor ou Vitória" traz as
soluções cênicas espetaculares dos grandes musicais,
mas fica em débito quanto à performance do elenco central, que
está claramente desnivelado.
A farsa, típico "star show",
acontece na Paris dos anos 30, em
que a cantora Vitória (Marília Pêra) tenta passar por drag queen
para conseguir trabalho em um
night club.
Sob os planos do amigo gay,
Todd (Leo Jaime), ela se transforma no conde Vitor Grazinsky, fictício transformista polonês, apresentado como atração na noite
parisiense.
Mas, no caminho do sucesso, há
sempre quem desconfie da autenticidade sexual de Vitor/Vitória,
especialmente o gângster King
Marchan (Daniel Boaventura),
que se apaixona por ele/ela.
Entretenimento antes de tudo, o
texto segue os passos da comédia
ligeira e não pretende discutir ou
aprofundar temas.
A peça apresenta superficialmente as motivações de seus personagens e ganha tempo para a
armação de uma intriga onde os
lances são rápidos e as mudanças
sempre cômicas.
Jorge Takla resolve melhor os
aspectos mais exteriores da encenação. Apoiado no empolgante
plano coreográfico de Roseli Rodrigues (cujas variações cumprem boa parte do que o espetáculo oferece de vital), em uma cenotecnia capaz de dar agilidade às
diversas mudanças de cenário e
na direção musical muito à vontade de Luis Gustavo Petri, o diretor
rege as cenas com notável desenvoltura.
O mesmo não pode ser dito
quanto à condução dos atores.
Marília Pêra carrega a tarefa
-certamente aguardada com alguma expectativa- de dar cores
pessoais a um personagem popularizado pelo cinema, na pele de
Julie Andrews.
Com todas as suas reconhecidas
qualidades de intérprete, não chega a surpreender.
O jogo com o duplo papel que
desempenha só é crível quando
Vitor está fora de cena, apesar do
natural apelo ao riso que a situação da farsa provoca.
Também é preciso certo esforço
para conjugar o espanto causado
pela performance vocal da personagem com o da atriz, que tem
boa voz, mas não extraordinária.
O problema maior nessa área é
Leo Jaime. Cantando mal e constrangido em meio à "suave frescura" de Toss, o ator encontra poucos caminhos em cena e desperdiça, em um tom de fala morno e
desinteressante, a maior parte das
entradas mais "espirituosas" do
personagem.
A leitura mais pessoal é feita por
Drica Moraes (Norma Cassidy),
que parece divertir-se -e leva
junto a platéia- ao parodiar com
exagero estudado a loiraça burra e
gostosa, abandonada por King.
Daniel Boaventura, embora deva
um desenho melhor às dúvidas de
seu gângster, valoriza algo essencial ao gênero, mas apresentado
em altos e baixos no espetáculo: o
canto.
As versões de Cláudio Botelho
soam muito bem. Mas, provavelmente em função da fidelidade ao
sentido original das letras de Leslie Bricusse, não se desvencilham
de sua baixa voltagem poética e
do romantismo derramado, que
às vezes redunda em pieguice.
Se você não se importa com os
detalhes, "Vitor ou Vitória" é um
show, no melhor sentido. Prevalece o espetáculo.
Vitor ou Vitória
Texto: Blake Edwards
Música: Henri Mancini
Letras: Leslie Bricusse
Versão: Cláudio Botelho
Direção: Jorge Takla
Elenco: Marília Pêra, Drica Moraes, Leo
Jaime, Daniel Boaventura
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, tel. 0/xx/11/258 3616)
Quando: de qui. a sáb, às 21h; dom., às
18h
Quanto: de R$ 30 a R$ 100
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