São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2001

Texto Anterior | Índice

"VITOR OU VITÓRIA"

Marília Pêra carrega a tarefa de dar cores pessoais ao personagem que Julie Andrews fez nas telas

Montagem fica devendo quanto à perfomance do elenco central

KIL ABREU
CRÍTICO DA FOLHA

"Vitor ou Vitória" traz as soluções cênicas espetaculares dos grandes musicais, mas fica em débito quanto à performance do elenco central, que está claramente desnivelado.
A farsa, típico "star show", acontece na Paris dos anos 30, em que a cantora Vitória (Marília Pêra) tenta passar por drag queen para conseguir trabalho em um night club.
Sob os planos do amigo gay, Todd (Leo Jaime), ela se transforma no conde Vitor Grazinsky, fictício transformista polonês, apresentado como atração na noite parisiense.
Mas, no caminho do sucesso, há sempre quem desconfie da autenticidade sexual de Vitor/Vitória, especialmente o gângster King Marchan (Daniel Boaventura), que se apaixona por ele/ela.
Entretenimento antes de tudo, o texto segue os passos da comédia ligeira e não pretende discutir ou aprofundar temas.
A peça apresenta superficialmente as motivações de seus personagens e ganha tempo para a armação de uma intriga onde os lances são rápidos e as mudanças sempre cômicas.
Jorge Takla resolve melhor os aspectos mais exteriores da encenação. Apoiado no empolgante plano coreográfico de Roseli Rodrigues (cujas variações cumprem boa parte do que o espetáculo oferece de vital), em uma cenotecnia capaz de dar agilidade às diversas mudanças de cenário e na direção musical muito à vontade de Luis Gustavo Petri, o diretor rege as cenas com notável desenvoltura.
O mesmo não pode ser dito quanto à condução dos atores. Marília Pêra carrega a tarefa -certamente aguardada com alguma expectativa- de dar cores pessoais a um personagem popularizado pelo cinema, na pele de Julie Andrews.
Com todas as suas reconhecidas qualidades de intérprete, não chega a surpreender.
O jogo com o duplo papel que desempenha só é crível quando Vitor está fora de cena, apesar do natural apelo ao riso que a situação da farsa provoca.
Também é preciso certo esforço para conjugar o espanto causado pela performance vocal da personagem com o da atriz, que tem boa voz, mas não extraordinária.
O problema maior nessa área é Leo Jaime. Cantando mal e constrangido em meio à "suave frescura" de Toss, o ator encontra poucos caminhos em cena e desperdiça, em um tom de fala morno e desinteressante, a maior parte das entradas mais "espirituosas" do personagem.
A leitura mais pessoal é feita por Drica Moraes (Norma Cassidy), que parece divertir-se -e leva junto a platéia- ao parodiar com exagero estudado a loiraça burra e gostosa, abandonada por King. Daniel Boaventura, embora deva um desenho melhor às dúvidas de seu gângster, valoriza algo essencial ao gênero, mas apresentado em altos e baixos no espetáculo: o canto.
As versões de Cláudio Botelho soam muito bem. Mas, provavelmente em função da fidelidade ao sentido original das letras de Leslie Bricusse, não se desvencilham de sua baixa voltagem poética e do romantismo derramado, que às vezes redunda em pieguice.
Se você não se importa com os detalhes, "Vitor ou Vitória" é um show, no melhor sentido. Prevalece o espetáculo.

Vitor ou Vitória    
Texto: Blake Edwards
Música: Henri Mancini
Letras: Leslie Bricusse
Versão: Cláudio Botelho
Direção: Jorge Takla
Elenco: Marília Pêra, Drica Moraes, Leo Jaime, Daniel Boaventura
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/258 3616)
Quando: de qui. a sáb, às 21h; dom., às 18h
Quanto: de R$ 30 a R$ 100



Texto Anterior: Elenco e repertório
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.