São Paulo, terça-feira, 25 de agosto de 2009

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Crítica/"Perfumes de Sim"

Vanessa da Mata "limpa" o próprio palco

Patricia Stavis/Folha Imagem
Vanessa da Mata, que fez três shows em SP no fim de semana

DA REPORTAGEM LOCAL

O tempo passa rápido para que cada coisa encontre seu devido lugar. Quando, em 2007, lançou "Sim", álbum de onde vem boa fatia do repertório mostrado em seus shows desse último fim de semana em São Paulo, Vanessa da Mata estava "estourada" pela primeira vez.
A animada "Ai, Ai, Ai", do disco anterior, era uma febre e alcançara o primeiro posto entre as mais tocadas naquele período. A novinha "Boa Sorte/Good Luck", em dobradinha com Ben Harper, também caminhava para o topo. E, regra número um das paradas de sucesso, quem está em primeiro lugar pode ter tudo o que quiser.
Vanessa teve tudo -inclusive coisas que não lhe faziam a menor falta. Tinha cenário cabeça de Helio Eichbauer (o mesmo que faz os de Caetano Veloso), uma banda com músicos estrelados (Davi Morais nas guitarras, por exemplo), backing vocalistas, participação virtual -pré-gravada- de Ben Harper e o que mais ela inventasse. E não era um grande show. Sofria por escassez de, imagine só, Vanessa da Mata.
O novo espetáculo busca o oposto disso. Uma limpeza geral derrubou tudo que era mera ostentação, o desnecessário para a música, o que poluía a imagem. E trouxe Vanessa - a compositora, a cantora, a mulher de cena- de volta para o eixo de seu próprio palco.
Para que isso se desse, tudo teve que ficar mais enxuto, a começar pela banda. A bateria continua a cargo de Stephane San Juan (Orquestra Imperial) e os teclados, nas mãos de Donatinho -que, além dos sons cada vez mais impressionantes que vem tirando do instrumento, dá um show fazendo a voz masculina em "Boa Sorte".
No baixo e na produção musical, está o eficiente Kassin, com quem Vanessa já trabalhou na concepção de "Sim", o disco. Davi Morais teve seu lugar ocupado pelo também ótimo Gustavo Ruiz. Só os quatro.
Agora, o cenário diz a que veio. Vanessa entra em cena atravessando uma floresta seca -mas florida- que, graças a efeitos de autocontraste da iluminação, consegue se tornar quase uma imagem em duas dimensões, plana como uma tela.
A luz aumenta em seguida e Vanessa, com um esvoaçante vestido amarelo, está pronta para rodar as canções que o Citibank Hall lotado (ingressos esgotados) já sabe de cor.
"Baú", "Vermelho", "Pirraça", "Fugiu com a Novela", "Ilegais", "Você Vai me Destruir" -que já estavam em "Sim", mas agora, limpas dos excessos, parecem mais dela do que antes.
A essas, somou alguns hits de antes -"Joãozinho", "Não me Deixe Só"- e uma inédita, composta com Fernando Catatau, do Cidadão Instigado. E um bocado de canções alheias.
Novidade maior é sua versão para "Último Romance", de Rodrigo Amarante, gravada em "Ventura", o terceiro álbum do Los Hermanos. Tão doce e delicada quanto "Um Dia, um Adeus", clássico de Guilherme Arantes, que viria no bis.
Na apresentação de sábado, Vanessa recebeu Marcelo Jeneci -o melhor compositor pop brasileiro pós-Los Hermanos- e sua sanfona. Ele é coautor de "Amado", segunda faixa estourada em "Sim".
Cantando juntos, os dois trouxeram à canção o impacto da novidade, a essência que tantas audições, na novela ou no rádio, já haviam roubado dela. Foi um momento arrebatador por sua simplicidade, que resumiu bem o que certas "limpezas" podem alcançar.
(MARCUS PRETO)


Avaliação: ótimo



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