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ARTES PLÁSTICAS/CRÍTICA
Um dos mais importantes do construtivismo, artista tem 90 obras expostas no MAM
Com expressividade, Barsotti realiza jogo entre geometria e cor
CAUÊ ALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Em meio à profusão de exposições que a cidade oferece no
período da Bienal, "Hércules Barsotti: Não-Cor Cor", no MAM,
não pode passar em branco. Além
de uma justa homenagem aos
seus 90 anos (60 de carreira), a
mostra recupera a trajetória de
um dos mais significativos artistas construtivos do Brasil. Apreciar 90 trabalhos de 50 instituições e coleções particulares, de
uma obra de referência para a história da arte como a de Barsotti, é
uma oportunidade rara.
Seu percurso artístico começa
no final dos anos 40 e se desenvolve na década seguinte durante as
intensas polêmicas entre abstração geométrica e informal, que
alimentaram o debate do período.
Em obras da segunda metade da
década de 50 e início dos anos 60,
o contraste entre o preto e o branco e uma elaborada organização
geométrica criam ilusões de afastamento e aproximação do plano
da tela, como se ela estivesse suavemente envergada.
São dessa época os trabalhos em
que pinta vãos e intervalos negros
nas bordas da superfície como se
fossem sombras de um quadro
vazio. Com poucos elementos e
dialogando com trabalhos de
Mondrian, Van Doesburg e Albers, em que predomina uma
harmoniosa limpeza formal, ele
desenvolve caminho singular.
Enquanto a tendência construtiva no Brasil tende para a polarização entre os artistas concretos
de São Paulo, liderados por Waldemar Cordeiro, e os neoconcretos do Rio, o paulistano Barsotti,
borrando as fronteiras dessa esquemática oposição, se aproxima
de Ferreira Gullar e do neoconcretismo. Não realiza trabalhos
em três dimensões, como Amílcar
de Castro, Aluísio Carvão, Lygia
Clark e Hélio Oiticica, mas "Barsotti explora o quadrado enquanto conteúdo e continente, em suas
relações espaciais internas aos limites da tela e externas a ela, isto
é, em relação com as premissas
horizontais e verticais do espaço
arquitetônico", escreve a curadora Ana Maria Belluzzo.
A mostra traz também duas
obras de um de seus principais interlocutores, o artista Willys de
Castro, com quem fundou o Estúdio de Projetos Gráficos, em 1954.
Juntos realizaram cartazes e marcas e participaram da renovação
do design gráfico que os meios de
impressão industrial e o surto desenvolvimentista do período propiciaram. Além de pinturas, desenhos e gravuras, integram a exposição roupas com estampas e padronagens de tecidos desenhados
por Barsotti no fim dos anos 60.
Principalmente nas telas dos
anos 70, o suporte do quadro gira
45 graus em relação à parede e
seus formatos variam entre losangos regulares e irregulares, tanto
verticais quanto horizontais. O
percurso da mostra deixa claro o
crescente interesse do artista pela
cor e o abandono do rigor objetivo. Com apurada sensibilidade
cromática, aliada a uma investigação das contradições inerentes ao
espaço, que nunca é tratado de
modo homogêneo, Barsotti passa
a construir seus quadros pela
aproximação de diversos tons.
Além da compreensão física da
cor -algumas de suas obras remetem a prismas-, lhe interessa
a qualidade e a potência das cores.
Sua produção, que nesse período
continua insinuando volumes,
como se as formas inchassem,
mescla diversos timbres de cor e
variações de um mesmo tom. Se a
geometria está mais próxima da
razão e a cor, da sensibilidade e da
intuição, Barsotti experimenta
um jogo entre ambas em que ganha a expressão.
Hércules Barsotti
Onde: MAM (pq. Ibirapuera, portão 3,
tel. 5549-9688)
Quando: ter., qua., sex., das 12h às 18h;
qui., das 12h às 22h; sáb., dom., das 10h
às 18h; até 24/10
Quanto: R$ 5 (grátis aos dom.)
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