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Obras de 24 artistas flertam com o surrealismo em mostra no MAC
Regina Silveira, Nelson Leirner, Leonilson e Cildo Meireles são destaques
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Tenta despedaçar molduras
a mostra que o Museu de Arte
Contemporânea da USP abre
hoje. Junto de retalhos de um
quadro, na sala principal do
museu, uma frase do surrealista francês Jean Dubuffet anuncia: "A arte não dorme nos leitos preparados para ela, seus
melhores momentos são quando esquece como se chama".
Negando a ideia clássica do
quadro na parede -com base
na crença de que a arte se tornou indissociável da vida real-
56 obras de 24 artistas tentam
criar pequenas alegorias para
os grandes dramas mundanos.
Estão lado a lado na primeira
sala a instalação "O Paradoxo
do Santo" (1994), de Regina Silveira, que mostra um cavaleiro
e sua sombra agigantada na parede, e "Camelô" (1998), miniatura delicada de Cildo Meireles.
É o contraste extremo que
marca a relação entre os trabalhos, da mesma forma que a
mostra tenta articular real e
surreal -Nelson Leirner faz a
ponte entre os dois com seus
buracos de fechadura espelhados. "São situações limítrofes
na obra de arte: sanidade e loucura, sonho e vigília", diz a curadora Kátia Canton, 45.
Noutro canto da sala, fica
mais clara a distinção.
Uma
pintura em tecido de Leonilson, na linha subjetiva e lírica
de seus bordados, faz par com
obras em panos de Patrícia
Carmo, que recortou trapos
brancos em forma de metralhadoras, facas e fuzis e os pendurou num varal, como se trouxesse todo o terror para um cenário doméstico de fábula.
(Difícil não lembrar aqui os
relógios de Salvador Dalí, derretendo molengas, nos galhos
retorcidos de suas árvores.)
É o mesmo desarranjo que
desponta na segunda sala da
exposição, que tem os letreiros
que Alex Flemming usou para
escrever nos vidros na estação
Sumaré, ecos do anonimato na
metrópole. Na mesma sala, um
vídeo de Valeska Soares mostra
um baile fantasma, em que
sombras de casais dançam e se
dissolvem umas nas outras.
A valsa conduz à última parte
da mostra, espécie de ala dos
loucos. Farnese de Andrade
(1926-1996) cria um móvel de
madeira atravessado por uma
estaca que tem na ponta uma
cabeça. O italiano Fulvio Colangelo desenha os sonhos intermitentes de pacientes de apneia, e Alex Vallauri (1949-1987) exibe uma geladeira com
estampa de oncinha, deixando
o surreal penetrar forte no real.
UM MUNDO SEM MOLDURAS
Quando: abertura hoje, às 17h; de
ter. a sex., das 10h às 18h; sáb. e
dom., das 10h às 16h; até 17/5
Onde: MAC (r. da Reitoria, 160, Cidade Universitária, tel. 3091-3039)
Quanto: entrada franca; livre
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