São Paulo, quinta-feira, 26 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Obras de 24 artistas flertam com o surrealismo em mostra no MAC

Regina Silveira, Nelson Leirner, Leonilson e Cildo Meireles são destaques

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Tenta despedaçar molduras a mostra que o Museu de Arte Contemporânea da USP abre hoje. Junto de retalhos de um quadro, na sala principal do museu, uma frase do surrealista francês Jean Dubuffet anuncia: "A arte não dorme nos leitos preparados para ela, seus melhores momentos são quando esquece como se chama". Negando a ideia clássica do quadro na parede -com base na crença de que a arte se tornou indissociável da vida real- 56 obras de 24 artistas tentam criar pequenas alegorias para os grandes dramas mundanos.
Estão lado a lado na primeira sala a instalação "O Paradoxo do Santo" (1994), de Regina Silveira, que mostra um cavaleiro e sua sombra agigantada na parede, e "Camelô" (1998), miniatura delicada de Cildo Meireles. É o contraste extremo que marca a relação entre os trabalhos, da mesma forma que a mostra tenta articular real e surreal -Nelson Leirner faz a ponte entre os dois com seus buracos de fechadura espelhados. "São situações limítrofes na obra de arte: sanidade e loucura, sonho e vigília", diz a curadora Kátia Canton, 45. Noutro canto da sala, fica mais clara a distinção.
Uma pintura em tecido de Leonilson, na linha subjetiva e lírica de seus bordados, faz par com obras em panos de Patrícia Carmo, que recortou trapos brancos em forma de metralhadoras, facas e fuzis e os pendurou num varal, como se trouxesse todo o terror para um cenário doméstico de fábula.
(Difícil não lembrar aqui os relógios de Salvador Dalí, derretendo molengas, nos galhos retorcidos de suas árvores.) É o mesmo desarranjo que desponta na segunda sala da exposição, que tem os letreiros que Alex Flemming usou para escrever nos vidros na estação Sumaré, ecos do anonimato na metrópole. Na mesma sala, um vídeo de Valeska Soares mostra um baile fantasma, em que sombras de casais dançam e se dissolvem umas nas outras.
A valsa conduz à última parte da mostra, espécie de ala dos loucos. Farnese de Andrade (1926-1996) cria um móvel de madeira atravessado por uma estaca que tem na ponta uma cabeça. O italiano Fulvio Colangelo desenha os sonhos intermitentes de pacientes de apneia, e Alex Vallauri (1949-1987) exibe uma geladeira com estampa de oncinha, deixando o surreal penetrar forte no real.


UM MUNDO SEM MOLDURAS
Quando: abertura hoje, às 17h; de ter. a sex., das 10h às 18h; sáb. e dom., das 10h às 16h; até 17/5
Onde: MAC (r. da Reitoria, 160, Cidade Universitária, tel. 3091-3039)
Quanto: entrada franca; livre



Texto Anterior: Solos mostram lado menos conhecido de João Saldanha
Próximo Texto: Cinema: "Serras da Desordem" é o tema de debate
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.