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Crítica/"É Tudo Verdade"
"Tudo É Relativo" faz bom retrato fragmentário da diversidade humana
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
O ganho de atenção conquistado e consolidado
pelo formato documentário em anos recentes decorre, em parte, de sua capacidade em cavar histórias e de
apresentá-las com a força da
novidade. A proposta da dinamarquesa Mikala Krogh em
"Tudo É Relativo" encontra
nisso sua diferença e seu limite.
O projeto da diretora é capturar a diversidade humana na
perspectiva dos sentimentos
considerados mais comuns, como amor, raiva, felicidade e devoção. Se, de um lado, tais emoções nos caracterizam como
humanos, isso não impede que
haja múltiplas formas de expressão dos afetos e dos sentimentos de acordo com diferenças étnicas e culturais. Ou seja,
o que vemos em suas imagens é
o perspectivismo que saberes
como a antropologia foram pioneiros em demonstrar.
Como a diretora parece ciente de que não é preciso reinventar a roda, pode se dedicar a
captar exemplos do relativismo
que propõe no título. Ao percorrer lugares tão diversos como a Dinamarca, Moçambique,
Tailândia, EUA, Japão e Dubai
em busca da dessemelhança
humana, o que ela consegue é
registrar pequenas histórias e
experiências que dão corpo à
"tese" que o título expressa.
Desse modo, "Tudo É Relativo" escapa de chover no molhado ao se interessar por casos,
anedotas e experiências-limite,
como o de uma jovem dinamarquesa vítima de um câncer no
seio e obrigada a enfrentar cirurgias e efeitos colaterais da
quimioterapia. Tais momentos,
contudo, levam o documentário a resvalar num voyeurismo
de choque, um tanto arriscadamente próximo de um reality
show sobre misérias humanas.
Entre as situações, Krogh intercala quadros com encenações de tipos que ilustram tendências humanas, como os vícios, num efeito semelhante ao
que o sueco Roy Andersson
adota em "Vocês, os Vivos", ficção produzida um ano antes.
Com esses recursos, "Tudo É
Relativo" persegue uma visão
caleidoscópica, que garante
que o filme cumpra sua intenção de dar um retrato, fragmentário e superficial, da diversidade humana.
Avaliação: bom
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