São Paulo, quinta-feira, 26 de março de 2009

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Crítica/"É Tudo Verdade"

"Tudo É Relativo" faz bom retrato fragmentário da diversidade humana

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

O ganho de atenção conquistado e consolidado pelo formato documentário em anos recentes decorre, em parte, de sua capacidade em cavar histórias e de apresentá-las com a força da novidade. A proposta da dinamarquesa Mikala Krogh em "Tudo É Relativo" encontra nisso sua diferença e seu limite.
O projeto da diretora é capturar a diversidade humana na perspectiva dos sentimentos considerados mais comuns, como amor, raiva, felicidade e devoção. Se, de um lado, tais emoções nos caracterizam como humanos, isso não impede que haja múltiplas formas de expressão dos afetos e dos sentimentos de acordo com diferenças étnicas e culturais. Ou seja, o que vemos em suas imagens é o perspectivismo que saberes como a antropologia foram pioneiros em demonstrar.
Como a diretora parece ciente de que não é preciso reinventar a roda, pode se dedicar a captar exemplos do relativismo que propõe no título. Ao percorrer lugares tão diversos como a Dinamarca, Moçambique, Tailândia, EUA, Japão e Dubai em busca da dessemelhança humana, o que ela consegue é registrar pequenas histórias e experiências que dão corpo à "tese" que o título expressa.
Desse modo, "Tudo É Relativo" escapa de chover no molhado ao se interessar por casos, anedotas e experiências-limite, como o de uma jovem dinamarquesa vítima de um câncer no seio e obrigada a enfrentar cirurgias e efeitos colaterais da quimioterapia. Tais momentos, contudo, levam o documentário a resvalar num voyeurismo de choque, um tanto arriscadamente próximo de um reality show sobre misérias humanas.
Entre as situações, Krogh intercala quadros com encenações de tipos que ilustram tendências humanas, como os vícios, num efeito semelhante ao que o sueco Roy Andersson adota em "Vocês, os Vivos", ficção produzida um ano antes.
Com esses recursos, "Tudo É Relativo" persegue uma visão caleidoscópica, que garante que o filme cumpra sua intenção de dar um retrato, fragmentário e superficial, da diversidade humana.


Avaliação: bom


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